Basta um clique e uma pesquisa no Google para ter nas pontas dos dedos uma infinidade de produtos de beleza à disposição para comprar. No Brasil, o mercado de cosméticos - o terceiro maior do mundo - movimenta bilhões por ano. Mas, apesar de toda a tecnologia, uma parcela significativa dos consumidores prefere escolher e adquirir os produtos de pele, perfumaria e higiene pessoal por meio de catálogos, as famosas revistas.
Somente a Natura e a Avon, líderes nos ramos de perfumaria e cosméticos, respectivamente, geram renda para pelo menos 1,8 milhão no país. Na América Latina, esse número salta para 3,5 milhões de representantes. "Graças as revendedoras, a Natura e a Avon chegam em lugares que nem os Correios entregam. Estamos presentes em todos os municípios", assegura o vice-presidente das marcas, Agenor Leão.
Ainda hoje, na era do digital, 80% das vendas das marcas ocorrem por meio das consultoras. As táticas adotadas por cada uma, no entanto, sofreram alterações nos últimos anos. O comércio de porta a porta, com as revistas nas mãos, continua forte. Porém, muitas utilizam os catálogos digitais, enviados para as clientes por aplicativos de mensagens. “Temos ferramentas que facilitam esse processo", assegura Leão.
Xênia de Assis Silva Pereira, de 44 anos, é uma que se adaptou na era digital, mas mantém o contato próximo com seus 16 mil clientes. Além de porta a porta, ela vende pela internet. “Minha estratégia é disparar (em grupos na internet) promoções e, pelo contato direto que já tenho com as consumidoras, sei o perfil de cada uma. A venda on-line é facilitada devido a essa relação”, confidenciou.
A moradora de Ibirité, município da região metropolitana de Belo Horizonte, era decoradora, mas, há cinco anos, pelo sucesso de vendas, largou a profissão. Hoje trabalha somente como revendedora. “Neste último mês (junho), consegui comprar um carro zero. Também pago a faculdade da minha filha com o dinheiro que ganho da revenda. Minha renda aumentou e muito”, confessou.
Quem também mudou de profissão e se dedica exclusivamente à revenda de produtos por catálogo - físico e digital - é Ana Paula Costa, que por 13 anos atuou na área do marketing político. Ela destaca que no interior de Minas muitos clientes não têm acesso à internet. “Também tem a questão do analfabetismo digital, que atinge principalmente quem tem mais de 50 anos”, frisou. A consultora contabiliza clientes em 18 cidades do Estado.
Da revista para o shopping
O sucesso das revendedoras é tamanho que 781 abriram franquias da Natura - vale destacar que somente quem comercializa por catálogo tem licença para revender produtos da marca em lojas físicas. No total, a empresa possui 896 estabelecimentos comerciais no Brasil, sendo apenas 115 próprios. "A franquia é uma evolução do modelo de consultoria. São consultoras que cresceram na carreira. É o ápice do empreendedorismo a mulher que começou a vender de porta a porta, chegar a ter um empreendimento, uma loja física", destacou o vice-presidente da Natura.
Ainda conforme o executivo, o modelo de consultoria seguirá sendo, por muitos anos, o forte da empresa. "A exposição da marca no varejo acaba beneficiando as consultoras, porque é a venda por relação. O cliente vai ao shopping, experimenta o produto e volta para comprar da consultora dele, já existe uma relação construída", frisou
Festa de reconhecimento
Na penúltima semana de junho, como forma de reconhecer as revendedoras que se destacaram em 2023, a Natura e a Avon realizaram uma mega convenção. O evento, que teve Atibaia (São Paulo) como sede, contou com a presença de 800 consultoras de beleza. Além de hospedagem e alimentação em um resort de luxo - com todas as despesas pagas -, as selecionadas tiveram a oportunidade de visitar a fábrica das marcas em Cajamar (São Paulo), participar de cursos, palestras e workshops.
Os quatro dias de convenção também tiveram festas para celebrar o empenho de cada consultora, sendo que, na noite de gala, o sambista Diogo Nogueira animou o evento. Das 800 consultoras, 30% são da região Sudeste e outras 30% do Nordeste. As regiões Sul e Norte contaram, cada, com cerca de 15% dos destaques, e a região Centro-Oeste com 10%.
*A repórter viajou a convite da Natura