Entrevista

O escritor que sempre encontrou-se em Mozart

Mário Alves Coutinho, pesquisador

Por Laura Maria
Publicado em 01 de abril de 2017 | 03:00
 
 
 
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Nome que dispensa apresentações, transitando com propriedade pela literatura e pelo cinema, o mineiro lança neste sábado (1), na cidade, o livro “Aforismos Musicais”, construído a partir de textos escritos por ninguém menos que o austríaco W. A. Mozart (1756–1791).

O nome do livro é “Aforismos Musicais (Extraídos de sua Correspondência Completa)”. Qual é a origem da tradução dessas correspondências?

Basicamente, traduzi três livros. O principal foi a tradução francesa da versão em alemão de “Mozart Correspondance Complète”, edição de Geneviève Geffray. Mas traduzi alguns trechos também da versão inglesa “Letters of Mozart”, edição de Hans Mersmann, e de uma outra francesa de Henri de Curzon, o “Lettres de W. A. Mozart” (1888). Na tradução de uma frase, usei outra tradução, da revista “Nouvel Observateur”, número especial sobre os 250 anos de nascimento do compositor.

Como surgiu a ideia de reunir, em livro, esses aforismos?

A origem deste livro veio de um ensaio que publiquei no “Jornal da Tarde”, de São Paulo, no “Caderno de Sábado”, em 2001, em que já estavam publicados alguns dos aforismos de Mozart, por mim traduzidos. Recentemente, o editor de meu romance “A Explosão e o Suspiro” (2015), publicou esse ensaio e alguns aforismos no blog da editora. Depois, ele veio com uma ideia interessantíssima: fazer um livro, usando a organização do artigo jornalístico como base, mas traduzindo, obviamente, mais aforismos. Foi o que fiz, e aí está o resultado.

Um aforismo seria algo como uma sentença que explicita um pensamento em poucas palavras. Por que quis utilizar esse termo?

Achei que a tradução de cartas inteiras (ou até mesmo trechos de cartas) seria algo de pouco interesse ao leitor “comum”, não especializado. Daí, a escolha inicial, neste livro, foi reunir opiniões, ideias e sentimentos do autor sobre a mais variada gama de assuntos, em trechos necessariamente curtos, objetivos e diretos, quer dizer, aforismáticos.

Então, assim, torna-se possível, pois, ao chamado leitor comum desvendar nuanças da personalidade de Mozart?

Acredito que sim. Lá estão as diversas facetas do seu caráter: o menino-prodígio, que compunha sinfonias e era um virtuose do piano; o adulto brincalhão e até mesmo escatológico; o compositor genial; o compositor trágico, que morreu cedo; o compositor que lutou sua vida inteira para ser independente e não precisar dos patronos tradicionais, Igreja, Estado e nobreza. Um homem que teve de lutar muito para ter vida própria, como todo mundo, diante de um pai muito exigente. Acredito que está tudo no livro.

De que forma essa tradução pode contribuir para a literatura e para a música?

Para a música, acho que dá muitas informações a mais sobre este gênio que foi Wolfgang Amadeus Mozart, nos permitindo entender melhor sua obra. E, para a literatura, na introdução procuro mostrar que ele tinha um cuidado especial com tudo que escrevia e me pergunto se, além de músico, ele não poderia ser chamado também de escritor. Ou se essas duas coisas não iam juntas na sua obra.

O processo de curadoria dos textos foi todo seu?

Sim. Basicamente, editei o livro: escolhi os trechos, organizei-os, traduzi, escrevi uma introdução e as notas.

E como o conteúdo foi dividido?

Basicamente, o livro está dividido em três partes. A primeira é a introdução, na qual falo da vida e de alguns traços da obra de Mozart. Na segunda, o chamado coração do livro, temos os aforismos, quer dizer, as ideias dele sobre a vida, a morte, o amor, a religião, a música (a sua e a de outros compositores) etc. Na terceira parte, como li muito sobre Mozart, estão os aforismos sobre ele e de grandes escritores, músicos, maestros, pianistas etc. Estão lá: Goethe, Stendhal, Kierkegaard, Alejo Carpentier, Philippe Sollers, Joseph Haydn, Beethoven, Schubert Wagner, entre outros.

Mesmo antes do lançamento oficial (hoje), a obra foi disponibilizada pela internet, tendo esgotado a primeira edição, confere?

A editora (Editora Tipografia Musical) já providenciou a primeira reimpressão. Mas não se preocupem: não faltarão exemplares nem no lançamento, hoje, nem nas livrarias que o oferecem. Em Belo Horizonte, ele está nas boas casas do ramo, que são, basicamente, a Quixote, Scriptum e Crisálida.

O tradutor precisa ser uma espécie de ponte de passagem entre uma língua e outra. O que há de mais desafiante nisso?

São vários os desafios. O mais importante é trazer, para a língua de chegada, o tom e o estilo do autor na língua de origem. Acredito que tenha conseguido vencer tal desafio.

Já pensa nos próximos trabalhos?

Tenho um livro sobre o filme “Um Corpo que Cai”, que será lançado no segundo semestre. Também estou pesquisando para escrever, editar e traduzir um livro sobre Sebastian Bach.


Serviço

O lançamento acontece neste sábado (1), às 11h, na Livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). A entrada é franca.

 
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