Logicamente, o tesouro no pote do fim do arco-íris seria estar, neste momento, em vias de retomar as atividades normais - e, cereja do bolo, reencontrar o público na Sala Minas Gerais. "Mas a realidade infelizmente é outra, e temos responsabilidade com os espectadores, músicos e demais funcionários", destaca o maestro Fabio Mechetti, regente-titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
A realidade à qual ele se refere é, claro, o avanço do novo coronavírus no Brasil. Com o advento da pandemia, em março, quando a primeira morte por Covid-19 no país foi registrada, e a exemplo de todo o setor artístico-cultural, a Filarmônica emitiu um comunicado informando a interrupção das atividades, seguindo a orientação das autoridades sanitárias. Passado quase um mês, no dia 20 de abril veio outra nota, tratando da necessidade da extensão da paralisação até o final de junho.
Nesta quarta-feira, dia 1º, foi a vez de um outro comunicado à imprensa, agora lamentando o fato de a expectativa ter sido mais uma vez frustrada, em função da evolução da doença. "E voltar à sala, presencialmente, só mesmo quando houver segurança", diz Mechetti, que, porém, salienta o investimento do grupo na alternativa viável para conseguir não só manter ativo o contato com o público como dar vida a novos projetos: o universo virtual.
Não por outro motivo, mais ações estão no gatilho. Das implementadas, uma que se tornou uma espécie de menina dos olhos foi a Academia Virtual. Para se ter uma ideia, atualmente, 35 músicos estão envolvidos na tarefa de dar aulas a alunos de todo o país. Um desses professores é Rafael Alberto Principal, da percussão. "Nesse processo de 'virtualizar' a orquestra, abriu-se um leque de atividades possíveis, e cada um optou por aquela com a qual se identificava. Prontamente me candidatei à Academia, mesmo porque, gosto muito de dar aulas. E fiquei super feliz de esse projeto ter se concretizado. A gente formou um comitê para discutir como seria, e, felizmente, adquiriu um formato legal, com muita gente se envolvendo", avalia ele.
Rafael prossegue: "Tenho percebido que os alunos estão gostando bastante. O trabalho ainda está muito no começo, mas senti, desde as conversas iniciais, que eles estão se apegando a essa oportunidade até para encontrar motivação (para esses tempos de pandemia), pois as instituições interromperam suas atividades (presenciais), e, com isso, eles se viram parados. Senti os olhos brilhantes, por terem, agora, esse compromisso".
No tocante aos novos projetos, Fabio Mechetti assinala que, a partir de agosto, entrará no ar um programa especialmente desenhado para os assinantes. "Hoje, a Filarmônica tem mais de 3,5 mil assinantes, pessoas que têm sido extremamente pacientes (diante da situação imprevista). A programação que originalmente tinha sido oferecida a eles não será possível em sua extensão, e é uma grade que se baseava muito na celebração dos 250 anos de nascimento de (Ludwig van) Beethoven (Bonn, 17 de dezembro de 1770 - Viena, 26 de março de 1827), o grande aniversariante do ano. A Filarmônica preparou concertos, mas também muita música de câmara, então, a ideia é começar com duos e trios, com os quais esperamos poder em breve voltar à Sala Minas Gerais, logicamente seguindo todos os protocolos sanitários. E à medida em que, assim esperamos, a pandemia vá sendo controlada, iremos aumentando o número de músicos, para levar o público de volta à Sala Minas Gerais de maneira escalonada", pormenoriza.
Na prática, isso significa que um mesmo concerto poderia ser replicado cinco, seis vezes, "dividindo" o público. "De início, poderíamos acomodar 20% da plateia, duzentas e poucoas pessoas por dia. Mas, veja, esse protocolo está sendo estudando e desenvolvido no mundo inteiro. A gente tem se comunicado muito com as outras instituições, não só com as do Brasil, como a Osesp, o Teatro Municipal de São Paulo, o de Porto Alegre; mas seguindo o que já está acontecendo na Europa, onde as orquestras já estão voltando à ativa, mas com grupos reduzidos e a plateia dividida de maneira segura, para ter descontração, e não tensão. Para apreciar música ao vivo, que é o que desejamos, mas de maneira racional, segura. Quem sabe em outubro, novembro, com a situação melhorando, já possamos ter uma ocupação de 50%, até chegar aos 100%?", aventa.
Em tempo: Mechetti alerta que o público em geral não será privado de uma programação alusiva ao nascimento de Beethoven. "Como disse, estamos desenvolvendo também uma programação de câmara, com repertório diferente, que será oferecida ao público em geral, se Deus quiser a partir de agosto. São, portanto, dois produtos diferentes, um destinado aos assinantes, outro ao público em geral, com repertório variado".
Confira, a seguir, alguns dos projetos pensados para agosto.
Câmara em casa
O projeto Concertos em Casa, pelo qual são disponibilizadas gravações inéditas, será retomado em agosto, porém, no formato de música de câmara, com novas gravações feitas no palco da Sala Minas Gerais, e com apresentações camerísticas gravadas nas casas dos músicos.
Universo Sinfônico
Os musicistas da Filarmônica apresentam em vídeo, de maneira didática, os instrumentos que eles tocam, sua história, aspectos técnicos e sua participação e papel no conjunto da orquestra.
Podcasts
Novos programas com entrevistas, diálogos e informação sobre temas variados pertinentes ao mundo orquestral, buscando integrar a experiência de nossos musicistas com outros artistas brasileiros e internacionais.
Papo de Orquestra
Conversas ao vivo entre integrantes da Filarmônica e de outras orquestras tratando de atividades de uma orquestra sinfônica no seu dia a dia, desde a programação artística de uma temporada até questões logísticas e de produção que antecedem as apresentações.
Audições à vista
Vídeos produzidos com o intuito de oferecer informação a jovens músicos em sua preparação individual para audições, envolvendo questões técnicas, como a preparação de excertos específicos, ou psicológicas, como técnicas de relaxamento, foco e desempenho.