Mostra de Cinema de Tiradentes se reinventa com programação virtual

Uma das principais fontes de projeção para produções cinematográficas independentes no Brasil, a Mostra de Cinema de Tiradentes chega à sua 24ª edição em estado peculiar. Nada de sessão de filmes no Cine-Tenda, na praça ou no Cine-Teatro. Devido à pandemia da Covid-19, o charmoso festival precisou se reinventar em 2021 e pela primeira vez em sua história será realizado totalmente pela internet.

Com uma programação repleta de produções premiadas em estreia e pré-estreia nacional, o evento vai exibir, a partir desta sexta-feira (22), um total de 114 produções – 31 longas, dois médias e 81 curtas-metragens –, representando 19 Estados brasileiros. Os filmes poderão ser acessados diretamente no site mostratiradentes.com.br, e a maioria ficará disponível online durante os oito dias de duração da Mostra.

“Neste ano, infelizmente, a gente não vai conseguir estar presencialmente com o público, oferecendo aquela troca de energia tão comum do festival”, comenta a coordenadora geral do evento, Raquel Hallak. No entanto, ela ressalta que a experiência tem o potencial de servir como um novo canal de comunicação entre a Mostra e seu público. 

“Como conseguimos transpor para a internet toda a programação que estava prevista, as pessoas não vão perder nada. Essa é a grande vantagem do digital: quem se sintonizar na nossa plataforma vai poder conhecer e curtir o mesmo propósito conceitual da mostra de Tirandentes de onde estiver no Brasil. O melhor do nosso cinema vai estar lá, intacto e pulsante como sempre”, promete.

Com um leque cultural extenso, o evento vai se dividir em 12 mostras temáticas: “Olhos Livres”, “Temática”, “Homenagem”, “Foco”, “Panorama”, “Foco Minas”, “Praça”, “Formação”, “Sessão da Meia-Noite”, “Jovem”, “Mostrinha” e a mostra competitiva “Aurora”. Na abertura, será exibido o filme “Ostinato”. Inédito e ainda em finalização, o longa é dirigido pela homenageada deste ano, a cineasta colombiana Paula Gaitán. 

Além dos filmes, a programação conta com uma lista extensa de atividades culturais incluindo debates, oficinas e shows musicais com artistas como Arrigo Barnabé, Fernanda Abreu e Chico César.

Cinema contra a incerteza

Uma das seleções mais aguardadas do evento é a “Mostra Aurora”, que neste ano vai exibir sete longas inéditos vindo de cinco Estados do país. Dedicado a produções de cineastas em início de carreira, este é o segmento do festival mais representativo das novas estéticas e tendências do cinema brasileiro. 

Em 2021, os filmes escolhidos parecem ecoar o clima de incerteza vivida em um mundo flagelado pela pandemia do coronavírus. 

“As produções que compõem a ‘Aurora’ nesta edição marcam um período paradigmático e difícil para o Brasil e para o mundo de forma geral. Eles representam as primeiras produções brasileiras lançadas em um ano marcado pela dúvida, pela morte e pela melancolia. Porém, eles servem também como uma plataforma de esperança impulsionada por um desejo de mudança e de liberdade”, analisa Francis Vogner, um dos responsáveis pela curadoria da Mostra Aurora.

Nesta edição ganham as telas os longas “O Cerco” (RJ), de Aurélio Aragão, Gustavo Bragança e Rafael Spíndola; “Eu, Empresa” (BA/MG), de Leon Sampaio e Marcus Curvelo; “Oráculo” (SC), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn; “A Mesma Parte de Um Homem” (PR), de Ana Johann; “Açucena” (BA), de Isaac Donato; “Rosa Tirana” (BA), de Rogério Sagui; e “Kevin” (MG), de Joana Oliveira, única produção feita 100% em Minas Gerais. Todos os filmes da “Mostra Aurora” ficarão disponíveis na plataforma do festival por apenas 48 horas após cada estreia. 

Como em todos os anos, os títulos da “Aurora” serão avaliados pelo Júri da Crítica e concorrem ao Troféu Barroco e a prêmios de parceiros da Mostra.

Homenagem

A principal homenageada deste ano será a colombiana Paula Gaitán, viúva do cineasta Glauber Rocha (1939-1981), que terá sua obra reverenciada no festival. Respeitada por sua contribuição ao cinema e ao audiovisual latino-americano nas últimas três décadas, a artista comemora o reconhecimento. 

“Essa homenagem me deixou muito feliz, principalmente por ver meu trabalho reconhecido no Brasil, que é minha segunda pátria. Minha mãe era brasileira e para mim é uma honra poder estar nessa terra maravilhosa. A Mostra de Tiradentes é muito especial para mim, pois foi ela que me permitiu estrear meu documentário ‘É Rocha e Rio, Negro Léo’, no começo de 2020. Agora sou reconhecida dessa maneira. Depois de um ano tão difícil para todos nós, isso traz um alento enorme para mim”, festeja a diretora.

Oito dos trabalhos mais representativos de Gaitán serão exibidos no festival: os longas “Diário de Sintra” (2007), “Exilados do Vulcão” (2013), “Noite” (2014), “Luz nos Trópicos” (2020), o videoclipe “A Mulher do Fim do Mundo” (com Elza Soares) e três filmes inéditos – o curta “Ópera dos Cachorros”, o média “Se Hace Camino Al Andar” e o documentário “Ostinato”, sobre a carreira do músico Arrigo Barnabé, um dos grandes expoentes da vanguarda brasileira.

Criançada representada

A criançada não foi esquecida e poderá curtir filmes infantis durante a já tradicional “Mostrinha”, que nesta edição vai exibir cinco curtas e um longa-metragem voltados ao público infantojuvenil. Entre os curtas estão “O Menino e o Ovo”, produção mato-grossense de Juliana Capilé; “Napo”, animação paranaense de Gustavo Ribeiro; “Mitos Indígenas em Travessia”, curta paulista de Julia Vellutni e Wesley Rodrigues; “Foguete”, do brasiliense Pedro Henrique Chaves; e “Vento”, animação realizada por estudantes da rede pública municipal de ensino fundamental de Icapuí, no litoral leste do Ceará. O único longa da programação é a comédia juvenil “Passagem Secreta”, do diretor londrinense Rodrigo Grota.

A Mostra de Cinema de Tiradentes é 100% gratuita, e toda a programação pode ser conferida no site mostratiradentes.com.br.