O cinema faz parte da vida de Rodrigo Teixeira desde os anos 80, quando começou a frequentar o Cine Leblon, no Rio de Janeiro, que ficava em frente à casa de sua avó. “Vi todos os filmes que você pode imaginar nesse cinema”, conta Teixeira, que, hoje, é um produtor notório no cenário do cinema independente do Brasil e do exterior. Carioca radicado em São Paulo, Teixeira conquistou seu espaço neste universo pelos flancos, comprando direitos de obras e ganhando a confiança da indústria cinematográfica. Quem passar por um cinema hoje vai encontrar o nome da RT Features, produtora de Teixeira, no cartaz do filme “Ad Astra”, com Brad Pitt. 

“Sempre fui cinéfilo, e minha cinefilia me carregou para lugares a que nunca imaginei que chegaria. Sempre amei o (Martin) Scorsese e, em nenhuma esfera, sonhei em trabalhar com ele. Hoje trabalho”, diz Teixeira, que coproduz com o norte-americano “Ciganos da Ciambra”, de Jonas Carpignano; “Port Authority”, de Danielle Lessovitz; e “Murina”, de Antoneta Alamat Kusijanovic. 

Em breve, o nome do produtor aparecerá em destaque no início de “A Vida Invisível”, filme dirigido por Karim Aïnouz, indicado para tentar uma vaga no Oscar. “Li o livro (‘A Vida Invisível de Eurídice Gusmão’, de Martha Batalha), comprei os direitos e chamei o Karim, porque, enquanto eu lia, visualizei um filme ou uma série”, lembra Teixeira, que não descarta a ideia de produzir séries também e não só filmes. Ainda mais agora, que ele conseguiu a parceria da Amazon para promover “A Vida Invisível” internacionalmente. 

Os executivos da Amazon e eu procuramos projetos para tocarmos juntos há anos”, conta o produtor. “Eles viram ‘A Vida Invisível’ em Cannes (onde o filme venceu a mostra ‘Um Certo Olhar’) e amaram. Depois de uma negociação de três meses, decidiram levar o filme, e vamos fazer um trabalho forte para qualificá-lo para o Oscar”, afirma.

Apesar da parceria com a Amazon, Teixeira ainda vê com cautela a entrada das plataformas digitais no mundo do cinema. “Vejo o streaming como uma plataforma válida, mas o cinema que faço, e valorizo, consigo colocar em salas de cinema”, diz. “Estamos no meio de uma revolução midiática, e ninguém sabe qual é a mídia do futuro. Porém, sou contra acabar com as salas de cinema e só ter vídeo por demanda”, atesta Teixeira.

Para ele, o método de oferta de produtos da Netflix presta um “desserviço” na formação de um público de audiovisual. “Ela te submete a uma programação sem curadoria alguma e aponta filmes via algorítimos para um público que tem preguiça de escolher o que vai ver”, fala Teixeira.

Entre os filmes que a RT Features produziu está um dos títulos mais badalados de 2018, “Me Chame pelo Seu Nome”, de Luca Guadagnino. No Brasil, ele assina os filmes de Gabriela Amaral Almeida (“O Animal Cordial”, “A Sombra do Pai” e “Cadeira Escondida”, ainda em produção), “Heleno”, de José Henrique Fonseca; e “Alemão”, de José Eduardo Belmonte – que tem sequência a caminho –; entre outros. 

Parceria com os mineiros

Apesar de “Ad Astra” marcar a entrada da produtora RT Features em Hollywood, Rodrigo Teixeira não pensa em deixar o cinema brasileiro em segundo plano. Durante a mostra CineBH, na semana retrasada, ele anunciou a parceria com a Filmes de Plástico com “Vicentina Pede Desculpas”, longa cujo roteiro e direção são de Gabriel Martins. “Acabamos de assinar contrato de coprodução e vou trabalhar para rodar o filme no ano que vem, com recursos privados”, fala. “Ainda tem muita coisa para fazer”. 

Para o produtor, o cinema brasileiro hoje tem muitos nomes despontando. “Antes, só se falava em Walter Salles, Fernando Meirelles e Karim Aïnouz. Hoje, o cenário mudou”, afirma o produtor. Só em Cannes, o Brasil foi destaque com “A Vida Invisível”, de Aïnouz, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e “Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou...”, de Bárbara Paz. O sucesso internacional, porém, nem sempre estimula o público brasileiro. 

“O espectador brasileiro precisa ser educado para assistir ao cinema brasileiro. Ele tem o acesso, mas não vê”, afirma Teixeira. “O meio de massa que definiu o audiovisual brasileiro foi a TV. É preciso mudar o hábito de consumo e fazer uma formação de plateia mesmo”, defende o produtor, que quer diversificar seus negócios e está pensando em abrir uma distribuidora brasileira.