Já pensou em trabalhar para empresas de qualquer país e receber em euro ou dólar? Se a sua resposta for sim, você precisa conhecer o termo ‘global worker’ - profissionais que se destacam no exterior mesmo sem sair de suas residências. De acordo com a Pesquisa Global Worker da Husky, plataforma da fintech brasileira Nomad, especializada em dar suporte para profissionais remotos que recebem pagamentos internacionais no Brasil, 9,4% dos ‘global workers’ brasileiros estão em Minas Gerais.

Segundo o CEO da Husky, Tiago Santos, o principal perfil de profissionais que atuam nesse mercado são pessoas na casa dos 30 anos, que atuam na área de tecnologia - especialmente no setor financeiro - , moram no Sudeste do Brasil, possuem cônjuge, têm animais de estimação, possuem formação superior e falam inglês fluentemente. 

“O grau de satisfação desta categoria de profissionais é elevado: 77,9% dos entrevistados se sentem confortáveis em trabalhar remotamente para empresas do exterior e receber em moeda estrangeira. Por outro lado, 19,9% afirmam que preferem o regime de contratação tradicional. Os salários são atrativos. A média gira entre R$ 15 mil e R$ 25 mil mensais”, ressalta Tiago.

O levantamento reuniu mais de cem perguntas sobre a formação, renda, estilo de vida e hábitos dos participantes, a fim de mapear o perfil demográfico, principais áreas de atuação e preocupações com a carreira. Dos 1.600 entrevistados, 1.154 já fazem parte da categoria global worker e 341 pretendem se tornar um, enquanto 105 não são e nem possuem interesse em ser. As regiões brasileiras de maior concentração de global workers são o Sudeste e o Sul.

Segundo o executivo, por ganharem remuneração em moeda estrangeira, o potencial de ganhos do ‘profissional global’ é maior. É possível receber em euro ou em dólar, por exemplo. Isso significa que, no processo de conversão, o valor em reais é mais alto e tem-se a chance de ter ganhos maiores. O relatório da Husky indicou que a remuneração é, inclusive, o principal fator para um trabalhador global aceitar uma oferta de vaga. 

Paciência e tempo

Gustavo Estevão, 32, morador de Viçosa, na Zona da Mata mineira, é bacharel em Design de Produtos, especialista em Marketing Digital e presta serviços em home office para empresas da Suécia, Estados Unidos e Inglaterra. Ele afirma que a experiência é positiva e a dinâmica de trabalho é adaptável às diferenças culturais e de fuso horário. “Ter nível básico em inglês é importante, mas com vários bons tradutores online é possível fazer o serviço. Basta ter paciência e tempo. No geral, trabalha-se muito mais em um projeto estrangeiro, não apenas por motivos de linguagem diferente, mas também conversando, negociando e atendendo. No final, o saldo é positivo”, ressalta. 

Em relação às principais vantagens que Gustavo enxerga sobre ser um Global Worker, ele afirma: “Eu não tenho emprego fixo, faço trabalhos esporádicos para clientes estrangeiros que me procuram. As vantagens são econômicas, sem dúvida. Como tenho um estúdio de design e ilustração que presta serviços, é uma boa estratégia adquirir clientes estrangeiros. A vantagem é que, apesar do tempo dedicado a eles ser maior, dificilmente existe refação ou pedidos fora do combinado, o que é comum com clientes brasileiros. O maior desafio, além de conseguir cobrar um bom valor, já que eles vêm com intenção de economizar, é manter um bom rodízio de clientes mensalmente”.

Morador de Viçosa, em Minas, Gustavo afirma que para ser um global worker é necessário ter um portfólio bilíngue. Foto: Divulgação Pessoal

O designer destaca que o idioma sempre será um desafio, principalmente se não existe vivência em outro país. “No meu caso, escrevo melhor do que falo, então, tento manter as conversas todas por escrito. Fazer isso me ajudar a arquivar o que foi dito e, se precisar, retorno a ler, além de não ter problema com não entendimento de alguma palavra ou frase que poderia ser dita em uma conversa por vídeo”, enfatiza. 

