“Titanium” foi lançado no fim de outubro, mas a história do terceiro disco da paulistana Tita Lima tem algumas reviravoltas e realmente começa em 2013, quando ela deu início ao processo de gravação. De lá pra cá, muita coisa aconteceu: a mudança de São Paulo para os Estados Unidos, a morte do produtor Miranda, responsável pelo álbum, em março de 2018, e um gravíssimo acidente sofrido por ela em novembro de 2015, quando foi atropelada por um Cadillac na Sunset Boulevard, em Los Angeles, onde mora.
Na montanha-russa que foi esse período, Tita conseguiu fazer um disco que tem referências clássicas e contemporâneas, e isso soa extremamente pop – e aqui não há nenhuma insinuação pejorativa. Mesclando elementos do eletrônico, do rock e do reggae, a cantora e compositora conseguiu dar uma identidade ao álbum e fazer com que as canções, mesmo algumas tão diferentes entre si, não eliminassem a identidade umas das outras. O som de “Titanium” está longe de ser monótono: se, por vezes, cai em uma balada simples, em outras, entra numa boate escura, quase sombria, dark, ao mesmo tempo em que parece brincar com sons de videogame.
O disco, que traz Tita Lima cantando em português, inglês e espanhol, “foi 70% feito no Brasil”, como ela diz. Após a mixagem e a masterização nos Estados Unidos, coube aos produtores Alexandre Bursztyn e Peter Pedro finalizarem o produto. “Depois que o Miranda faleceu, eles me ajudaram a selar tudo, dar os toques finais”, explica a cantora, que planeja vir ao Brasil em maio para fazer shows de divulgação do disco – o que já ocorreu nos Estados Unidos.
Tita experimentou compor em inglês, novidade em sua carreira. Dessa safra, saíram “Bittersweet”, uma balada que começa com ares de Manu Chao e depois cai em Devendra Banhart, e a pop dançante “Go Beyond”. O blues “Você Sabe Muito Bem o que Me Resta”, versão da original de Saulo Duarte e Daniel Groove, é um dos pontos altos do disco. “Olhar o tempo ajuda a esperar/ Porque se você vem e não se apressa/ Me sobram versos triste para cantar”, diz a letra.
Sem drama. Tita é filha do produtor Liminha, ex-baixista dos Mutantes. Sem grande estardalhaço, ponto positivo para a cantora, ele aparece nas guitarras de “Cais” e na composição de “El Amor del Perro por la Paloma”, uma brincadeira sobre um cachorro que sonha em ter asas para alcançar uma pomba.
Sobre essa relação, ela diz que sente uma admiração e um respeito natural pela trajetória do pai, mas também que há um limite saudável entre o trabalho de ambos: “Se ele me dá uma música, ele manda a base, e eu escrevo em cima. Tocar com ele é muito astral, mas meu pai não produz porque temos algumas incompatibilidades que são da personalidade de cada um”, pontua.
“Titanium”. O disco, que já teve show de lançamento nos Estados Unidos e está nas plataformas digitais, tem 11 faixas e deve ganhar edição em vinil em 2020