Causas naturais

Morre, aos 77 anos, o maestro norte-americano James Levine

Ele sai de cena três anos após um escândalo de abuso sexual que encerrou sua carreira, marcada por 40 anos na direção da Metropolitan Opera de Nova York


Publicado em 17 de março de 2021 | 14:50
 
 
 
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O maestro americano James Levine faleceu, aos 77 anos, três anos após um escândalo de abuso sexual que encerrou e manchou sua carreira, marcada por 40 anos na direção musical da Metropolitan Opera de Nova York.  James Levine morreu de "causas naturais" em 9 de março em Palm Springs (Califórnia), informou seu médico de longa data, Len Horovitz, nesta quarta-feira. Ele não forneceu maiores detalhes sobre o óbito, limitando-se a confirmar informações do "New York Times".

Nomeado maestro da Metropolitan Opera, popularmente referida como " Met Opera", em 1976, reformou a instituição até colocá-la entre as grandes óperas do mundo. Enquanto se deliciava com o repertório dos clássicos, foi incorporando obras contemporâneas e compositores até então menosprezados.

Com seus exuberantes cabelos cacheados, óculos redondos de metal, estilo expressivo e personalidade extrovertida, Levine se estabeleceu como uma das figuras mais reconhecidas no mundo da música clássica. Ele dirigiu a Metropolitan Orchestra em mais de 2.550 ocasiões.

Levine sofreu uma série de problemas de saúde a partir de 2006, desde uma lesão no ombro após a queda no palco após uma insuficiência renal, até uma hérnia de disco.

Em 2016, ele aceitou deixar a direção musical do Met por causa do Parkinson que sofria há anos. Porém, continuou sendo maestro honorário até sua suspensão em dezembro de 2007, após a publicação nos jornais The New York Times e New York Post de relatos que o acusavam de abuso sexual. Os dois jornais divulgaram o caso de um homem que acusou o maestro de molestá-lo de 1985 - quando tinha apenas 15 anos - até 1993.

Três outros homens também afirmaram publicamente que Levine os agrediu sexualmente, embora ele nunca tenha sido processado criminalmente. Todos o descreveram como um homem mais velho que eles, que se aproveitava de seu status e influência.

Em março de 2018, o Met publicou as descobertas de sua investigação, que confirmaram a existência de "evidência credível" de que o músico efetivamente estava envolvido "em assédio e comportamento sexualmente abusivo".

Desde então, a Ópera encerrou todas as responsabilidades de Levine que ainda estavam em vigor dentro da instituição. O maestro canadense Yannick Nézet-Séguin assumiu o cargo em seu lugar. Após sua saída, Levine processou a Metropolitan Opera. O maestro exigiu US$ 5,8 milhões em indenização. A Opera apelou à justiça civil e ambas as partes finalmente chegaram a um acordo amigável pelo qual Levine ganhou US$ 3,5 milhões, de acordo com o "New York Times".

O nome de Levine está entre as muitas personalidades que perderam seus empregos e sua reputação com o #MeToo, um movimento que deu voz a centenas de vítimas de abusos e derrubou homens poderosos, incluindo personalidades nas artes e políticos. 

"Ele foi, em sua época, um grande maestro, mas não será isso o que ficará", escreveu no Twitter Terry Teachout, um dramaturgo que também escreveu vários libretos de ópera. "Este é o preço de um comportamento inaceitável."

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