O novo disco foi pensado e construído em um ano. “Começou quando sentimos de fato a necessidade de embarcar em uma nova viagem”, conta Juliana Linhares, uma dos três integrantes do Pietà. A bordo, pois, de “Santossossego”, segundo álbum de carreira, o grupo aporta na capital mineira para show no Espaço Do Ar que contará com as participações de Mariana Cavanellas e Marina Sena . 

“Santossossego” sucede “Leve o que Quiser”, o CD de estreia. Desta vez, o processo de feitura teve como impulso uma série de confabulações. “Na verdade, conversamos demais sobre tudo, muito mesmo. E foram essas conversas e vivências que nos apontaram um norte. Nos encontrávamos para criar, e as porradas do cotidiano eram tantas que precisávamos trocar mais as sensações para tentar entender o que estava acontecendo – e de que maneira poderíamos transformar as angústias em força criadora”, explica o violonista Frederico Demarca.

De conversa em conversa, as canções brotaram. Outras, que na verdade já existiam, voltaram à mente do trio. Mas Demarca também atenta para o fato de que os ruídos da cidade “e os acontecimentos políticos dos últimos anos” transformaram o som do grupo. “Clarinetes e flautas deram lugar a synth e guitarras, e a poesia, que antes caminhava por veredas imaginárias, alcançou os concretos da cidade”, diz.

Para melhor passar o recado no estúdio, o grupo convidou Elísio Freitas (guitarra) e Ivo Senra (sintetizadores), para atuarem como uma banda fixa.

Uma das faixas que chamam a atenção é “Oração pra Luzia”, não só porque baliza a primeira parceria entre os três integrantes, como por ter sido inspirada pelo incêndio do Museu Nacional, ocorrido em setembro do ano passado. “Quando houve a tragédia, ficamos muito tocados, mas cada qual na sua intimidade. Num primeiro momento, apenas recebemos a informação no corpo. Ficamos com ela ali, numa digestão lenta e difícil”, rememora o baterista Rafael Lorga. 

Mas a canção, vale dizer, não saiu imediatamente após o acontecimento. “Ficamos em silêncio pensando sobre. Depois de um tempo, Rafa enviou uma melodia, e a Ju respondeu com caminhos de letra que despertavam o vento”, conta Demarca, complementando que ele, sem ainda ter lido os escritos da colega, respondeu “com o fogo”. “Aquela melodia despertou vento e fogo, e, assim, Luzia (fóssil humano mais antigo das Américas) ressurgiu nas melodias”, conclui ele, que também não se furtou a falar sobre a música mineira.

"A música de Minas é inspiração e referência enorme pra nós. Ainda não havíamos tido oportunidade de fazer um show por aí e nossa expectativa é enorme. Há uma cultura de apreciação e feitura da canção muito especial, pouco vista em outros lugares. Como defendemos um legado da canção, temos certeza de que será um encontro bonito", vaticina.

 

Fred complementa: "Dessa vez contaremos com a participação da cantora Marina Sena, da qual somos fãs, mas nosso desejo é poder esbarrar e trocar ainda mais com outros artistas de Minas. Pra nós, uma das coisas que mais dá sentido são essas trocas reais".

Por fim, Juliana arremata: "Há inúmeros nomes da cena de Minas, não dá nem para citar todos. Mas deixamos aqui registrado todo o carinho e admiração pelo mestre e amigo Maurício Tizumba, com quem tivemos a oportunidade de trabalhar no espetáculo teatral 'Gabriela', um musical de João Falcão. Tizumba certamente é um dos maiores artistas desse Brasil", conclui.