'O Chamado da Floresta': longa jornada em direção à ancestralidade

Antes de falar sobre “O Chamado da Floresta”, filme que estreou nesta quinta-feira, nos cinemas da cidade, é preciso mencionar o livro que o inspirou: “O Chamado Selvagem”, clássico de Jack London (1876 – 1916) lançado em 1903, e fenômeno mundo afora, tendo como pano de fundo a corrida do ouro que, no final do século XIX, deslocou milhares rumo às fronteiras do Canadá com o Alasca. Nascido em São Francisco, na Califórnia, o próprio London esteve por lá, numa experiência que o fez perder alguns dentes – e incorporar muitas ideias socialistas.

Já adaptado para o cinema anteriormente, a obra de Jack London gira em torno de Buck, um cão criado como doméstico no sul dos EUA. Roubado para ser vendido para puxar trenós, ele é obrigado a entrar em contato com a natureza selvagem, com todas as adversidades inerentes ao novo cenário. Mais que isso, Buck entra em contato com a sua ancestralidade, que, não obstante à tentativa de domesticação que sofreu, ainda se faz pulsar.

Dirigido por Chris Sanders (“Como Treinar Seu Dragão”) o longa traz Harrison Ford à frente do “elenco humano”, que inclui, ainda, o francês Omar Sy. Aos 77 anos, Ford é John Thornton, um homem solitário que faz da bebida a válvula de escape para lidar com a perda do filho, o que, por seu turno, redundou no fim de seu casamento. Curiosamente, John não está ali pelo ouro, e, sim, ao menos no primeiro momento, para fugir de seus fantasmas.

Quando sua jornada se une à de Buck, mais que as adversidades naturais da vida selvagem e da nem sempre amistosa presença humana, eles vão ter que lidar com descobertas e mudanças que inevitavelmente encontram eco na alma do público por, antes de tudo, serem temas universais, como a coragem que se esconde dentro de nós – a qual muitas vezes subestimamos.