A obra de Nelson Rodrigues (1912-1980) é a mais adaptada no cinema brasileiro. Desde 1950, somam-se pelo menos 23 longas-metragens a partir de peças do dramaturgo ou com diálogos escritos por ele.
A "estreia" de Nelson no cinema se deu nove anos após sua primeira peça ser encenada no Rio de Janeiro. "Somos Dois" (1950) teve direção do irmão do escritor, Milton Rodrigues, que convidou o parente para fazer o argumento do filme.

A primeira adaptação de fato de uma obra de Nelson para as telas ironicamente não é nem uma peça de teatro nem foi "assinada" por ele. "Meu Destino É Pecar" (1952), que o argentino Manuel Pelufo fez para a companhia Maristela, em São Paulo, se inspirava num folhetim em prosa de Nelson publicado em 1944 e no qual ele usou o pseudônimo Suzana Flag.

A "primeira onda rodriguiana no cinema", como definiu o professor e crítico Ismail Xavier no livro "O Olhar e a Cena" (Cosac Naify, 2003), se deu entre 1962 e 1966. Foram seis filmes no período, incluindo trabalhos de forte repercussão, vários deles com presença de Jece Valadão como ator, produtor ou as duas coisas - como "Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos, e "Bonitinha mas Ordinária", de J.P. de Carvalho. Foi a época ainda de "A Falecida", de Leon Hirszman, com Fernanda Montenegro estreando nas telas.

A partir de 1978, veio a "segunda onda", somando sete filmes até 1990, entre eles os trabalhos de Arnaldo Jabor ("Toda Nudez Será Castigada" e "O Casamento"), Braz Chediak ("Perdoa-me por Me Traíres" e "Bonitinha mas Ordinária") e Neville D’Almeida ("Os Sete Gatinhos" e "A Dama do Lotação"), entre outros.

Nos anos 1990 e 2000, a empolgação de adaptar Nelson Rodrigues para o cinema arrefeceu. São apenas quatro filmes entre 1998 e 2009, todos muito pouco expressivos - quem, por exemplo, lembra-se ou sequer assistiu ao malfadado "Vestido de Noiva" (2006), dirigido pelo filho do escritor, Joffre Rodrigues?
Fora isso, um dos títulos recentes - uma terceira versão de "Bonitinha mas Ordinária", a cargo de Moacyr Góes - permanece inédito, apesar de estar pronto desde 2009.

Apesar de alguns bons títulos nessa filmografia rodriguiana, Ismail Xavier escreve em "O Olhar e a Cena" que "na adaptação de Nelson Rodrigues para o cinema, nem sempre o cineasta mostrou-se atento" ao que ele chama de "mistura de gêneros e referências", algo que seria uma das características essenciais presentes na obra teatral do autor.

Por outro lado, os filmes mais bem-sucedidos souberam "pôr em cena, com pertinência, os descompassos envolvendo a natureza do conflito vivido e o tom da representação".