Para além do que tem a dizer, “Tragédia”, nova empreitada da companhia teatral QuatrolosCinco – Teatro do Comum, quer lançar ao público questões. “Estamos em um momento no qual estamos muito afetados com todo esse contexto social e político, e tentamos falar disso sem cair no óbvio, tentando fugir do ‘textão do Facebook’, da obviedade do discurso político”, conta Marcos Coletta, um dos responsáveis pela dramaturgia, ao lado de Assis Benevenuto. 

Nesse percurso, diz Coletta, o grupo chegou à tragédia grega. Mais especificamente a “Antígona”. “É a partir dela que a gente fala do hoje. Do que todos estão falando, mas não da forma que já foi, e, sim, a nossa forma de conversar, dialogar, pensando muito num contexto que antecedeu esse presente. Porque não adianta falar dos problemas de agora sem pensar, por exemplo, como o nosso país foi construído, como as nossas leis foram criadas, quem está no poder e desde quando... Tudo isso que parece que está acontecendo agora, na verdade, sempre foi assim”, pontua.

Assis Benevenuto lembra que o processo que desaguou no sétimo espetáculo do QuatrolosCinco seguiu o caminho habitual da trupe: uma construção coletiva cujo ponto de partida é um “trabalho de mesa”. Na távola, os integrantes trocam impressões sobre os tempos atuais, narram incômodos e compartilham vivências e leituras. Nessa “tempestade cerebral”, o jogo de sinuca veio como uma metáfora que se estende à política, onde a estratégia divide espaço com o fator sorte. Um pouco como na vida. “A sinuca está no imaginário do brasileiro, mesmo de quem não sabe jogar. E, a partir do jogo, a gente traz à cena o universo da tragédia clássica, mas de uma forma contemporânea”. 


Vale lembrar que essa é a primeira vez que um artista externo é convidado a dirigir o grupo: no caso, Ricardo Alves Jr. Com a palavra, Assis: "Ricardo é um diretor de cinema, tem todo um trabalho com a câmera, e a gente aproveitou isso para encontrar um lugar de linguagem diferente, que não é o teatro". Não bastasse, prossegue Assis, as duas partes veem convergências  no que tange a vários interesses. "Ele é  nosso contemporâneo  tanto no sentido de idade quanto no que tem feito. Um sempre acompanhou o trabalho do outro (o diretor e o grupo), a gente sempre se vê e se fala. E como o Quatroloscinco completou dez anos de trajetória, com essa característica de sempre manter uma criação coletiva, pensamos: 'Vamos experimentar uma novidade no processo'. Achamos que seria interessante".

O processo, diz Benevenuto, fluiu "supertranquilamente". Guardadas as diferenças de cada meio. "Talvez no cinema exista uma exista uma divisão mais certa de funções, de atividades, mas, no teatro, o que a gente propõe é isso (a coletividade)".  

O QUÊ. “Tragédia”
ONDE. Funarte MG (rua Januária, 68, Centro)
QUANDO. De 11 a 25/10, de quarta a domingo, às 20h30
QUANTO. R$ 20 (inteira)