Crítica

Quarto episódio de 'Game of Thrones' prova que série recusa rótulos

Na reta final, série segue a tendência de manipular enredo e personagens de forma a jogar com os espectadores

Por Etienne Jacintho
Publicado em 06 de maio de 2019 | 16:51
 
 
 
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O estratégico quarto episódio da oitava temporada de “Game of Thrones”, que foi ao ar no último domingo (5/5) na HBO, seguiu, de uma forma bastante radical, uma tendência que permeia a série ao longo de suas temporadas. A atração recusa rótulos seja de seus personagens, seja de seu enredo.

O público adora ser levado pelos roteiristas nessas ondas que despejam informações na beira-mar, depois as levam para o fundo do oceano e, quando menos se espera, elas retornam à superfície.

Jaime Lannister é um bom exemplo disso. Logo no primeiro episódio, todos aprendemos a odiá-lo, afinal, que tipo de monstro empurra uma criança de uma torre? Aos poucos, Jaime foi se redimindo. A redenção completa veio no segundo capítulo desta oitava temporada, quando nomeou Brienne de Tarth uma cavaleira. Quem não amou Jaime naquele momento e não acreditou que ele estava, sim, encantado por Brienne? Pois é, fomos todos enganados, manipulados pelos roteiristas. Sor Jaime voltou a ser vilão no momento em que confessou seus crimes a Brienne e a abandonou. Ele diz que é abominável e que fez tudo de ruim por Cersei.

Assim como Jaime, outros personagens já foram de vilões a heróis, no sentido mais maniqueísta possível, como Tyrion Lannister e Tormund, o gigante que nos divertiu tanto na noite de domingo. E o que dizer da Shae? Vê-la trair Tyrion por livre e espontânea maldade e ainda flagrá-la na cama com Tywin foi demais para qualquer espectador!

Alguns personagens caminharam o tempo todo entre o bem e o mal. Afinal, qual é o sentido desses conceitos? É válido fazer o mal para que um destino seja cumprido, como fez Melissandre, a Mulher Vermelha? Isso sem falar em Varys, que sempre agiu como um titereiro, manipulando reis, rainhas, conselheiros e lordes. Catelyn Stark, por exemplo, também jogou nesse time.

As aparências enganam

Mocinhas indefesas também se tornaram fortes e, se nas primeiras temporadas, os fãs apelidaram Sansa de Sonsa, o jogo mudou. Num jogo dos roteiristas, a bela garota apática começou a espalhar sementes para fazer florir o caminho de Jon Snow (ou dela própria?) rumo ao Trono de Ferro. Com a carinha de anjo, ela provavelmente tem a seu lado Varys, Tyrion, o Cão de Caça, Brienne e Arya, além dos seguidores de Jon Snow, no caso de uma rebelião contra a Mãe dos Dragões.  

E o que dizer de Brienne de Tarth? A gente acompanhou, neste episódio, a grande Brienne cair… de amor. Depois de lutar consigo mesma por tanto tempo para resistir ao charme de Jaime, ela sucumbe e se lasca. A cena em que ela suplica para ele ficar é inusitada e, por mais que pareça não combinar com a figura que foi construída de Brienne até agora, ela faz todo o sentido. Brienne aguenta qualquer pancada, mas pode sofrer de coração partido. Por quê, não?

A Mãe dos Dragões

Daenerys é um capítulo à parte. Sua escalada rumo ao poder, vencendo as adversidades, nos fez adorá-la. A construção da personagem é tão boa que o público foi comprando a ideia de uma rainha justa e boa que mal deu importância às pequenas loucurinhas da loira. Foi um pouco chocante vê-la vibrar com a morte do irmão lá no começo da série - uma morte horrível, diga-se, pelas mãos do Khal Drogo. De lá para cá, apesar de lidar com muitas adversidades, ela foi implacável com todos que a contrariaram e nunca pareceu se importar em ver o sangue inimigo jorrar.

Hoje, após ver o quarto capítulo desta oitava temporada, duvido que algum espectador confie a vida a Daenerys. O olhar que ela fez enquanto observava Jon Snow e Tormund foi de dar medo. No fim, Dany pode se tornar a louca piromaníaca a exemplo de seu pai. Resta saber se seu destino será o mesmo do Rei Louco ou se ela conseguirá domar seus instintos. Jon Snow que se cuide!

Feminista?

Em suas últimas temporadas, “Game of Thrones” também tem sido vista como uma atração bem feminista, colocando em destaque as personagens mulheres, mesmo em uma época em que elas eram praticamente invisíveis. Junto com Cersei, Arya, Daenerys, Brienne e agora Sansa mostraram suas fortalezas.

De garotinha a heroína, o ato heróico de Arya foi brindado por muitos marmanjos. Mais tarde, quando foi pedida em casamento por Gendry em cena para lá de romântica, a garota surpreendeu a todos e disse um sonoro “não”. Ela afirma que não nasceu para isso e sai em seu cavalo, provavelmente, à caça de um nome de sua lista mortal: Cersei.  

Mas não nos enganemos! A conversa de Tyrion e Varys faz a mulherada cair na real do patriarcado e da sociedade ultramachista da época. No caso de um embate entre os Targaryen, os súditos escolheriam Jon, não só pelo carisma. Tyrion deixa bem claro que, neste jogo de poder, é importante ter um pênis. Será?

 

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