Longevo

Sempre um Papo dá início à programação 2021 e festeja 35 anos

A nova temporada tem início exatamente nesta segunda, com a presença do escritor português Valter Hugo Mãe, que vai falar sobre seu mais recente livro, “Contra Mim

Por Patrícia Cassese
Publicado em 08 de março de 2021 | 09:28
 
 
normal

Ao falar sobre o quanto o projeto Sempre um Papo se entrelaçou à sua vida, o jornalista e escritor Afonso Borges brinca: "Às vezes fico pensando: será que não sei fazer outra coisa, não? Sei lá, plantar árvore, ser fazendeiro... Ou mesmo voltar a exercer o jornalismo, afinal, quantos anos trabalhei em redação?". Se de fato esses pensamentos passam pela cabeça do mineiro, é fácil supor que eles se dissipam rapidamente. Inequívoco case de sucesso, com versões em outras cidades do país e reverberação no meio literário mundo afora, o Sempre um Papo completa, neste 2021, 35 anos de existência. Aliás, a nova temporada tem início exatamente nesta segunda, com a presença do escritor português Valter Hugo Mãe, que vai falar sobre seu mais recente livro, “Contra Mim” (Editora Globo).

Na verdade, a semana de abertura já é com chave de ouro: além de Valter Hugo, Afonso Borges vai conversar com o angolano José Eduardo Agualusa (dia 9), o moçambicano Mia Couto (dia 10), o português José Luiz Peixoto (dia 11) e o angolano Gonçalo Tavares (dia 12). Eles lançam, respectivamente, os livros “Os Vivos e os Outros” (Tusquets), “O Mapeador de Ausências” (Cia das Letras), "Regresso à Casa” (Dublinense) e “Atlas do Corpo e da Imaginação” (Dublinense). Detalhe: mesmo sendo quarta-feira a data de seu aniversário (ele completa 59 anos), Afonso Borges não pensou em pular o dia.

Dispensável dizer que, ao menos por ora, o projeto segue no ambiente virtual, mas recheado de afeto, palavra que Afonso proferiu várias vezs no curso da entrevista. "É fato, perdemos muito, muito com o virtual, mas temos que entender que a única forma possível hoje para nos comunicar. A única forma. Não tem outra. Não podemos nos encontrar, não podemos aglomerar. Só temos o virtual. Então, vamos fazer com afeto, vamos fazer com carinho", diz, exalando resiliência. "Na verdade, no ano passado, a gente fez muitos testes para tentar criar novas formas, novas ideias, novos formatos dentro do campo da live. Em dado momento, todo mundo estava dizendo que as lives estavam chatas, que ninguém aguentava mais. Mas no final cheguei à conclusão de que não adiantava inventar. O que adianta é o olho no olho. E o olho no olho presencial não vai acontecer, então, vamos fazer na tela, com afeto, com experiência. O que eu posso oferecer são 35 anos de familiaridade com o assunto, isso eu posso transportar para a tela, e é o que vamos fazer. Mesmo sem perspectiva de volta, nós vamos para a tela com o afeto". 

O fato de a agenda começar com escritores lusófonos, salienta Afonso, se por uma escolha sem um motivo por trás em particular. "Vamos começar com os portugueses e os africanos, e logo depois a programação persiste com a toda produção cultural brasileira, como a gente sempre fez". O produtor enfatiza que o único critério objetivo que de fato norteia o Sempre um Papo é trabalhar a atualidade dos lançamentos. "Junto com o mercado, fazendo chegar aos leitores o mais recente livro dos autores. Este é o segredo". Ele revela que muitas vezes ouve críticas em relação à "repetição" de nomes. "A pessoa fala: 'Ah, de novo Ruy Castro?' 'De novo Fernando Moraes?' É de novo sim! Quem escreve, quem canta, quem dança, qualquer artista do mundo precisa lançar seu mais recente trabalho, fazer com que ele seja conhecido". 

Mas se este é o norte, digamos assim, prático, o objetivo precípuo é incentivar o hábito da leitura e, numa instância maior, a difusão da cultura.  "Tenho amigos contemporâneos que foram a inúmeros 'Sempre um Papo', e, ao mesmo tempo, tenho gente de 25 que também já foi a várias edições. Porque este é o segredo, é colocar as pessoas olho no olho, conversando. O balanço dos 35 anos do Sempre um Papo está ligado ao olhar de agradecimento que as pessoas me lançam ao sair de um auditório, ao olhar de contentamento, de dizer o seguinte: 'Muito obrigado por proporcionar esse encontro'. É esse o meu alimento e é dele que faço meu balanço. O olhar das pessoas, a gratidão, associado à mudança que pode ocorrer com as palavras que os autores falam nos eventos".

Uma mudança, aliás, que tem nele próprio outro bom exemplo. "Sinto que depois de todos esses anos, o projeto me tornou uma pessoa mais amena. Eu era muito revoltado e hoje sou uma pessoa que escuta mais, que lê a outra pessoa melhor...e isso tudo me foi proporcionado pela literatura, pelo exercício da leitura, pelo contato com os escritores. Certa vez, o Affonso Romano de Sant'Anna me disse que eu fiz uma universidade livre, e que, se eu contasse as horas em que estive em lives ou eventos físicos com escritores, poderia ter aí umas cinco ou seis formações, como a de psicologia. E é verdade! Seis mil, sete mil eventos, calcula o número de horas e projeta o resultado num tempo de escola. Dá muito, né? Então, eu fui formado pela cabeça do escritores. Eles me ensinaram tudo".

Sempre um Papo 35 anos abre programação 2021
8 a 12/3, segunda a sexta-feira, às 18h. 
Eventos virtuais gratuitos com transmissão pelo Youtube, Instagram e Facebook: @sempreumpapo
Informações: (31) 2261-1501 - www.sempreumpapo.com.br

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!