Se você nunca ouviu um podcast, é muito provável que seu amigo já tenha escutado esse tipo de mídia. Uma pesquisa realizada pelo Ibope em janeiro deste ano e divulgada em maio dá conta do momento efervescente dos arquivos digitais de áudio transmitidos pela internet. O levantamento sinaliza que 40% dos 120 milhões de internautas do país já tiveram contato com algum podcast. O termo apareceu em 2005, mas, só nos últimos dois anos, começou a fazer parte da rotina de boa parte dos brasileiros.
Um dos podcasts mais populares do país é o Mamilos, criado em 2014 pela belo-horizontina Cris Bartis e pela paulistana Juliana Wallauer. A cada semana, a dupla de publicitárias se propõe a tratar com especialistas sobre temas espinhosos de um jeito mais leve e sem perder a informação. Os programas são semanais e chegam a alcançar 200 mil plays. “Esse é o jornalismo que a gente se propõe a fazer, com humor e empatia, embora não sejamos jornalistas”, comenta Cris, que mora em São Paulo há 11 anos.
Para ouvir os programas disponíveis (e são milhares, dos mais variados temas e durações, que vão de 15 a 90 minutos) basta ter internet e acessar plataformas de streaming ou os chamados difusores de podcasts. A popularização dos smartphones, meio pelo qual 75% dos usuários consomem esse tipo de conteúdo, é peça-chave no momento de ascensão dos arquivos digitais de áudio.
Outro trunfo desse formato é dar ao ouvinte a possibilidade de fruir os programas quando e onde quiser, independentemente de estar no trânsito ou limpando a casa. O fato de grandes veículos de comunicação terem abraçado a tendência também contribui para a massificação dos podcasts.
“O Brasil, hoje, descobriu que o podcast é uma ferramenta que possibilita o aprofundamento em determinados assuntos com muita rapidez e fluidez”, acredita o jornalista mineiro Marcelo Miranda, idealizador do Saco de Ossos, programa de entrevistas sobre a ficção de horror no cinema, na literatura, nos quadrinhos e em outras artes.
Na prática, qualquer pessoa pode criar um podcast – seja aquele com um aparato mais profissional, seja uma produção independente, feita em casa. Segundo dados da Associação Brasileira de Podcaster (ABPod), já são mais de 3.000 no território nacional. É aí que mora um dos desafios: no vasto mundo da internet, como ser encontrado pelo ouvinte na chamada “podosfera”?
Para o historiador Matias Pinto, que comanda o quinzenal Fronteiras Invisíveis do Futebol, é primordial criar um bom roteiro, oferecer conteúdo relevante, autêntico e embasado em pesquisa minuciosa. “É importante sempre se renovar, buscar novas leituras. A informação tem que ter substância”, afirma.
Professora de marketing digital do Centro Universitário Internacional Uninter, Maria Carolina Avis diz que os produtores devem ter em mente uma questão fundamental: conhecer o público para o qual se quer falar e entender suas preferências. “Essa regra precisa ser revista e atualizada, porque o comportamento do usuário sempre muda”, destaca.
Realidade
Os podcasts já ocupam seu espaço na cultura. Símbolo pop, a MTV brasileira criou a categoria Podcast do Ano na segunda edição do MTV Millennial Awards, premiação dedicada àqueles que nasceram nos anos 90 e no início dos 2000. Quem levou o prêmio foi o programa Um Milkshake Chamado Wanda. Já o poeta mineiro Pedro Muriel enxergou no fenômeno mais uma maneira de alcançar o público e promover sua arte. Em junho, foi lançado o Poemacast, projeto que reúne 60 textos declamados por ele e por diversos convidados.
Sempre Editora amplia plataformas
Sintonizada com o mercado de podcasts, a Sempre Editora, desde o fim das eleições do ano passado, investe na produção de podcasts para criar mais uma plataforma de interação com o internauta.
Segundo Jéssica Almeida, jornalista responsável pelo setor de crossmedia de O TEMPO, o jornalismo, em um cenário de tantas mudanças tecnológicas e também na forma de se consumir informação, tem de buscar alternativas para se reinventar. “Nesse sentido, o podcast é uma saída muito interessante, porque conseguimos ampliar as análises em uma nova plataforma”, afirma.
Atualmente, são dois programas semanais: Tempo Hábil, que debate o que é notícia em Minas em diferentes áreas, e Tempo de Série, focando os seriados mais populares da atualidade. Há, ainda, produções pontuais em casos de eventos específicos.
Segundo Jéssica, o objetivo do formato é criar um grande leque de opções para o internauta. “A ideia é ampliar essa produção”, comenta. (BM)