Combinando tradições da gastronomia de Belo Horizonte com música boa e ambiente agradável, os bares com estufas voltaram a ser queridinhos na noite da capital. Concentrados mais na região central, dentro de lugares como o Mercado Novo, Galera São Vicente e Edifício Central, também é possível ver essa estrutura invadindo balcões de estabelecimentos de outras regiões de BH.
Para “modernizar” a tradição, os bares com estufa têm apostado em trazer algo que o consumidor tanto procura: a experiência. Segundo Simone Lopes, analista do Sebrae, a busca por algo novo pode ter motivado os empreendedores a encontrar uma oportunidade. “O movimento reflete muito o contexto do mercado atual, onde as pessoas buscam por experiências que os levam a lugares de afetividade, como era antigamente. O mercado tem buscado por esse tipo de experiência, e o segmento de alimentação construiu o conceito por cima das estufas, que é algo muito peculiar em Minas Gerais desde sempre”, conta.
A origem dos bares com estufa na capital não possui uma história exata, mas muitas pessoas dizem que ela aconteceu devido a necessidade. Na região central, sem muitos estabelecimentos espaçosos, com grandes cozinhas e espaço para armazenar as comidas, os donos optaram pelas estruturas simples nos balcões para manter a comida quente e conseguir vender ao longo do dia.
A quantidade de bares com estufas cresceu muito em Belo Horizonte nos últimos anos. Se aproveitando da tendência, das possibilidades que o mercado gastronômico oferece e de algumas facilidades, como o tamanho menor da cozinha e a economia nos produtos, que ficam expostas para serem compradas, o segmento foi um jeito diferente de atrair clientes . “É uma pérola que estava escondida nas características da gastronomia de Minas. O empreendedor viu uma oportunidade e uma pegada para se construir um negócio. É um modelo que remete a algo bem tradicional, relativamente fácil de implementar. Os bares com estufa possuem facilidades que somados à tendência fizeram com que os empreendimentos multiplicassem”, explica Aline.
Seguir as tradições das raízes da culinária de BH também é o objetivo de Leonardo Apparício, um dos sócios do Rei da Estufa, tradicional dentro do Mercado Novo. Ele conta que o bar foi criado em homenagem a outros estabelecimentos antigos da capital. “Estávamos na primeira leva de lojas do Mercado Novo, em 2019. Nossa inspiração foram os botecos do centro de BH. Tínhamos referência do Bola Bar, no Padre Eustáquio, e outros no Rio. Nosso objetivo era homenagear, fazer releituras desses bares”, diz.
Rei da Estufa fica no coração do Mercado Novo - Foto: Reprodução/Instagram
Para o empresário, os bares com esse perfil têm pequenos detalhes que fazem a diferença para o cliente. “Atendimento mais rápido, a comida pronta, que às vezes precisa de alguma finalização. A pessoa está com pressa. E a estufa serve como vitrine, por isso é importante ela estar sempre bonita”.
Quem abriu um bar recentemente e está feliz com o resultado é Rafa Marra, sócio-proprietário do Angu Bar de Estufa, que fica no bairro Lourdes, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Inaugurado no último dia 18 de maio, o estabelecimento nasceu com a ideia de lembrar outros bares da capital. “O Angu surgiu da nossa vontade de ter uma casa que fosse ao mesmo tempo simples e sofisticada, tanto em operação quanto em cardápio. Ter um espaço com música e comida boa, onde não só público se divertia. Poderíamos ter um bar que lembra os bares mais tradicionais em BH, no coração do Lourdes”, diz.
Angu Bar de Estufa - Foto: Flávio Tavares/O Tempo
Para Rafa, o que mais chama a atenção em um bar com estufas é a possibilidade de você está sempre em contato com a comida. “O maior charme do bar de estufa é você não ter nenhuma surpresa sobre como será seu prato. Você come com os olhos, vendo tudo quentinho e apetitoso na sua frente! Além disso, não tem o risco de sentar na mesa e esperar um prato por 40 minutos. É chegar no balcão e sair com seu prato prontinho para ser deliciado.”
‘Estufa boa é estufa cheia’
Conhecido por frequentar os melhores bares e botecos de BH, Nenel Neto, dono do perfil Baixa Gastronomia, tem autoridade quando no assunto. “Estufa boa é estufa cheia, não importa o tamanho. Temos vários bares com estufas oceânicas entre um pirex e outro. É melhor ter uma estufa pequena e digna do que uma grande e vazia”.
Para ele, as estufas possuem seu charme, mas não podem ser romantizadas. “Temos que ter muito cuidado para não virar fetiche, porque a estufa sempre foi algo muito bonito, mas vem de uma necessidade. É claro que uma comida fresca é melhor, um bolinho frito na hora é melhor do que o que está na estufa por horas. Mas ela precisa ser bem tratada, o cara que precisa da estufa tem que virar a carne, manter uma temperatura e cuidar”, analisa.
“Ela existe por uma necessidade. No Centro da cidade, por exemplo, a comida é feita pelo cozinheiro que vai embora e o dono não tem dinheiro para pagar outro então ele deixá la na estufa”, completa Nenel.