Em “Antes da Coisa Toda Começar”, uma figura destoa entre os atores que o público cativo do Armazém acostumou-se a acompanhar ao longo dos anos. Rosana Stavis, atriz curitibana, entrou no lugar de Simone Mazzer, afastada para seguir carreira musical. Mais do que mera “substituta”, porém, Rosana se apropriou da personagem – Léa, uma cantora afundada na depressão e que se recupera de uma tentativa de suicídio – e se tornou um dos destaques do espetáculo. O auge energético vem de seus vocais poderosos.

Uma entrada como essa, depois da estreia, poderia gerar complicações, mas não parece ter sido o caso. “Foi uma tranquilidade absoluta”, diz o diretor Paulo de Moraes. “Era um momento difícil, com a saída da Simone, e eu pensei na Rosana imediatamente. Ela tem postura de grupo e um entendimento muito nítido da personagem e do funcionamento do espetáculo”, elogia.

Experiência. Propensa a aceitar o convite antes mesmo de avaliar as condições, por ser “f㔠das atrizes do grupo, Rosana já havia interpretado uma mulher deprimida em “Psicose 4:48”, dirigida pelo marido, Marcos Damaceno. “Não fiz uma cópia. Pude contribuir levando minha experiência e, do outro lado, estou aprendendo bastante com essa estrutura de companhia maior”, diz. Na “troca”, ela trouxe a concentração na partitura do texto (foco da pesquisa de linguagem que realiza com Damaceno) e absorveu o trabalho corporal do Armazém.

“O processo do Paulo é bem longo, e as pessoas produzem muita coisa para que ele acabe definindo, com o elenco, de que maneira vai usar em cena. Comigo, como havia pouco tempo, eu disse: ‘fale o que quiser, se estiver uma bosta, não fique com melindre.’ Ele foi bem direto e pontual. Ensaiei pouquíssimo e acabei ajustando nas apresentações. Ele tem pulso firme para conduzir uma companhia do tamanho do Armazém”, comenta Rosana.

Adaptada ao grupo, a atriz se propôs a dar um trabalho de aquecimento vocal para os outros atores antes de cada apresentação começar – assim como a colega Patrícia Selonk trabalha a parte corporal, aplicando sua experiência como bailarina.

Embora sua atuação em “Psicose 4:48” e em outros espetáculos feitos com Marcos Damaceno, como “Antes do Fim”, já tenha rendido a Rosana reconhecimento diante de plateias de diversas regiões do país, é ao lado do Armazém que a atriz experimenta a repercussão nacional.

“O Armazém causa no público um frisson, um levantar de emoções e arroubos!”, observa, exclamativa.

O que a crítica já disse sobre a peça

“É uma travessia no abismo da crise da representação dramática. Sem pretender redenções, procura trilhas possíveis para continuar narrando algo. Ainda que seja o irredutível embate entre o vivo e o morto”. Luiz Fernando Ramos, da “Folha de S. Paulo”.

“Uma fala poética cujo tema central é um isolamento do criador, apartado da vida e das emoções cotidianas em razão de uma sensibilidade exasperada. É um assunto que a arte de vanguarda, de modo geral, dá por sabido ao elevar ao primeiro plano os dilemas da formalização”. Mariângela Alves de Lima, do “Estado de S. Paulo”.

“Incorpora relâmpagos de montagens anteriores. Quedas, ritos de iniciação, místicas pessoais que, afinal, constituem as veias de um coletivo”. Valmir Santos, crítico do site Teatro Jornal