Festejo

ONG Contato chega aos 18 anos anunciando parcerias e novidades

A criação de um braço na Colômbia marca a celebração do aniversário, e veio acompanhada de uma programação especial, mesmo em meio à quarentena

Por Patrícia Cassese
Publicado em 24 de julho de 2020 | 18:21
 
 
normal

Com várias novidades na manga, a ONG Contato está completando, neste 2020, seus 18 anos de existência. Para citar um exemplo das novidades, a organização, que nasceu com o objetivo de promover a inclusão social por meio da cultura, está expandindo suas atividades pela América Latina, tendo como primeiro parceiro, a Colômbia. Não bastassse, vem disponibilizando, nesta quarentena, uma programação especial, que inclui oficinas, debates, exibição de filmes e o lançamento da segunda edição da revista "Elipse" (a primeira, você lembra, teve Dira Paes na capa). Claro, não era a comemoração desejada. A pandemia em curso acabou mudando o rumo de alguns planejamentos, ma, ao fim, a reformulação vem contemplando um público bem significativo. E há muitos chamarizes. No próximo dia 29, por exemplo, às 10h, um depoimento do ator Wagner Moura, convidado especial da nova edição da "Elipse", será disponibilizado nas plataformas da Contato (Youtube, Instagram e Facebook). A revista propriamente dita será lançada no dia 3 de agosto, com um debate com o ator Fabricio Boliveira.
 
Neste mês de julho, outras iniciativas foram lançadas, como as oficinas Áudio Para Cinema e Direção Cinematográfica. Também teve uma entrevista com o veterano diretor Helvécio Ratton, no último dia 15. No curso desses 18 anos, foram mais de 50 projetos já desenvolvidos, atingindo um público de mais de 25 mil pessoas. Mas nem tudo são flores. "Como toda a organização do terceiro setor, vivenciamos situações de grande dificuldade para a manutenção das atividades e ações, muitas vezes por falta de investimento e políticas públicas para este segmento", lamenta o cineasta e poeta Helder Quiroga, um dos fundadores da Contato, ao lado de Vitor Santana. Ao mesmo tempo, ele pontua que a solidariedade e a articulação com outras entidades parceiras vem garantindo o cumprimento dos objetivos e, claro,  a sobrevivência da ONG. Entre as conquistas, ele cita desde o Prêmio Asas, do antigo Ministério da Cultura atribuído a Pontos de Cultura com excelência na execução de projetos, até a criação da filial Colômbia.
 
Helder Quiroga salienta que a bandeira que a ONG levanta se coaduna com a defesa dos direitos humanos, da cultura, da cooperação internacional e da articulação de redes de movimentos sociais. "Sempre construindo projetos de inclusão com foco prioritário da juventude", ressalta. "A gente busca aproximar os diferentes, ou seja, jovens de classe média de jovens de periferia, indígenas de não indígenas, europeus de latino-americanos - e sempre buscando aliar as atividades culturais como elemento de transformação social e desenvolvimento humano".  Entre os momentos marcantes da trajetória, estão, por exemplo, o evento Cidadania 2.0, realizado em 2014, com a rede nacional de movimentos sociais, com o compositor, cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil. Ou, ainda, a entrevista cedida para a Série Educação e Cidadania com o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica e a parceria com índios da etnia Ashaninka no Acre (fronteira com o Peri), para a construção da rede de Pontos de Cultura Indígena do Brasil.
 
Confira, a seguir, alguns trechos da entrevista com Quiroga.
O inesperado advento da pandemia atrapalhou a programação prevista para este ano? O que foram obrigados a fazer, para reorganizar tudo? A princípio, a pandemia nos deixou também preocupados com o futuro da nossa instituição. A primeira atitude foi informar parceiros e público a suspensão total das atividades para respeitar o isolamento social e as orientações da Organização Mundial de Saúde. Aliás, omos uma das primeiras organizações culturais em Minas a tomar esta atitude. Nos primeiros dois meses, nos desdobramos para compreender a magnitude dos impactos da pandemia, não somente na sociedade como um todo, mas principalmente para o setor cultural e organizações, como a nossa, que se dedicam a inclusão social através da cultura. Quando vimos que não se tratava de uma situação passageira, iniciamos uma série de estudos e formas de adequar nossas atividades para o mundo digital. Começamos a transformar de forma pedagógica e metodológica todas as oficinas, cursos, seminários, debates, reuniões e exibições cinematográficas em formatos digitais. Hoje, toda a nossa programação foi transferida para as plataformas digitais, realização de atividades online e impulsionamento de nossa rede de comunicação nas mídias alternativas e nas redes sociais. Percebemos, neste novo universo, uma forma de crescimento exponencial de nossa instituição e de contribuir para que conteúdos de qualidade e com compromisso social possam ser acessíveis no mundo digital e da internet.
 
