Iniciativa da Fundação Guimarães Rosa, o projeto "Afro Brasileiro: (Re) Criando Nossas Raízes" nasceu de uma proposta em resgatar, reestruturar e difundir a oralidade e a cultura africana e afro-brasileira para as crianças.

E para alcançar tal objetivo, a instituição teve como suporte a experiência de uma senhora de Bom Despacho, no Centro-Oeste mineiro, preservadora da língua da Tabatinga, dialeto africano de origem Banto.

Segundo o publicitário Juliano Ziviani Pochmann, da Fundação Guimarães Rosa, a iniciativa partiu após outro projeto da instituição, também focado na cultura africana. "No projeto anterior, fizemos alguns estudos com a historiadora Kelly Cardozo e divulgamos o espetáculo ‘Fragmentos Afros da Dança Brasileira’ percorrendo 11 cidades do interior, e Bom Despacho foi a cidade pioneira. Ali, começou o novo projeto", conta ele.

Naquele momento, a instituição conheceu Maria Joaquina da Silva, moradora do município, carinhosamente conhecida como dona Fiota e "uma das poucas conhecedoras do dialeto Tabatinga", como afirma Pochmann. "A partir daí, pesquisadores e profissionais da fundação realizaram trabalhos fundamentados nas experiências de dona Fiota, descrevendo sua história de vida em oficinas, palestras e cartilhas para as crianças da comunidade".

Personagem definido, a instituição começou, então, a criar cartilhas didático-pedagógicas, denominadas "Contando Saberes: Histórias de Dona Fiota", desde 2007, ano de publicação do primeiro volume da cartilha.

Publicadas em 12 volumes, as cartilhas carregam em seu contexto aspectos fundamentais da cultura africana e afro-brasileira, com uma abordagem lúdica e divididas por temáticas diversas, como oralidade, ancestralidade, ritmos, culinária, medicina, entre outras.

"Inicialmente, o projeto foi aplicado para as crianças na Escola Estadual Martinho Fidélis, em Bom Despacho, mas também atingiu a instituições da rede pública de Belo Horizonte e Região Metropolitana", diz Juliano Pochmann.

Segundo ele, todo o conteúdo expresso nos livretos foram retirados de histórias vividas por dona Fiota. "Ela tem um vasto conhecimento da língua tabatinga e também da cultura africana e afro-brasileira. Sua contribuição é muito importante e o projeto é desenvolvido também em sua casa. Ela é uma funcionária da Fundação Guimarães Rosa".

Além de atender ao Sistema de Educação e Cultura na produção de materiais didático-pedagógicos, por trabalhar a temática afro nos conteúdos escolares, a obra pode ser utilizada pelas escolas como aplicação da lei federal de educação 10.639/2003, que obriga o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas redes de ensino público e privadas.

"Todo o projeto, além de resgatar, preservar e valorizar essa rica cultura e tradição, também tem o propósito de reduzir o preconceito nas escolas, contribuindo para que essas crianças cresçam sem discriminações raciais. A cultura afro vai sendo esquecida e tal ação enriquece muito a consciência das crianças", avalia Pochmann.

De acordo com ele, a instituição tem a iniciativa de ampliar as atividades do projeto, levando a ação para outros municípios mineiros, não ficando restrito a Bom Despacho, apesar das dificuldades das escolas e instituições. "A nossa meta é que várias instituições do Estado possam aderir ao projeto, a partir das cartilhas que criamos. É um material muito rico, lúdico e que mostra diversos aspectos da cultura africana e afro-brasileira", ressalta.


Os 12 volumes da série
"Contando Saberes: Histórias de Dona Fiota"
Vol. 1 - "Apresentação"
Vol. 2 - "África"
Vol. 3 - "Afro-Brasil"
Vol. 4 - "Beabá da Dona Fiota"
Vol. 5 - "Famílias Africana e Afro-Brasileira"
Vol. 6 - "Histórias sobre Pluralidade e Diversidade"
Vol. 7 - "Histórias sobre Ancestralidade e Religião"
Vol. 8 - "Ritmos Africanos e Afro-Brasileiros"
Vol. 9 - "Preconceito Racial"
Vol. 10 - "Medicina de Tradição"
Vol. 11 - "Culinária Africana e Afro-Brasileira"
Vol. 12 - "Matrizes Culturais Africanas e Afro-Brasileiras"