Assim que foi ficando iminente a necessidade de a população brasileira ter que aderir ao isolamento social, tal como outros países já estavam vivenciando, a atriz Teuda Bara tomou a atitude mais prudente. "Sou do grupo de risco, né? Por causa da minha idade, por ter passado por uma cirurgia na perna, por tomar remédio de pressão... Então, fui até o cardiologista, antes de quarentenar. Como estava tudo bem, aí, era ficar quieta mesmo. O que eu vou fazer?", indaga ela, que, desde então, saiu apenas uma vez de casa. "Fui gravar para uma emissora de TV, no Dia do Artista, ali, na frente do CCBB (na praça da Liberdade). Quase chorei quando vi o canteiro de margaridas. Ô, meu Deus! Vi de longe, digo, porque ainda estava fechado", recorda ela.
Mas sim, um alento para Teuda Bara vem sendo dado pelas oportunidades de exercer seu ofício remotamente. Nesta quinta-feira, por exemplo, ela é a estrela do segundo episódio da websérie #Quarentemas, que integra o projeto Teatro EmMov Digital. Intitulado “Embaralhada”, a produção teve suas cenas elaboradas pela artista sem sair de casa, através de muitas chamadas de vídeo, ensaios e reuniões virtuais. A direção geral é de Inês Peixoto (colega de Teuda no Galpão). As premissas dramatúrgicas são de Vinicius Calderoni e a idealização e coordenação de produção, de Tatyana Rubim
"A ideia era que eu abordasse algo que estava me incomodando, e acabei falando sobre o acúmulo de lives", conta ela, divertida. E qual seria o problema das lives? Simples. As transmissões em tempo real são apenas uma entre as várias atrações disponibilizadas para quem está em casa neste período de pandemia (e dá-lhe festivais de cinema gratuitos, disponibilização em vídeo de shows e encontros, etc). Paradoxalmente, esse jorro cultural acaba gerando um "problema". "É muita coisa que eu tenho que ver. Não dou conta! (risos) Então, improviso em cima disso. Mas, olha, fazer isso (o episódio) levou o dia inteiro para fazer - e me encheu de alegria! Foi muito bom brincar com pessoas queridas, a Inês foi ótima, e meu filho, que está em quarentena comigo, me ajudando, para que eu pudesse mexer para lá e para cá. Eu vi o primeiro episódio da série, o da menina, a Kayete, e achei ótimo, maravilhoso, lindo. Ela nadando em cima daquela boia... Me diverti demais", exalta Teuda.
A celebrada atriz, porém, reconhece - mas sempre sem perder o humor - uma certa dificuldade em lidar com aspectos técnicos dessas novas maneiras de continuar a exercitar seu ofício. "Brinco que é meio que aprender a andar de pernas de pau. Veja, eu vou fazer 80 anos, não sou da época digital. Diferentemente da minha neta, a Iara, que pega meu tablet, entra, tira foto... Quantos anos ela tem? Cinco! Uma gracinha, a menina".
Outra questão é que, mesmo feliz, Teuda salienta que a tela não preenche o espaço que os encontros reais têm. "Nada substitui o ser humano, mas se é a única forma de comunicar, trabalhar... A gente está preso, não pode fazer nada, então, é uma oportunidade, e espero que as pessoas gostem (do episódio)". Posso dizer que eu ainda estou bem, tendo aulas com de música, cantando no celular, em reuniões (virtuais) com o Galpão, decorando texto... É a melhor parte (da nova rotina)", pontua.