Ele conta que recebe em dólar, principalmente de clientes de países do Oriente Médio, mas que é possível conseguir aprovar projetos com preços mais altos em euro, que é mais rentável. Segundo o designer, para quem quer encontrar uma oportunidade como a dele, é importante ter um portfólio bilíngue e entender a estética que os clientes tendem a gostar. “Ter um site próprio é mostrar autoridade e profissionalismo, mas estar presente em redes como Behance, Instagram, Pinterest e LinkedIn também são formas de conseguir alcançar tais empresas estrangeiras. Por fim, facilitar e dar segurança ao cliente na hora de receber o pagamento também ajuda muito”, pontua Gustavo Martins.

Liberdade para viver momentos de lazer e bem-estar

Larissa Borges, 34, jornalista e Content Lead no Aposta Legal Brasil, marca pertencente à empresa portuguesa Alts Digital, afirma que uma das principais vantagens de trabalhar em uma empresa estrangeira é a consolidação do trabalho remoto na cultura dessas organizações. Para ela, esse modelo de trabalho é natural para esse tipo de empresa, o que resulta em processos bem organizados e eficazes. 

“Na Alts Digital, por exemplo, vivemos o lema ‘Maximum Flexibility, Maximum Ownership’ diariamente. A flexibilidade de horários e localização geográfica permitem me planejar melhor a rotina, dando-me liberdade para viajar, cuidar da saúde, praticar exercícios e realizar outras atividades pessoais, o que é essencial para um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Além disso, não preciso me preocupar com deslocamentos. Eu brinco que eu nunca mais me atraso para o trabalho e nem lembro como é ficar presa no trânsito. Eu sempre trabalhei longe de casa. Era comum passar 4h no trânsito todos os dias. Para mim, essa liberdade e ganho de tempo não tem preço”, destaca Larissa. 

Flexibilidade de horário e localização geográfica são aspectos positivos de ser um global worker. Foto: Thomas Santos/O Tempo

Para a jornalista, outra vantagem significativa é a remuneração. “Esses contratos geralmente permitem a escolha da moeda de pagamento, e como muitas dessas empresas estão na Europa ou nos Estados Unidos, podemos optar por receber em dólar ou euro, o que aumenta nossos ganhos, considerando a desvalorização do real frente a essas moedas. Quando comparado a cargos similares no Brasil, que muitas vezes são híbridos ou presenciais, a diferença salarial é expressiva”, avalia.

A global worker ressalta que trabalhar com pessoas de diferentes culturas e países enriquece muito a experiência profissional, além de ampliar a visão de mundo e praticar outro idioma, fatores importantes para quem planeja uma carreira internacional de longo prazo.

“Trabalhar em uma empresa com atuação internacional sempre foi o meu objetivo. Foi esse desejo que me levou a fazer um intercâmbio, para aprimorar meu inglês e buscar oportunidades fora do Brasil, por exemplo. Já tive a experiência de trabalhar em um modelo híbrido no Brasil, que permitia alguns dias de home office, e sempre apreciei essa flexibilidade, embora dependesse de aprovação da liderança. Logo, o formato não foi uma novidade para mim”, pontua Larissa Borges.

Trabalhar com pessoas de todo o mundo

Bárbara Mendes, 33, gerente de marketing de uma empresa australiana há 6 anos e 4 meses, é brasileira, mora em Portugal e atua em home office. Para ela, um dos benefícios de ser global worker é poder trabalhar de forma remota e se conectar com pessoas do mundo inteiro.

“Trabalho com pessoas da Índia, da Nigéria, da Inglaterra e da Austrália. É legal poder ter contato com diferentes culturas, mesmo que seja pelo trabalho, e ver como que todo mundo consegue se ajustar conforme precisamos. Esse ponto é muito interessante porque eu consigo enxergar outros modos de trabalhar e outros modos de se relacionar, além de ter outras visões e sair um pouco daquela noção de trabalho típica do brasileiro em si”, ressalta.

Outro aspecto positivo citado por Bárbara é a diversidade de sotaques de pessoas que falam inglês. “Quando você vem trabalhar para fora e trabalha com muita gente de outros lugares em que a língua comum é o inglês, você consegue expandir seu vocabulário, o que é bem diferente do Brasil”, destaca.

