A notícia merece ser devidamente brindada pelos fãs do cinema que vai além do entretenimento - sem, claro, desmerecer essa vertente que tanto bem faz para a saúde mental, ainda mais em tempos de pandemia. O feito a comemorar é a entrada em cena da Ecofalante Play, nova plataforma de streaming, gratuita, e exclusiva para professores, educadores e instituições de ensino que desejam utilizar o cinema como ferramenta para discutir questões socioambientais contemporâneas em sala de aula. A iniciativa é um braço da Ecofalante, organização da sociedade civil que atua nas áreas de cultura, educação e sustentabilidade (Mostra Ecofalante de Cinema e outras ações).
A Ecofalante Play adentra o universo virtual um acervo de mais de 130 filmes brasileiros e internacionais que abordam temas como emergência climática, consumo, cidades, energia, conservação, economia, trabalho e saúde. Entre eles: "Amazônia Sociedade Anônima", de Estêvão Ciavatta; "Obrigado, Chuva" (Noruega/Reino Unido), de Julia Dahr, eleita pela Forbes como uma das 30 personalidades jovens que estão definindo a mídia mundial. Nele, a cineasta acompanha um pequeno agricultor queniano para registrar os impactos das mudanças climáticas. Tem, ainda, "Beleza Tóxica", de Phyllis Ellis, um documentário contundente sobre a falta de regulação da indústria cosmética e sobre o verdadeiro custo da beleza; e "Martírio", dirigido por Vincent Carelli em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tatiana Almeida, busca as origens do genocídio praticado contra os índios Guarani Kaiowá, entre outros.
Confira, a seguir, uma entrevista com Chico Guariba, mentor da empreitada.
Como veio a ideia de oferecer os filmes que integram a já tradicional (e querida, e esperada) mostra Ecofalante no sistema de streaming? A ideia de criar a Ecofalante Play surgiu a partir de nossa experiência realizando a 9ª edição da Mostra Ecofalante, que aconteceu no ano passado, pela primeira vez foi totalmente online. Além das sessões de filmes e debates já tradicionais no festival, contamos com uma importante participação de universidades parceiras, que organizaram dezenas de debates a partir dos filmes exibidos. O evento superou nossas expectativas e, por isso, decidimos ampliar nossa atuação no meio virtual, trazendo nosso programa educacional, o Programa Ecofalante Universidades, para essa nova plataforma de streaming.
Teve a ver também com a pandemia? Sim. Além de organizar a Mostra, nós sempre realizamos atividades de cunho educacional ao longo do ano, como exibições de filmes, debates e formações de professores. Por causa da pandemia, todas as atividades presenciais tiveram que ser paralisadas. A plataforma veio então como uma forma de se adaptar a essa nova realidade de distanciamento social e continuar promovendo o debate e a reflexão sobre temas tão importantes nas escolas e universidades.
Tem também a ver com o ideal de que esses títulos, que têm tanto a dizer à sociedade, sejam vistos por mais pessoas, que tenha um efeito multiplicador? Sim. Um dos nossos principais objetivos é contribuir para a difusão, de forma gratuita, de obras audiovisuais de qualidade que muitas vezes não são de fácil acesso ao público brasileiro, buscando assim ampliar e enriquecer o debate sobre questões socioambientais no país. Nesse sentido, tentamos sempre expandir a atuação da Mostra e democratizar seu acesso. Nos últimos anos, já realizamos itinerâncias pelo interior de São Paulo e em outros estados, como Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Belo Horizonte. A edição online do ano passado nos ajudou a ir ainda mais longe, chegando a todas as regiões do Brasil: foram mais de 200 mil pessoas assistindo aos filmes em quase 1.800 municípios. Com a criação da Ecofalante Play, pretendemos que essa abrangência nacional se estenda também ao Programa Ecofalante Universidades.
Sei que é difícil, mas poderia se aventurar a citar alguns destaques?
Um dos grandes destaques da plataforma é o longa “Obrigado, Chuva” (Noruega/Reino Unido), de Julia Dahr, que acompanha um agricultor queniano para registrar os impactos das mudanças climáticas. O filme foi exibido em diversos festivais internacionais, como o IDFA - Amsterdã, o CPH:DOX e o Hot Docs. Também temos “Beleza Tóxica” (Canadá), de Phyllis Ellis, que fez muito sucesso na última edição da Mostra e trata da falta de regulação da indústria cosmética. Entre os filmes nacionais, destaca-se “Amazônia Sociedade Anônima”, em que o diretor Estêvão Ciavatta focaliza índios e ribeirinhos que enfrentam máfias de roubo de terras e desmatamento ilegal para salvar a floresta Amazônica.