Curitiba. Ela idealizou o projeto, enfrentou os meandros da produção, convidou sua parceira de cena e a diretora Cibele Forjaz para, juntas, estabelecerem um diálogo com “Mary Stuart”, de Schiller, no espetáculo “Rainhas – Duas Atrizes em Busca de um Coração”. Além de uma temporada muito bem-sucedida na capital paulista, Isabel Teixeira ainda foi premiada com o Shell deste ano, como a melhor atriz da temporada 2008 do teatro paulista. E olha que ela competia com atuações também consideradas primorosas, como a de Denise Fraga em “A Alma Boa de Setsuan”. De uma ponta a outra, Isabel Teixeira estava envolvida no processo de “Rainhas” e, coerentemente, vieram os louros da dedicação. “Isso acontece às vezes”, brinca Isabel, que, após se desligar da Cia. Livre, foi trabalhar com Enrique Diaz e sua Cia. dos Atores em “A Gaivota”. “Eu queria produzir meu próprio trabalho e, quando pensei o que montar, me veio logo o texto de ‘Mary Stuart’ na cabeça, que eu conhecia na tradução do Manuel Bandeira. Me fascina o quanto essa trama é simples e complexa ao mesmo tempo.

É a disputa de duas rainhas por um trono, mas com muitas camadas de conflitos implícitas”, diz. Desde o primeiro momento, Isabel sabia que não levaria a obra original de Schiller para os palcos. Afinal, foi motivada pela cena do encontro entre essas duas soberanas que Isabel decidiu contar essa história. Logo, só precisava de mais uma parceira de cena, no caso, Georgette Fadel. “Para mim, o que havia de seminal nessa obra do Schiller era o embate entre elas e foi nisso que focamos”, conta. Coube a ela e às parceiras de projeto assinar a ‘adaptação’ do texto. “Foi uma necessidade porque o dramaturgo que iria trabalhar conosco não poderia ficar na sala de ensaio todo dia, mas também foi uma atitude de coragem nossa”, reconhece. “A gente uniu a forma que cada uma tinha de fazer as coisas, fazíamos estudo de mesa do Schiller, líamos cena a cena, aí improvisávamos em cima delas, depois escrevíamos. Fomos criando e hoje podemos dizer que, além do espetáculo, temos um texto.”

Isabel afirma que não se preocupou com as possíveis críticas sobre a decisão de não montar a peça tal e qual o original. “Acho maravilhoso montar o original, como fizemos no ‘Bonde Chamado Desejo’, mas também acho interessante rasgar a página, atravessar as palavras do autor, ser afetada por elas e transformar em algo que seja verdadeiramente meu, mas que só existe porque me encontrei com esse autor”, afirma. A atriz volta a se apresentar em Curitiba após seis anos da vinda de “Um Bonde Chamado Desejo”. “E, como daquela vez, voltamos para o Teatro Paiol. O lugar mais adequado que poderia ter em Curitiba para contar a história dessas rainhas: uma torre.” Embora tenha concorrido a todos os prêmios que podia, “Rainhas”, segundo Isabel, ainda não foi finalizado. “Vai ficar ‘eternamente’ em construção. O dia que a gente falar ‘está acabado’, ele morre.”