Quadrinhos

O retorno dos heróis surreais

Rafael Coutinho relança “O Beijo Adolescente e planeja dois novos volumes inéditos, que deverão sair pela Todavia

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 01 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
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Superpoderes, monstros e muita grana dão o tom do universo surreal do grupo O Beijo Adolescente, apresentado no quadrinho homônimo de Rafael Coutinho. Publicado em três volumes em 2012 pela editora Cachalote – mantida pelo próprio autor –, o trabalho ganhou uma nova edição em um único tomo, organizado pela editora Todavia. 

Mais do que juntar as histórias, Coutinho revisou o texto e acrescentou algumas páginas. “Eu fiz esse quadrinho de maneira muito independente. Não tive editor, eu me autopublicava. E, conversando com o editor André Couto, que é um parceiro há bastante tempo, eu comentei com ele do interesse em fazer uma série longa, centrada em nove livros. Nós começamos a pensar em um projeto e eu vi que ‘O Beijo Adolescente’ teria esse potencial, porque havia ainda algumas lacunas, e a história poderia ficar melhor fechadinha. Nesse primeiro volume, eu comecei a fazer isso”, conta Coutinho.

Quando se refere a nove títulos, o quadrinista visualiza, na prática, a publicação de três livros, uma vez que cada um reuniria três partes, assim como o primeiro lançado recentemente. Assim, dois outros volumes estão confirmados, e o próximo tem previsão de circular entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro de 2021.

“Mais do que me ater fixamente ao prazo, estou tentando me conectar mais ao prazer de fazer esse trabalho. Eu estou no processo de anotar ideias, revisitar arquivos, compondo a linha do tempo de todos os personagens para ter clareza de qual estágio da vida eles estão inseridos”, afirma. 

Uma certeza é que a continuação vai seguir na mesma toada distópica, que Coutinho comenta ser, de certa forma, uma homenagem à literatura de ficção científica absorvida por ele durante a juventude. “Eu quis fazer algo próxima de obras que me instigavam quando era jovem. Eu faço parte de uma geração que curtiu ler “Moebius” (de Jean Giraud), acompanhou o boom dos mangás na década de 80 – algo que me influenciou muito. E eu acho que, lá no fundo, eu tinha o desejo de conversar de alguma forma com essas obras”, diz Coutinho. 

O Beijo Adolescente, no quadrinho homônimo, refere-se tanto a uma espécie de indústria voltada ao público teen quanto a um grupo seleto, cujos eleitos são tidos como especiais até que eles completam 18 anos e seus poderes acabam desaparecendo. Segundo Coutinho, a continuidade do projeto vai abarcar mais aspectos da cor local, inserindo referências tanto ao Brasil quanto às discussões em voga hoje.

“Pouco a pouco, eu comecei a sentir a necessidade de trazer um pouco desse universo para o Brasil. Acho que senti falta de refletir de que modo o jovem brasileiro pode se relacionar com esse contexto”, diz. “Acho que a nossa relação com a religião, que é algo muito forte, a situação do jovem do interior e o das grandes cidades, além das questões raciais vão aparecer nos livros”, antecipa.

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