É fato: uma ida só não é suficiente para o visitante conseguir contemplar, com toda a concentração que a tarefa exige, a potência do acervo que o Instituto Inhotim abarca. A boa notícia é que, a partir deste sábado, os apreciadores da arte contemporânea terão ainda mais obras para colocar no rol de atrações a serem conferidas.
Já de pronto, uma delas se destaca não só pela assinatura que carrega por trás, como também pela magnitude: trata-se da maior obra já construída de Robert Irwin, que, não bastasse, fica localizada em uma nova área, até então ainda não aberta à visitação. Corresponde ao ponto mais alto do terreno da instituição próximo ao “Beam Drop”, de Chris Burden, e com vista para a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Curador associado do Inhotim, Douglas de Freitas conta que a obra foi adquirida pelo instituto há cinco anos. “Na verdade, compramos no projeto e, desde então, passamos a tratar os detalhes. Irwin está com 91 anos e mora na Califórnia. O estúdio responsável pela construção, por sua vez, fica em Seattle. É uma obra que exigiu um estudo de engenharia muito complexo para estar em pé, e o Robert aprovou todos os detalhes, inclusive o que seria usado no entorno. Entre pedras, cascalho de minério e grama, ele optou pela última, que se ajusta às poucas árvores próximas”, explica. A obra tem 6,3 m de altura por 14,6 m de diâmetro.
O pavilhão de Claudia Andujar recebe a videoinstalação “Yano-A”, de autoria compartilhada entre a fotógrafa, Gisela Motta e Leandro Lima. “Eles assinam como um trio. Pegaram uma série de fotos dessa maloca Yanomami, à beira do rio Catromani, pegando fogo – vale lembrar que essa queimada de uma casa comunitária (“shabono”, lugar de convivência e de proteção) é, na cultura deles, um rito de passagem, muito simbólico, que evoca a transcendência, a mudança. Aqui, com o auxílio de projetores, um aquário, filtro, parece que está viva, novamente em chamas. Transmite uma ideia de suspensão de tempo, algo que queima eternamente”, esclarece o curador.
Exposições temporárias
Na galeria Mata, uma das quatro do Inhotim que abrigam exposições temporárias, o público poderá conferir trabalhos de artistas como Alexandre da Cunha, Marcius Galan e Iran do Espírito Santo. “Aqui você tem, por exemplo, uma réplica perfeita de um barril de petróleo, um objeto de certa forma incorporado ao cotidiano e, ao mesmo tempo, de viés econômico e político”, analisa Freitas. “Ou uma máquina que transporta pó de mármore, que remete à passagem do tempo e, ainda, faz referência a essa matéria-prima tão atrelada ao universo da escultura”, prossegue ele.
Restauro
Não bastasse, três obras emblemáticas serão reabertas ao público. Caso de “Narcissus Garden”, da japonesa Yayoi Kusama. “Veja, Inhotim já está aberto ao público há 13 anos. E a questão do restauro entra no bojo da missão de uma instituição afim, que é a de não só exibir, como se assegurar da manutenção de um padrão de conservação para garantir a sua preservação. No caso da obra de Kusama, as esferas, por exemplo, foram polidas, mas teve também um trabalho de restauro no prédio em geral”, explica Freitas.
Outra obra que é reaberta agora é a galeria “True Rouge”, de Tunga. “Um dos trabalhos feitos aqui foi a limpeza dos vidros. Parece simples, mas influencia de maneira marcante (a apreciação da obra)”.
A terceira obra no recorte das restauradas é “De Lama Lâmina”, de Matthew Barney. “Essa obra tem, por exemplo, plástico, que, com o tempo, resseca, acaba craquelando. No curso do restauro, a equipe do artista veio três vezes ao Brasil instruir a do Inhotim, para que a obra voltasse a ter as características de quando foi inaugurada, há dez anos”, pontua Freitas.
Natureza
No que tange ao Jardim Botânico, o Inhotim inaugura um jardim poético, o “Sombra e Água Fresca”, que, com 32 mil metros quadrados, é o maior do instituto.
Projetos
Para Antonio Grassi, diretor-presidente do Inhotim, as inaugurações e as restaurações chegam como alvíssaras para um ano que, diz ele, “não foi particularmente fácil”, referindo-se, principalmente, à tragédia da mina de Córrego do Feijão.
“Imediatamente houve uma diminuição do número de visitantes, patamar que conseguimos restabelecer por meio de uma série de iniciativas, a começar por uma reestruturação institucional, como a vinda da Renata Bittencourt (assumindo o cargo de diretora executiva), que se empenhou em fortalecer ainda mais os laços com a comunidade”, diz.
Aliás, Renata lembra que atualmente o Inhotim é o segundo maior empregador em Brumadinho, atrás apenas da prefeitura. Ela também ressalta o fato de o Instituto ter feito um cadastro de pessoas da comunidade interessadas em ter acesso gratuito ao Inhotim todos os dias da semana.
Grassi conta, ainda, que a programação 2020 já começou a ser traçada – na verdade, ela terá início no fim deste ano. É que o Inhotim terá, pela primeira vez, um réveillon, em parceria com o MECA. O festival terá uma nova edição começando no dia 28 de dezembro. “Também já acertamos, com o MECA, outras duas edições, uma em junho, e a outra, para o réveillon do ano que vem”, adianta ele.
Grassi também anunciou uma parceria com o projeto Sempre um Papo, tocado pelo jornalista Afonso Borges.