Os sons atravessam as paredes e invadem as salas: violino, violão, piano, sopros e percussões se mesclam em uma ampla massa musical. O fenômeno, marca das três instituições, revela características que as aproximam: a precariedade estrutural convive diariamente com a volúpia do aprendizado. Se, por um lado, obras foram interrompidas pela ausência de verbas, a qualidade e o interesse de alunos e professores são exaltadas em uníssono.

As escolas de música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), embora públicas e mantidas com recursos próprios e advindos do Tesouro Nacional, apresentam objetivos e propostas diferentes. Em comum, a matéria-prima que encanta a um público cada vez mais abrangente: música, seja ela erudita ou popular.

“O que mais me emociona é a diversidade. Antigamente, o ensino era reservado para aqueles que tinham condições (financeiras) de ter uma formação pregressa, mas, com as cotas, isso mudou”, constata Cecília Nazaré de Lima, professora do departamento de Teoria Geral da Música da UFMG.

Fundada em 1925, a escola oferta, atualmente, cursos de bacharelado, licenciatura, mestrado e doutorado, que abarcam instrumentos que vão dos usuais piano e violão a oboé, fagote e harpa. Outra novidade fresquinha são as inclusões da musicoterapia, de cursos de extensão voltados para a terceira idade e do Centro de Musicalização Infantil, que recebe bebês e crianças.

O perfil predominante, no entanto, ainda é o de jovens entre 18 e 25 anos. “O músico hoje se decide mais cedo pela profissão. Muitos já trabalham com música e vêm buscar o aperfeiçoamento”, destaca Cecília. É esse o caso de João Morales, 24, estudante de violão erudito. “Além de tocar música erudita, participo de grupos de choro e seresta, mas meu grande objetivo é tentar o mestrado e seguir a carreira acadêmica”, declara Morales, fã do compositor alemão Johann Sebastian Bach e do violonista inglês Julian Bream.

Mulheres. O que vem mudando também é a presença feminina. Em 2009, elas respondiam por 23% do número de alunos. Neste 2018, bateram o recorde na história da instituição, chegando a ocupar 34% das vagas. Apesar de manter certa tradição de procurar principalmente os cursos de canto e piano, elas já se fazem notar em espaços ainda dominados por homens, tocando sopros, como trompete e trombone, e baixo acústico. O fenômeno não é privilégio da UFMG, já que o mesmo se verifica na UEMG e no Cefart.

Laila Rodrigues, 20, por exemplo, optou pelo oboé. Ela descobriu o instrumento por acaso, quando fazia musicalização infantil na UEMG, e, durante as aulas de flauta doce, a professora pediu para uma aluna do curso de bacharelado de oboé fazer uma apresentação. “Eu tinha que escolher algum instrumento. Não sabia que era difícil. Gostei do som e fui atrás”, conta a estudante, que teve o incentivo do pai, músico não profissional.

Já Ana Rafaela, 14, estudante de flauta do Cefart, recebeu o apoio do tio. “Gostei muito do método de ensino. Eles não colocam a música como uma coisa chata. Eu realmente me encontrei aqui”, garante Ana, que elege “Lamentos”, de Pixinguinha, e o “Bolero” de Ravel como suas músicas prediletas, além de admirar Altamiro Carrilho.

 

Criação de cursos e grupos agita ensino musical na capital mineira

Voltado para a educação básica de música, o Cefart tem na agenda a criação de um curso técnico e quer ampliar de 190 para 500 suas vagas no próximo ano. “Existe um interesse por música no Brasil que é cultural, a despeito de todas as dificuldades”, acredita Vilmar Sousa, diretor do Cefart. Batizada Fundação Mineira de Arte (Fuma) em 1954, a UEMG passou a atender pelo nome atual em 1989 e hoje possui coral feminino, big band e grupos de camerata e choro formados por alunos da instituição. 

“Nossa escola cresceu muito, a dificuldade que temos hoje é de infraestrutura”, ratifica Rogério Bianchi, diretor da UEMG. Estudante de violão, Fábio Ramos, 21, veio de Pará de Minas realizar seu sonho na universidade. “Me inspiro no Fábio Zanon”, diz, citando o celebrado violonista paulista.