Desde sua estreia na literatura, com o livro “O Homem que Matou O Escritor” (2000), centrado em contos, o mineiro Sérgio Rodrigues tem intercalado a publicação de romances e narrativas mais curtas, como mostra seu trabalho mais recente, também de contos, “A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos”, que ele lança nesta terça-feira (13) na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, a convite do Sempre Um Papo.

A obra revisita o gênero no qual Rodrigues deu os primeiros passos como autor de ficção e reúne textos que prestam uma homenagem à própria literatura, entre outras artes. Não à toa, o texto que dá nome ao volume coloca em primeiro plano nomes como o músico João Gilberto (1931-2019) e a banda os Novos Baianos, enquanto o conto “A Fruta por Dentro” põe o leitor diante de Capitu, a mais famosa das personagens femininas de Machado de Assis (1839-1908). 

Para Rodrigues, criar histórias a partir desses legados é uma maneira de se reconectar com o que de melhor já foi produzido no Brasil. “É também uma tentativa de voltar a gostar do país. A literatura de Machado de Assis, a bossa nova de João Gilberto, os Novos Baianos me fizeram acreditar que o Brasil poderia ser um país decente, uma referência positiva no mundo. Isso faz você sentir orgulho do seu país, um sentimento que hoje me parece muito remoto. O Brasil está numa fase mais que negativa, eu diria que tenebrosa. E o livro é uma tentativa de buscar redescobrir esse Brasil positivo”, frisa Rodrigues.

O escritor, que celebra Machado como o maior mestre das letras brasileiras, também situa o diálogo com a obra do autor de “Dom Casmurro” como uma maneira de contemplar o jogo com a literatura em seus contos. Dessa forma, “A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos” mostra-se como o trabalho em que Rodrigues mais experimenta as estratégias da metaficção.

“Isso sempre existiu e fez parte, em alguma medida, no que eu faço, mas agora isso está mais evidente. O humor também é outro traço que está bastante presente em tudo que eu faço”, pontua o escritor. “Eu gosto muito do humor e ele é algo ainda subestimado. Há críticos que consideram o humor uma coisa menor na literatura, e eu não poderia discordar mais, porque a literatura que sempre me interessou a vida inteira é a que conversava com o humor. E, se você observar, Machado de Assis era um humorista genial, James Joyce também (1882- 1941), assim como (Jorge Luis) Borges (1899-1986)”, completa ele.

Trecho

“Desconfie das palavras. Se declaram amor, exija mais, cobre provas, invente caprichos. Se lhe dão as costas, vá atrás. Sendo preciso chegar a tanto, implore, humilhe-se, mas guarde uma secreta porção de orgulho: ela lhe será útil quando, após a próxima reconciliação, vocês brigarem de novo. Se desconfiar que as palavras lhe são infiéis, é porque são mesmo”. (Em “Conselhos Literários Fundamentais”)

Agenda

O quê. Sérgio Rodrigues lança “A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos”, no Sempre Um Papo
Quando. Hoje, às 19h30
Onde. Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. Entrada gratuita.