Por outro lado, em meio à quarentena, temos visto uma valorização da cultura e da arte, agora percebidos como potentes alentos para tempos em que a reclusão é necessária. Como isso reverbera na relação da ONG com o seu público?  De fato. A cultura e arte estão fazendo toda a diferença para a manutenção do isolamento social e para a garantia da civilidade em meio a quarentena. Porém ainda há muito a ser feito e construído para a cultura seja realmente valorizada no Brasil e no Mundo. Não basta o reconhecimento de seu papel de entretenimento, temos de compreender a importância da cultura como fator de identidade e de valorização profissional e econômica. Afinal de contas, para cada filme que é visto, para cada live que é assistida, para cada livro que é lido, existe uma gama enorme de profissionais por trás. E, hoje, grande parte destes profissionais está passando necessidade. Fome mesmo. Porque há empresas fechando, eventos sendo cancelados, cinema perdendo sua capacidade de público e teatros sendo deixados à própria sorte. Precisamos de políticas públicas e conscientização do setor empresarial para manter e potencializar o papel da cultura e dos artistas para além da pandemia, pois quando falamos de cultura estamos falando do sentimento de pertencimento social e identidade de nosso país para os brasileiros e para o mundo. A Contato está conseguindo se manter, por enquanto, mas sabemos que a situação da cultura e do segmento que atuamos é muito grave e não há previsões concretas de apoio para 2021, por isso estamos batalhando na busca de novos investimentos e parcerias para poder enfrentar como todo o mundo os desafios que virão pós-pandemia.
 
No caso da programação especial de 18 anos, como foi o interesse suscitado pelas atrações? Estamos nos surpreendendo, a procura por vagas de oficinas, cursos e palestras está aumentando a cada dia. Acreditamos que tudo isso se deve ao fato de já termos o  reconhecimento como uma referência na formação e capacitação profissional no campo cultural, e pelo aumento da procura de alternativas de ensino para a juventude em tempos de pandemia que interligam qualidade de conteúdo e diálogos com o mercado de trabalho.
 
Quais os destaques da nova edição da revista "Elipse"? A publicação está buscando abordar em cada edição um território de identidade do cinema brasileiro. Na segunda, o escolhido  será a Bahia, importante berço histórico do cinema brasileiro. Levará na capa uma entrevista inédita com o ator, produtor e diretor baiano Wagner Moura. Além disso a revista abarcará artigos que remontam a história do cinema na Bahia, no importante movimento do Cinema Novo, que teve como expoente o cineasta Glauber Rocha, artigos sobre a nova geração do cinema baiano e uma outra entrevista, com o ator Fabrício Boliveira, que abordará aspectos de sua carreira e a importante valorização da negritude no cinema Brasileiro, confluindo com análises de mercado e dados mais recentes sobre as políticas do audiovisual no Brasil.
 
Poderiam pormenorizar como será a atuação da Contato Colômbia? A Contato Colômbia surge em meio a pandemia para ampliar nossa atuação na América Latina e no mundo, buscando sempre aliar as tecnologias sociais adquiridas aos longo da história da Contato no Brasil e destinada ao desenvolvimento de ações de inclusão no território colombiano. Nossa primeira ação será anunciada em breve, mas podemos adiantar que estamos firmando um convênio com a Prefeitura de Cali para desenvolver ações de formação e capacitação profissional no campo do audiovisual para jovens das periferias do distrito de Agua Blanca, além de uma mostra especial sobre o cineasta Glauber Rocha em parceria com a Cinemateca Colombiana e Bogotá e parcerias com a plataforma de streaming Retina Latina, para ampliação do intercâmbio de conteúdos brasileiros e latino-americanos na rede.
 
Quais os próximos projetos? Estamos preparando o Primeiro Diagnóstico Econômico e Social do Audiovisual em Belo Horizonte, vamos buscar estender esta pesquisa para abraçar outros territórios Mineiros. Vamos lançar em breve a programação do 3º Circuito Cinematográfico de Periferia (CCP) e estamos em fase de captação de recursos para realização da 4ª Edição do CCP. Também estamos em busca de investimentos e patrocínio para realização do 1º Circuito de Música nas Periferias. Construindo a linha editorial da 3ª edição da revista "Elipse" e ampliando nossa atuação nas redes sociais para lançar, em breve, um minidoc sobre os 18 anos de atuação da ONG Contato.
 
Como vislumbram um mundo pós-pandemia? Acreditamos que não será fácil. Imagine um mundo que despertará desta pandemia com número gigantesco de mortes, sendo grande parte delas no Brasil. Uma tristeza muito grande para um território conhecido por sua alegria, por suas festas e por sua gente. Para não falar no medo e nos traumas que esta pandemia está despertando na sociedade. De todo modo, precisaremos de muita solidariedade, muita cultura, muita arte e muito contato para fortalecer novamente os vínculos e as estruturas de afeto na sociedade como um todo. Para isso estamos nos preparando, para sermos novamente uma referência no desenvolvimento de projetos e ações culturais destinadas ao desenvolvimento humano e social inclusivo. Acreditamos que o mundo precisa cada vez mais de ações solidárias e comprometidas com o desenvolvimento social e humano. Temos na cultura um instrumento fundamental para o combate às desigualdades e fortalecimento de nossas identidades territoriais. Em meio a este isolamento social que a pandemia nos impõe, vamos seguir fazendo o que sabemos fazer melhor inovar, incluir e desenvolver novas formas de aproximação entre os diferentes, tendo a juventude como foco prioritário e a cultura como elemento importante para diminuir o distanciamento e aproximar cada vez mais o contato entre os seres humanos.
 
 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!