O projeto que discute a instalação de placas para a construção de uma usina fotovoltaica da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) no lago da Usina Hidrelétrica de Três Marias, na região Central do estado, voltou a ser alvo de críticas durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa (ALMG) nesta sexta-feira (12). Representantes de movimentos sociais das cidades próximas questionaram a sequência do projeto e discutiram sobre os impactos causados pela instalação das estruturas.
A usina começou a ser construída em 1957 e foi inaugurada em 1962. Ela possui uma barragem com 2,7 mil metros de comprimento, que recebe as águas dos rios São Francisco, Paraopeba, Indaiá e outros, criando um reservatório de 21 bilhões de metros cúbicos de água.
Desde 2021, a Cemig vem realizando a construção das chamadas Usinas Fotovoltaicas, com painéis solares que podem auxiliar no fornecimento de energia. A primeira foi construída ainda em terra, mas o projeto quer criar outras duas estruturas flutuantes dentro da represa. As placas ocupariam uma área de 55 hectares entre a Prainha e o Hotel Grande Lago.
Representantes de diversos setores da região questionam os impactos que as estruturas podem trazer. A diminuição no movimento de turistas, alteração do ecossistema aquático e a impossibilidade do uso da praia pela população são alguns dos problemas levantados.
Thais Kênia Marciano, ativista ambiental e líder comunitária da cidade de Três Marias, explica que a instalação das placas vai afetar as principais fontes de renda dos moradores da região. “A principal situação com certeza vai impactar toda a cadeia da pesca e do turismo. A represa de Três Marias é um cartão postal da região. Isso vai impactar de toda forma no acesso, porque as placas seriam colocadas na lâmina de água na margem da represa, perto da entrada e o uso múltiplo das águas”, diz.
Ainda segundo a representante, os moradores não conseguem um diálogo correto com a Cemig para expor suas demandas. “A represa é uma grande riqueza. Ela encanta todas as pessoas. Três Marias é conhecida nacionalmente pela beleza. Há um impacto muito grande para o comércio, hotelaria, cadeia da pesca. Vai afastar o turismo da cidade e consequentemente diminuir a geração de emprego e renda. A Cemig nunca compareceu, por iniciativa própria, para conversar com a comunidade e as lideranças ambientais. Ela só comparece quando é intimada para uma audiência pública”, explica.
Os questionamentos foram corroborados pelos deputados na audiência. O deputado Professor Cleiton (PV), disse que há também o problema da segurança das pessoas que transitam próximo às placas. ”De que forma a Cemig vai garantir que as pessoas não tenham acesso ali e não morram eletrocutadas porque a água vai estar energizada. As respostas da Cemig são simples. A gente pede para que assumam que erraram e desistam do projeto”, disse durante a audiência.
As obras deveriam começar em dezembro deste ano, com a operação sendo iniciada em 2025. Mas, no último dia 21, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que as obras foram suspensas “em razão de alteração no comando da Vice-Presidência de Geração e Transmissão da Companhia”.
Essa foi a terceira audiência da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia. A primeira foi em outubro do ano passado e a segunda em abril, quando foi realizada uma visita técnica para a elaboração de um relatório técnico.
A reportagem questionou a Cemig após a audiência e aguarda retorno.