Perfil

Thiago Mazza: Muito além do horizonte

Autor da empena com o galo e a raposa, no centro da cidade, o muralista vem deixando seus traços também em outros países, como a Croácia e a Suécia

Por Patrícia Cassese
Publicado em 23 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O belo-horizontino Thiago Mazza confessa: cada vez que está em outro país, diante do desafio de preencher o muro à frente com seus traços, se emociona. Considerando-se que já assinou pinturas nas ruas da Croácia, Alemanha, México e Suécia, para citar alguns, além de trabalhos agendados para 2020 na Grécia, dá para avaliar o quão esse auto-confesso detalhista artista tem histórias para contar. Na verdade, interessantíssimas, como o início de tudo. Thiago, vale dizer, nunca imaginou que pudesse viver de arte – tanto que, à época do vestibular, prestou provas para engenharia florestal e design gráfico. Acabou ficando com a segunda opção. 
 
Diploma na mão, seguiu o caminho tradicional: trabalhar em agência. “Fazia de tudo, e, na verdade, gostava”, relembra. Mas o entusiasmo inicial foi perdendo a intensidade com a relação por vezes pragmática com os clientes. E quando, num enxugamento de pessoal, foi demitido, se flagrou certo dia em seu quarto, reparando com atenção à parede branca à sua frente. 
 
Era o início de 2012, e, de pronto, ele resolveu preenchê-la com uma pintura. “Aí, uma amiga viu, gostou, e acabei pintando o quarto dela também”, rememora. Logo veio o convite para deixar sua marca no bar Graças a Deus, no Santo Antônio. “Foi meu primeiro cliente”, orgulha-se. Mesmo assim, ainda fazia pinturas em pequenas telas. Nesta época, conheceu aquela que se tornou sua mulher e parceira, Juliana Flores, com quem, por conta de uma mudança, produziu um saldão dessas peças.
 
Bem, quem acompanha com atenção a cena street art sabe: Juliana é um dos pilares do Circuito Urbano de Arte, o Cura, que vem dando uma nova cara à cidade. E quando o projeto do mirante da rua Sapucaí, do coletivo, foi aprovado, Mazza foi um artistas participantes. É dele, pois, a pintura que traz uma raposa e um galo, no centro da cidade. Certo, uma alusão aos mascotes de dois dos times que mobilizam a capital mineira.
 
Mas não só. “Acho que acabei optando por um tema legal, que faz sentido no mundo inteiro, por causa da fábula (O Galo e a Raposa, de Esopo). Então, foi um trabalho que rodou muito no Instagram e sites”, diz ele.
 
E prossegue: “Sem dúvida, o Cura abriu muitas portas, me deu crédito. Eu brincava que se não pintasse uma empena na minha cidade, ninguém ia me chamar para pintar fora. Pensava: se me derem chance, vou dar o melhor de mim. Talvez esteticamente esse trabalho não seja o que mais gosto, hoje – aliás, não é mais a linha que sigo, prefiro mais as plantas. Mas representou uma mudança na minha trajetória”, avalia.
 
Inicialmente, os trabalhos no exterior eram fruto do empenho do casal, que mandava e-mails para pessoas ligadas à área do muralismo. “Foi assim que a gente produziu a minha primeira viagem para a Europa: eu custeei as passagens, e, lá, conseguia lugares para ficar de graça. O pessoal dava tintas, eu pintava”. A segunda ida para o velho mundo (com paradas na Rússia e na Espanha) se processou da mesma forma, mas, na sequência, veio o primeiro convite com direito a despesas inclusas: no caso, para o México. 
 
“No ano seguinte, acabei voltando para lá e, depois, fui para Lourdes, Portugal”. Foi no ano passado que ele deu um salto e tanto: o convite para deixar sua marca na Suécia não só abarcava a passagem, como dava direito a cachê. “Achei que pintaria em nove dias, mas, quando cheguei lá, a parede era de tijolo, ou seja, não lisa. E foi desafiador, pois não trabalho com spray, e sim com pincel e tinta de parede. Assim, tinha que fechar os buraquinhos do tijolo, e o tempo, ora fazia frio, ora sol, depois chovia. Mas, graças a Deus, sempre entreguei meus murais no prazo”, orgulha-se.
 
Em tempo: este mês, Thiago Mazza colocou à mostra outra faceta de seu talento: ilustrou o livro “João-Graveto e João Pessoa”, de Marismar Borém (editora Aletria). Em Belo Horizonte, seu traço pode ser visto, por exemplo, no shopping Boulevard (Espaço BeGreen), com o painel “O Jardim”. Não bastasse, participou da CasaCor, no espaço “Café”, de Rodrigo Aguiar.

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