Ao somar R$ 8,01 bilhões em agosto, as vendas do Tesouro Direto alcançaram o maior valor mensal desde a criação do programa em 2002. O resultado da comercialização de títulos públicos foi obtido após uma combinação de fatores econômicos e operacionais favoráveis, de acordo com especialistas. 

A maior marca registrada em um mês, até então, foi em março de 2023, quando o saldo foi de R$ 6,84 bilhões. “A subida recente da Selic pelo Banco Central, interrompendo um ciclo de queda, faz com que os títulos de renda fixa, como o Tesouro Direto, ofereçam boas taxas de rentabilidade e com risco reduzido, especialmente em um cenário de inflação controlada”, avaliou o educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier. 

Fatores positivos para o cenário também foram o vencimento de títulos de longo prazo corrigidos pela inflação, que foram trocados por papéis novos, e a forte emissão de títulos corrigidos pela Taxa Selic (juros básicos da economia), cujas emissões mensais atingiram R$ 3,34 bilhões e só perderam para março de 2023, quando tinham somado R$ 4,32 bilhões.

Outra fator que pode ter relação com o resultado, segundo o especialista, é a sequência de suspensões das negociações, em função da greve dos servidores do Tesouro Nacional. A mobilização já resultou em paradas no sistema por quatro semanas consecutivas, interrompendo as vendas dos títulos. 

O movimento pede isonomia de carreiras em mesmo nível, recomposição do quadro após evasão, dentre outros pleitos. “A suspensão frequente das negociações pode ter gerado um senso de urgência entre os investidores, que buscaram antecipar suas compras para evitar futuras interrupções”, ressaltou Lamounier.

O que rende mais? 

Para quem deseja investir no Tesouro Direto, neste momento, Fernando aconselha que para quem deseja segurança em curto prazo o Tesouro Selic é a opção mais segura. “Já que não sofre com oscilações de mercado”, explicou. Já para quem pensa em um aporte a longo prazo, o IPCA+ 2029 e o Tesouro Prefixado 2027 podem oferecer retornos acima da média histórica. 

No mesmo sentido, o Tesouro IPCA+ traz uma proteção ao investimento contra a inflação. “Enquanto o Tesouro Prefixado garante uma taxa fixa até o vencimento. A marcação a mercado deve ser considerada, pois pode gerar ganhos ou perdas em resgates antecipados”, sugeriu o diretor da Multimarcas. 

Interrupções 

Para o educador financeiro, a greve dos servidores evidenciou a fragilidade da infraestrutura atual na comercialização do Tesouro Direto. “O governo deveria considerar o fortalecimento da infraestrutura técnica para garantir a continuidade das operações, mesmo em situações de greve. A interrupção constante das negociações prejudica os investidores e afeta a confiança no sistema”, observou Fernando. 

Uma alternativa, na avaliação dele, seria implementar processos automatizados e melhorias na plataforma para permitir a continuidade nas vendas.

Vendas 

Os títulos mais procurados pelos investidores em agosto foram os corrigidos pela inflação (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA), cuja participação nas vendas atingiu 46,6%. Os títulos vinculados à Selic (juros básicos da economia) corresponderam a 41,7% do total, enquanto os prefixados, com juros definidos no momento da emissão, totalizaram 7,8%.

Destinados ao financiamento de aposentadorias, o Tesouro Renda+, lançado no início de 2023, respondeu por 2,4% das vendas. Criado em agosto do ano passado, o novo título Tesouro Educa+, que pretende financiar uma poupança para o ensino superior, atraiu apenas 1,5% das vendas.

O interesse por papéis vinculados aos juros básicos é justificado pelo alto nível da Taxa Selic. A taxa, que estava em 10,5% ao ano, de maio e agosto deste ano, foi elevada para 10,75% ao ano. Com a expectativa de novas altas, os papéis continuam atrativos. Os títulos vinculados à inflação também têm atraído os investidores por causa da expectativa de alta da inflação oficial nos próximos meses.

O estoque total do Tesouro Direto alcançou R$ 141,54 bilhões no fim de agosto, queda de 2,64% em relação ao mês anterior (R$ 145,39 bilhões), mas alta de 16,4% em relação a agosto do ano passado (R$ 121,61 bilhões). A queda ocorreu porque os resgates superaram as vendas em R$ 4,94 bilhões no último mês, principalmente por causa do volume recorde de vencimentos dos títulos vinculados à inflação.

(Agência Brasil)