O pianista Arnaldo Cohen celebra seus 70 anos com três apresentações com a Filarmônica de Minas Gerais, quinta (6) e sexta-feira (7), na Sala Minas Gerais; e sábado, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sua cidade natal. O músico, que mora nos Estados Unidos e chegou nesta terça-feira (4) ao Brasil, vai interpretar o “Concerto nº 3”, de Beethoven, com a orquestra que o recebeu há dez anos como primeiro solista. “Tive a honra de ser o primeiro pianista a tocar com essa excelente orquestra”, conta Cohen. “Tornou-se uma relação de amizade mútua que, espero, dure enquanto a vida permitir”.
O convite partiu do maestro Fabio Mechetti, regente da Filarmônica. “Ele propôs celebrar com música a ‘façanha’ dos meus 70 anos. Espero que eu toque como se tivesse 40 (risos)”, brinca o pianista, que sempre sonhou em fazer da música seu único caminho profissional. “Sou grato por ter uma vida digna como resultado exclusivamente do meu trabalho”, agradece ele ao analisar sua trajetória de sucesso. “Com esse único objetivo em mente, abandonei a Escola de Engenharia da UFRJ aos 19 anos e fui violinista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro por quatro anos”, revela.
Cohen escolheu o “3º Concerto”, de Beethoven, para comemorar seu aniversário por uma questão de afeto. “Esta foi a peça que toquei na final do Concurso Busoni, na Itália (em 1972, do qual foi vencedor), e que abriu as portas para o meu futuro profissional. Então, nada mais justo que prestar uma homenagem e um agradecimento ao querido Ludwig, ao torná-lo uma importante parte dessa celebração”, diz Cohen, que também já viveu na Europa.
Para o pianista, não é essencial viver fora do Brasil para ser um bom músico. No entanto, ele diz que o exterior é importante para desenvolver carreira na música clássica. “Com a tão decantada globalização, facilidade nas comunicações, internet e YouTube da vida, você viaja para onde quiser, ouve o que quiser, sem sair do quarto”, pontua. “Teoricamente, com talento, seriedade nos estudos e um bom professor, qualquer um pode se tornar um bom músico. Mas, se além disso, o objetivo for a conquista de um mercado de trabalho, sem dúvida o exterior é o melhor caminho”, afirma, antes de responder qual conselho daria aos iniciantes: “O grande pianista Arthur Rubinstein diria: ‘Sorte, sorte e sorte’. Eu diria: ‘Estudo, estudo e estudo’. Mas estudo correto. E depois, sorte, sorte e sorte”.
Cultura
Para que o Brasil possa impulsionar a profissão do músico, na opinião de Cohen, é preciso “que os governantes leiam mais sobre história”. Somente assim, segundo ele, haverá a conscientização da importância da cultura na formação de qualquer povo. “Ser culto é também ser ético. A curiosidade intelectual é uma das molas propulsoras do desenvolvimento da humanidade”, afirma. “Como brasileiro, gostaria que nossos líderes pensassem dessa forma, e quem sabe um dia o Brasil possa ser reconhecido não somente pela quantidade de soja exportada, já que nem o futebol nos engrandece mais…”, diz.
Apesar das dificuldades, Cohen afirma que há grandes músicos brasileiros e não vê muita diferença entre tocar aqui ou no exterior. “A música é uma linguagem universal. Temos músicos excelentes e orquestras do quilate da Filarmônica de Minas Gerais e da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Talvez o gostinho brasileiro seja mais saboroso”, analisa o pianista, que, no palco, sente a música e não só a interpreta. “Minha ‘obrigação’ é a de um piloto de um concorde emocional. E os passageiros são a plateia”.
Agenda
O quê
Arnaldo Cohen com a Filarmônica de Minas Gerais.
Quando
Quinta (6) e sexta (7), às 20h30.
Onde
Sala Minas Gerais (rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto).
Quanto
De R$ 25 a R$ 116.