Entre o aparecimento de Jorge Ben Jor na música brasileira e o estouro de Iza com o single “Pesadão”, passaram-se 54 anos. Mas, nos shows do Monobloco, essa distância temporal simplesmente desaparece. Tudo porque a música de ambos converge no repertório do grupo que promove “um passeio pela canção brasileira de hoje e de antigamente”, segundo Celso Alvim, um dos fundadores da iniciativa que, 20 anos atrás, despontava tendo como objetivo principal resgatar o Carnaval de rua do Rio de Janeiro. 

“Nós refletimos a mudança que aconteceu com a própria música brasileira, nos conectando com o público jovem e renovando o repertório. Culturalmente, o Carnaval de rua, atualmente, está muito mais diverso e atrativo para todo mundo. A essência de aproximar as pessoas por meio da música permanece”, observa Alvim, que entrega a presença de sucessos de Tim Maia, Alceu Valença, Lulu Santos, Vitor Kley e do inovador funk 150 bpm (velocidade das batidas por minuto) no atual roteiro da trupe. 

Nesta sexta (24), o bloco promove um ensaio no Distrital com a bateria local, a fim de aquecer as turbinas para o desfile que acontece no dia 25 de fevereiro. A aproximação com o Carnaval de BH foi intermediada por Gustavo Caetano, criador do Samba Queixinho. “Encontramos aqui um Carnaval muito variado, anarquista, que ocupou um espaço na marra, teve que brigar com a prefeitura e trouxe propostas musicais muito interessantes e diferentes”, elogia o entrevistado, que aproveita o ensejo para ratificar o significado da folia. 

“Queiram ou não, ocupar a rua é um ato de liberdade. Apesar de algumas pessoas, que querem censurar o Carnaval, ele é a expressão mais livre, democrática e plural do povo brasileiro”, exalta o músico, diretor e maestro das três baterias do Monobloco. Vencedora do Carnaval do Rio com um enredo que exaltava a luta de Marielle Franco, vereadora assassinada há mais de um ano em crime ainda não solucionado, a Estação Primeira de Mangueira é usada como exemplo.

“O desfile da escola foi um tapa na cara dessa política que demoniza a cultura e os artistas”, dispara. Alvim ainda faz questão de ressaltar o caráter pedagógico do Monobloco, com oficinas que “ensinam as pessoas a batucarem” – e revela que pretende estender a empreitada. “Queremos ser uma plataforma que apoia iniciativas de outras pessoas e coletivos, como uma rede conectada”, conclui.

Serviço. Ensaio do Monobloco, nesta sexta (24), às 20h, no Distrital (rua Opala, S/N, Cruzeiro). A partir de R$ 20.