Localizado no coração central de Belo Horizonte, em frente a Praça Sete, o edifício do P7 Criativo pode passar quase despercebido por quem não trabalha nele. Mas, isso promete mudar. Ocupado por empresas e eventos voltados para inovação e tecnologia, o prédio deixa de ter apenas função corporativa e, agora, ganha ares de ponto turístico após a inauguração do restaurante Niê - novo empreendimento instalado no terraço do prédio e que fortalece a “onda dos rooftops”, tendência que vem tomando conta do Centro nos últimos anos.
De acordo com o sócio Elam Moura, a visão panorâmica é um dos fatores que explicam o sucesso dos empreendimentos localizados no topo dos edifícios. “Poder observar a Serra do Curral e outros pontos icônicos da cidade é um diferencial enorme em relação a estabelecimentos que estão no mesmo nível do chão. Para potencializar a experiência, instalamos binóculos iguais aos que existem no famoso Empire State, em Nova York”, diz.
Com investimento de R$ 1,5 milhão, o nome é uma homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou o edifício de 25 andares, inaugurado em 1953. Sob a gestão do Grupo Marchê, composto pelos sócios Pedro Lobo, Aline Prado, Elam Moura, Leonardo Rocha e Leonardo Ximenes, o novo empreendimento faz parte de uma iniciativa do grupo em investir e homenagear espaços icônicos do centro de BH.
A casa oferece almoço, café da tarde, happy hour e programação semanal de DJs, em diferentes estilos, para embalar o clima do pôr do sol à madrugada. Cada prato do menu, elaborado pelo chef Victor Zulliani, é inspirado na culinária dos países onde o arquiteto deixou sua marca, como Itália, França, Argélia, Portugal e Líbano.
Apesar das referências internacionais, há um esforço de incorporar brasilidade em cada prato. Um exemplo disso é o Tartare de Filé, que é um clássico francês, mas que vai temperado com azeite de urucum, um elemento indígena. A apresentação de cada prato também faz referência a Oscar Niemeyer pela escolha de louças brancas e simples, e finalizações arredondadas como as curvas do arquiteto.
Mesmo com todo o requinte, Moura garante que a intenção do local “não é ser inacessível”. Prova disso é que um prato do menu executivo do almoço custa a partir de R$ 38. “Além de atender ao público que trabalha no prédio, também queremos atrair visitantes de toda a cidade e a intenção é que eles voltem ao restaurante diversas vezes”, garante.
O empresário também é dono de outro rooftop na região central, o Eleven, localizado na rua Espírito Santo, que oferece almoço durante a semana e recebe eventos aos sábados e domingos. Aberto há cerca de quatro anos, Moura garante que o espaço “foi um dos pioneiros” no movimento de atrair pessoas da zona sul para o Centro. “Ainda era um desafio atrair público para a região, mal existia o Mercado Novo. Quando abrimos o rooftop começamos a receber pessoas que vinham de Ferrari e Porsche.”
Perto do Niê também foi aberto recentemente o terraço do Edifício Acaiaca, aberto a visitação em dias e horários específicos. Ao som de música ao vivo, os visitantes podem desfrutar da bela paisagem que o mirante proporciona. No entorno também há o No Alto, que funciona no espaço do antigo Top Bar.Diferentemente dos outros rooftops, que são abertos, o No Alto é fechado e com decoração que remete aos anos dourados da capital.
Para Moura, a ocupação da região central é um movimento sem volta. “Quando um turista vai para a Europa, ele não vai para conhecer os condomínios. As pessoas vão aos centros históricos, conhecer a arquitetura e a gastronomia. BH ainda tem um potencial enorme a ser explorado, diversos edifícios que ainda podem ser transformados em negócio”, diz.
Todo tipo de gente
A poucos metros do Niê, ainda no entorno da Praça Sete, está localizado o Mira! - que abriu as portas em março do ano passado. Localizado no 25º andar do edifício Dona Júlia Nunes Guerra, o local recebe festas noturnas às sextas e sábados com temáticas diversas, incluindo hip hop e festas específicas para LGBTs, e que abrangem diversas faixas etárias.
“Faz parte da nossa essência abraçar essa diversidade do Centro. Se você der uma breve caminhada pela rua você vai ver executivos, skatistas, pessoas mais velhas e jovens. Então, nossa programação também reflete toda essa diversidade”, explica Francis Dias, um dos sócios do espaço.
Apesar do terraço se destacar por ter se tornado uma ótima “baladinha noturna ao ar livre”, o rooftop do Mira! não se limita a isso. Para quem deseja ver BH de cima durante o dia, e de quebra degustar um “cafezinho”, pode aproveitar as opções de lanches e bebidas que o local oferece em parceria com a OOP Café de terça a domingo. “É uma forma de aproveitarmos melhor o espaço e otimizarmos a operação. Sem dúvidas, é uma vantagem grande podermos receber diferentes tipos de públicos para desfrutar de diferentes experiências”, aponta.
No entanto, apesar do sucesso dos rooftops na região central, Francis pontua que não é possível analisar esse movimento de forma isolada. “Prefiro pensar numa valorização do Centro como um todo, que envolve o Mercado Novo, a praça Raul Soares, a Sapucaí. Eu acredito que o público deseja diferentes experiências.”
Do Othon Palace à CASACOR
A prova de que a tendência dos rooftops está em alta, com o perdão do trocadilho, é que também está previsto um terraço no icônico edifício Othon Palace. O empreendimento, que passou quase sete anos fechado, recebeu o nome de Afonso Pena 1050 e será transformado em um edifício com moradia e hotelaria em um só espaço. Assinado pela Play Arquitetura em parceria com a Ar.Lo Arquitetos, o projeto busca valorizar e respeitar a história do famoso edifício construído em 1978 e assinado por Raul de Lagos Cirne.
E não é apenas no Centro que eles fazem sucesso. O Rooftop Bar Pampulha, localizado no 4º andar do Pampulha Mall, tem uma visão privilegiada da lagoa mais famosa de BH e proporciona rodas de pagode aos visitantes. Já no bairro Buritis está localizado o Night Market Rooftop, uma casa de eventos a 1070 metros de altitude dividida em dois ambientes.
Além disso, a 29ª edição da Casacor Minas Gerais, que vai até 15 de setembro no Espaço 356, no bairro Olhos D’Água, na região Oeste, também conta com parte de seus ambientes no formato rooftop - mostrando que o conceito também está no radar dos profissionais de arquitetura, design de interiores e paisagismo.
Eduardo Faleiro, diretor da CASACOR Minas Gerais, explica que os rooftops são muito explorados na Europa, por causa da arquitetura local, que é composta por prédios mais baixos com muitos terraços. “Mas, no Brasil, também podemos explorar uma série de usos muito interessantes. A CASACOR já traz ambientes fechados, então um terraço é uma possibilidade de respiro e de se conectar com a natureza e o céu”, aponta.