A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e a Orquestra de Câmara Sesiminas entram no ritmo do Carnaval e mostram que o clássico e o popular podem caminhar na mesma direção, quebrando o rótulo de que a música erudita é elitista.
Neste clima momesco, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais apresenta, hoje e amanhã, ao meio-dia, no Palácio das Artes, o concerto “Esquentando os Tamborins”, em que desfila composições de Chico César e Elba Ramalho e presta uma homenagem a Luiz Gonzaga. O programa conta ainda com “Carnaval Romano”, composição do francês Hector Berlioz. Antes do encerramento, a Sinfônica recebe o Coral Lírico de Minas Gerais, que acompanha os músicos em um medley de marchinhas e canções tradicionais de Carnaval, como “Cidade Maravilhosa”.
“O Carnaval é uma festa mundial”, explica o maestro Silvio Viegas, regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. “Vários compositores se inspiraram no Carnaval para criar suas composições e trazemos uma obra europeia alusiva ao Carnaval italiano”, explica Viegas, que guiará sua orquestra através de canções de ícones da música brasileira. “São composições adaptadas por Fred Natalino e Ciro Pereira, um grande arranjador para orquestras, já morto”, conta.
O maestro tem certeza de que o público vai se divertir durante o concerto. “Vai ser uma apresentação muito alegre, para cima e descontraída”, garante Viegas. Para ele, exemplo de que a música erudita e o Carnaval se entendem bem é o sucesso da Sinfônica Pop, projeto que já recebeu intérpretes de samba em belos concertos.
Como sempre acontece durante esses concertos do meio-dia, o maestro Sílvio Viegas vai conversar muito com o público e convidá-lo a subir ao palco para sentir a emoção de estar no meio dos instrumentos. “Quando está no palco, a pessoa tem uma visão distinta de uma orquestra”, fala. “Quano coloco uma pessoa em frente aos metais, perto dos violinos ou em uma cadeira no meio do coro, a percepção é outra, e é uma experiência muito legal para o público”, explica.
A intenção do maestro é quebrar esse estigma de que a música erudita é elitista. “Peço para a plateia filmar a apresentação para depois mostrá-la à família, divulgar nas redes sociais”, diz Viegas. “Quero mostrar que a música clássica não é chata. Ela é rica, tem vários sabores e cores. Ela tem uma linguagem acessível a todos”, defende. “Hoje, quem anda fazendo musica clássica é, em sua maioria, de origem social humilde, que ganha a vida e sustenta sua família com a música”.
Para ele, é muito importante que os governos invistam em cultura. Ele diz que, mesmo com a troca de governo deste início de ano, a agenda da Orquestra Sinfônica segue conforme o programado. Além desta apresentação do projeto Sinfônica ao Meio-Dia, em março será realizado o Concerto Comentado, para o público infantil, com “Pedro e o Lobo”; e o Sinfônica em Concerto. Já em abril, começam os Concertos no Parque, com apresentações da Sinfônica no Parque Municipal Américo Renné Giannetti.
No metrô
A Orquestra de Câmara Sesiminas também vai para a rua, ou melhor, para a estação Central do metrô, onde realiza hoje um concerto eclético e gratuito que vai levar desde marchinhas a peças de Mozart aos usuários do serviço. “Nós queremos aproveitar essa época da festa momesca para abrir com uma marchinha de Carnaval. Depois, nós vamos tocar um pouco de Mozart para mostrar o foco do nosso trabalho. Em seguida, vamos interpretar ‘Tempo de Maracatu’ (de Ernani Aguiar), que apresenta um lado mais folclórico do nosso repertório. Também vamos ter um pot-pourri com canções de Chico Buarque e, pra fechar, mais um medley de marchinhas carnavalescas”, detalha Marco Antônio Maia Drumond, que é maestro da Orquestra de Câmara Sesiminas.
Esta será a segunda vez que ele vai reger uma apresentação nesse local. Drumond ressalta que a iniciativa é interessante porque é democrática. “Essa é uma das formas que nós encontramos de nos aproximarmos do público. Nós sabemos que a estação do metrô é um lugar de passagem, mas várias pessoas param e deixam para pegar o terceiro ou quarto trem, quando dispõem de mais tempo, para ouvir as músicas. Outras, inclusive, ficam até o final, e nós identificamos muitos olhares curiosos, porque boa parte das pessoas que circulam por ali estão vendo uma orquestra pela primeira vez”, pontua Drumond.
E se o ambiente da estação não é o mais apropriado para uma orquestra de câmara, o maestro relata que o público colabora bastante. “Nós sabemos que vamos perder muito com o nível de ruído. Uma orquestra de câmara foi feita para se apresentar em lugares pequenos, fechados, e nós tocamos sem amplificação. Mas o público sempre ajuda e alguns até pedem silêncio quando necessário”, relata Drumond.