Morreu nesta terça-feira (2), o artista plástico makuxi Jaider Esbell aos 41 anos. A informação foi confirmada por seu galertista, André Millan, que preferiu não dar mais detalhes sobre o assunto. De acordo com amigos do artista, a causa da morte foi suicídio. Pessoas próximas a elea viram um sinal de alerta em uma postagem feita em seu Instagram na semana passada, com a legenda "para o além". No ano passado, Jaider Esbell participou do Circuito Urbano de Artes, o Cura, tendo assinado a impactante e bela obra "Entidades", que enfeitou o Viaduto de Santa Tereza, atraindo várias pessoas. Em dezembro, participou do projeto "Aulas Abertas", da UFMG. Neste momento, o artista está sendo homenageado na praça Raul Soares, quando acontece a Vivência, guiada por Tainá Marajoara, com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG).
Suas obras estão atualmente em exposição em São Paulo na mostra "Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea", no Museu de Arte Moderna de São Paulo, desde setembro, como parte da Bienal de São Paulo. Ela reúne pinturas, esculturas, e obras referentes a diversos povos indígenas.
O artista nasceu em 1979 *, em Normandia, no estado de Roraima, na terra indígena Raposa Serra do Sol, e se consolidou nos últimos anos como uma das figuras centrais da arte indígena contemporânea no país, ao lado de nomes como Denilson Baniwa e Isael Maxakali.
Ele se mudou para Boa Vista aos 18 anos, quando já havia participado da articulação de povos indígenas e de movimentos sociais. "O 'artivismo' nada mais é do que fazer essa agitação, essa política e comunicação cada vez mais definidas dentro do argumento artístico", disse ele em entrevista a este jornal, em maio deste ano. "Entendemos a arte como uma ferramenta politica", dizia o artista plástico sobre o termo que direciona seu trabalho.
No cerne de sua obra está a figura do jenipapo, planta fundamental na cosmologia makuxi, etnia da qual faz parte. É ela que aparece em pinturas de Esbell com motivos mitológicos e que tinge tecidos que ele elabora. Além de uma exposição na galeria Millan, em maio -s ua primeira individual em São Paulo -, Jaider Esbell também apresentou suas obras na mostra de arte indígena "Véxoa - Nós Sabemos", na Pinacoteca. "Acredito que as coisas estejam acontecendo no tempo certo, na medida certa e, aos poucos, isso está se consolidando", disse, em relação à profusão de obras indígenas. "As instituições vão entender que a gente vêm para ficar, e que não somos um modismo."
Esbell realizava práticas de arte-educação em comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e urbanas periféricas, atuando especialmente em articulações junto a artistas indígenas da região circumroraimense a partir de sua galeria de arte indígena contemporânea na cidade de Boa Vista. Desde 2010, vinha circulando por diversas exposições no Brasil e no exterior. Em 2016 ganhou o Prêmio Pipa categoria online. Em 2021 foi curador de sua própria exposição individual Apresentação : Ruku, na Galeria Millan em São Paulo. É artista convidado da 34ª Bienal de São Paulo.
Em entrevista recente ao Magazine, à repórter Patrícia Cassese, Jaider falou sobre a arte dos povos originários feita nos tempos atuais. "A gente chama de Arte Indígena Contemporânea, palavra arcabouço para organizar melhor as ideias. Exatamente nessa sequência, a sigla é AIC. Vem de uma colocação para contrapor o termo com o qual a academia a vinha tratando: arte contemporânea indígena. Críticos dele (termo), propomos essa alteração, na lógica de que os indígenas sempre fizeram arte, desde a pintura rupestre, embora não com essa palavra (arte). Então, a gente está falando dessa ideia de sistema, que é basicamente eurocêntrico, e propõe que as pessoas considerem que os indigenas têm um sistema próprio de arte, com aplicações, funções e dimensões particulares, diretamente relacionadas com o trabalho dos pajés, dos mestres".
*O artista plástico makuxi Jaider Esbell nasceu em 1979, e não em 1977, conforme informava erroneamente versão inicial do texto publicado às 18h24. O texto foi corrigido, e uma nova versão foi publicada.