Livros de artista ganham exposição exclusiva no Palácio das Artes

Um livro que ultrapassa as fronteiras de seu formato físico e conceitual, ora se aproximando da poesia concreta, ora da xilogravura. Pode ser sem nenhum texto, apenas com uma projétil atravessando as páginas. As intervenções artísticas nas suas fronteiras, principalmente, com literatura e design estão na mostra “Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural”, que abre nesta quarta-feira (10) na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard.

“A ideia é perceber que o artista plástico também pode ser lido como esse sujeito que pensa o espaço do livro. Ele edita, diagrama, desenha, produz, pensa o formato. Muitas vezes, pode ser num livro que não tem cola, que não tem cadernos. Há também os livros abertos que viram escultura. É uma constante transformação”, explica o curador, Felipe Scovino.

Ao todo, estão expostas 46 obras (sendo 12 inéditas) que englobam oito décadas de produção brasileira desse tipo de arte, divididas em seis núcleos conceituais. O foco da mostra é a transição entre o moderno e o contemporâneo – período que começa na década de 60 e prossegue até a atualidade.

“A ideia foi fugir um pouco do que se espera sobre um livro de artista: pensar, por exemplo, a associação dos artistas plásticos com o mercado editorial, a relação deles com o design, com a literatura, pensar que os artistas plásticos no Brasil, desde o início do século XX até hoje, têm uma relação estreita com a produção de capas, de ilustrações, que, no fim das contas, são modos de sobrevivência. Há um núcleo na exposição, por exemplo, que são os álbuns de gravura, ou seja, de conteúdo pensado pelos artistas que serviram não só como um campo de experimentação para eles, que são pintores, desenhistas, escultores, mas também como uma forma de eles se manterem, de continuarem vivendo, digamos assim”, diz Scovino.

Relações

O objetivo do curador foi tornar possível, dessa forma, que o público percebesse o livro do artista plástico em seus diálogos, como, por exemplo, “na relação muito próxima de alguns desses com a política, com o estado atual do Brasil e do mundo. Você tem exemplos como os trabalhos da Lais Myrrha, da Aline Motta, eventualmente do Waltercio Caldas, que nos ajudam a perceber poeticamente a situação do país”, diz.

A mostra já passou por três cidades (São Paulo, Ribeirão Preto e Curitiba), mas com recortes distintos. Por aqui, houve o direcionamento para contemplar artistas mineiros ou que vivem no Estado. Além disso, a própria logística envolvida nesse tipo da mostra demandou alterações nas obras, explica Scovino. “Pelo fato de essa exposição já estar em cartaz há quatro anos, para BH, alguns livros foram substituídos por outros (pela questão de conservação)”, conta. A exposição marca o retorno de parcerias entre o Instituto Itaú Cultural e a Fundação Clóvis Salgado, algo que não acontecia havia três anos. “É voltar para uma casa onde sempre fomos bem acolhidos. Nossa proposta é estabelecer diálogos com cada cidade, por isso fizemos um recorte que tem uma ressonância com BH, que gera identificação”, explica a gerente de artes visuais do Itaú Cultural, Sofia Fan.

Detalhes

Ineditismo. Das 46 obras expostas, 12 delas são inéditas. Há conteúdo produzido por artistas como Regina Silveira (“Gravuras do Álbum Anamorfas”); Calasans Neto e Vinicius de Moraes (“Das Baleias”); Aline Motta (“Escravos de Jó”); Waltercio Caldas (“De Arte” e “A Simétrica”); e Marcelo Silveira (“Caixa de Retratos”).

Agenda

O quê. ‘Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural’.

Onde. Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro).

Quando. De 10 a 29/9.

Quanto. Entrada gratuita.