"Somos o novo alvo"

Mônica Waldvogel condena ataques às jornalistas: 'fanatismo e covardia'

Apresentadora participa, nesta quinta-feira, em BH, do lançamento do livro da socióloga Isabelle Anchieta no Sempre um Papo

Por Bruno Mateus
Publicado em 09 de março de 2020 | 18:30
 
 
 
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A jornalista Mônica Waldvogel atende o telefone na manhã desta segunda-feira (9). São 10h03, e a queda histórica de 24% na cotação internacional do petróleo, devido à guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, e o consequente furacão causado nas bolsas de valores mundo afora já preenchem as pautas do dia da apresentadora do canal de TV paga GloboNews. Apesar de atarefada, ela não se nega a conceder a entrevista ao Magazine naquele momento mesmo. As horas passam voando na vida de Mônica, que, por conta da profissão, consome informações a todo momento – e o tempo é sempre corrido. 

Em uma brecha na agenda, Mônica estará em Belo Horizonte nesta quinta-feira. Ela e a socióloga e escritora Isabelle Anchieta, que lança a trilogia de livros “Imagens da Mulher no Ocidente”, participam de um debate no projeto Sempre um Papo. O encontro, claro, vai girar em torno de questões do feminino. 

Mônica comemora a oportunidade de participar do lançamento da obra da socióloga belo-horizontina sobre a representação da mulher no Ocidente ao longo dos séculos. As duas, vale lembrar, se conheceram na capital mineira há alguns anos, e, desde então, a jornalista acompanhou um pouco da pesquisa da socióloga. “Fiquei encantada com a visão dela – erudita, sofisticada e, ao mesmo tempo, compreensível”, elogia Mônica. 

Quando o tema da conversa envereda para a mulher no jornalismo, profissão à qual ela se dedica diariamente há 35 anos, e os ataques que profissionais da imprensa vêm sofrendo no Brasil ultimamente, o bom humor de Mônica dá lugar à indignação. “É um momento de turbulência. E nós, mulheres jornalistas, somos o novo alvo”, diz a apresentadora, em referência aos ataques proferidos por parte dos apoiadores do atual governo do país. 

“O intuito é desencorajar e nos vulnerabilizar com ofensas sexuais, mas não é isso que está acontecendo. As jornalistas são resilientes, combativas, se uniram e deram força umas para as outras. Não sei de nenhum caso de mulher que se arrependeu de ter publicado isso ou aquilo. Eles estão condenados ao absoluto fracasso”, completa.

Em março de 2019, Mônica Waldvogel chegou a ser agredida verbalmente. Ela estava em um concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), e o espetáculo teve de ser interrompido: “Foi horrível, os músicos ficaram furiosos. Ele veio me fazer uma cobrança, disse que eu deveria ter repercutido tal pauta. Olha o nível de fanatismo e covardia”, analisa ela. 

Mônica também não se esquiva de comentar a nomeação de Regina Duarte para a Secretaria Especial da Cultura. Cética em relação aos rumos da pasta sob a gestão da atriz, a jornalista diz que a escolha foi mais marqueteira que técnica. “É uma imagem mais doce, apresenta uma pessoa querida e amada pelo público depois do desastre de Roberto Alvim”, avalia. “Acho que a secretaria não vai fomentar a cultura no Brasil. Cultura é o que as pessoas fazem, não o que o governo determina. É uma fantasia achar que é possível criar uma cultura careta e reacionária”, acrescenta.

Otimismo

No entanto, ainda que veja os dias atuais encobertos por uma cortina de ódio, a jornalista acredita sim, que uma mudança não demorará a acontecer.

Ela pondera que vivemos tempos velozes, ainda mais acelerados pela internet e pelas redes sociais, em que “ideias absurdas podem se desmanchar, assim como vimos muito rapidamente o reacionarismo chegar ao Brasil e dar as cartas”. 

Talvez essa esperança tenha a ver com seu “aquarianismo”, como ela brinca. “Sou otimista, acredito que seja um momento. A gente vai vendo também o fiasco desse projeto”, acredita.
 

Livros coloca representações da mulher em foco 

A socióloga Isabelle Anchieta esteve imersa em um trabalho de oito anos para concluir a obra “Imagens da Mulher no Ocidente Moderno”, lançada em dezembro do ano passado e dividida em três volumes – “Bruxas e Tupinambás Canibais”, “Maria e Maria Madalena” e “Stars de Hollywood”. Isabelle buscou pinturas, esculturas, filme e panfletos como elementos de pesquisa para traçar um estudo de como as mulheres são representadas desde a Idade Média até o século XX. 

Segundo a escritora, que esteve em países como Turquia, Espanha, Itália, Alemanha e Suíça durante o processo de investigação que resultou na trilogia, seus livros revelam várias ambiguidades. “Mostro que as mulheres provocaram sentimentos contraditórios nos homens. Mais que misoginia, houve, sobretudo, uma marginalização atrativa”, diz a acadêmica. 

“Imagens da Mulher no Ocidente Moderno” busca compreender o crescente processo de humanização e, depois, na modernidade, de individualização da mulher e mostra como essa representação do feminino se modifica radicalmente ao longo do tempo: “A Star, por exemplo, é a legitimação da transgressão feminina. Elas fumam, abordam os homens, têm dinheiro, acesso aos objetos de consumo e liberdade

Agenda

O quê. Sempre um Papo - Lançamento de “Imagens da Mulher no Ocidente”, da socióloga Isabelle Anchieta, com participação da jornalista Mônica Waldvogel

Quando. Nesta quinta-feira (12), às 19h30

Onde. Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro).

Quanto. A entrada é gratuita. O livro será vendido a R$ 170 (box com os três volumes) e R$ 60 o cada exemplar. 

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