Ganho financeiro grande

Para Renato Herrmann, profissional de RH com mais de 10 anos de experiência global em Gestão de Talentos, o lado financeiro está entre as principais vantagens de trabalhar em uma empresa estrangeira do Brasil. “O real, dependendo para qual país você trabalha, é uma moeda mais desvalorizada. Dependendo do país em que o profissional atua, o dinheiro pode valer muito mais no país onde mora do que no país de origem. Dessa forma, é possível ganhar muito bem, mesmo tendo um salário médio, ou até baixo”, ressalta o especialista.

Renato aponta que os ganhos culturais, de interação e tecnológicos também são aspectos que favorecem os global workers. “O fato do profissional morar no exterior, ou trabalhar numa empresa internacional, significa que ele está lidando com gente de todas as partes do mundo. Essa exposição intercultural é muito rica para o desenvolvimento individual, para a troca, para ampliar a perspectiva de mundo. E, geralmente, quando se trabalha nessas empresas, você tem acesso a tecnologias, acesso a conhecimento que talvez você não teria trabalhando em uma empresa brasileira”, pontua Hermann. 

Segundo a pesquisa da Husky, em relação às áreas de atuação, se destacam as Ciências Exatas - com 71,6% das preferências - que se subdividem nas seguintes esferas: cursos de Tecnologia da Informação (40,2%); Ciência da Computação (14,4%); Sistemas de Informação (9,9%) e Engenharia da Computação (7,1%). Os dados apontam que existe uma necessidade global por profissionais brasileiros que trabalham com desenvolvimento de software e outras áreas relacionadas. 

Quando se trata de fluência em outros idiomas, 48,6% dos profissionais falam inglês fluentemente e outros 41,6% estão bem perto disso. Entre os que falam Espanhol, a proporção é mais modesta, 41,9% ainda estão no nível intermediário e os que se consideram fluentes somam apenas 12,7%. O conhecimento de outras línguas é imprescindível, uma vez que a maioria dos empregadores é norte-americano e europeu: 65,2% dos EUA; 6,4% do Reino Unido; 5,6% do Canadá e 3,6% de Portugal. Essas são empresas, no geral, pequenas e médias: 52,4% são companhias com 11 a 200 funcionários e 25,3% têm entre 501 e 10 mil funcionários.

A pesquisa ainda mapeou aspectos comportamentais desses profissionais e, em termos de investimentos, os global workers optam por investir em renda fixa, variável e fundos, mas também em produtos menos conservadores, tais como: 30,1% em criptomoedas (crescimento de 12,2% em relação à edição do ano anterior), e 16,7% em previdência privada. Apenas 23,3% alocam seu dinheiro no exterior. Os principais objetivos financeiros são aumentar a renda, criar reservas de segurança e investir.

Como se tornar um global worker? A Nomad explica o passo a passo abaixo:

Desenvolva suas habilidades

As empresas que buscam global workers optam por profissionais experientes. Vale a pena, portanto, criar um currículo que destaque as vivências profissionais. Ainda é recomendado trabalhar em companhias brasileiras primeiramente para construir um portfólio.

Para ter uma ideia de como o desenvolvimento de habilidades é importante, basta ver que 45,9% das empresas optam por profissionais seniores. Isso demonstra a importância do estudo, mesmo que não seja formal, isto é, cursos online mais rápidos são suficientes.

Na pesquisa da Husky, os respondentes ainda destacaram que os fatores que contribuíram para alcançarem o cargo foram:

Cursos na área: 43,3%

Pegar novos projetos: 33,9%

Networking: 21,9%

Mentorias e treinamentos: 19,1%

Atualizar currículo e LinkedIn: 18,3%

Aprender um novo idioma: 13,5%

Use as plataformas certas para conseguir trabalho

Muitas empresas contam com recrutadores que buscam profissionais nas plataformas certas. Algumas delas são Upwork, Fiverr, Freelancer e LinkedIn. Elas valem a pena, porque 37,4% dos contratados foram abordados. Outros 17,6% fizeram a candidatura pelo LinkedIn.

Conquiste certificações

Dentro do conceito de desenvolver habilidades, pense em conquistar certificações. Elas ajudam a comprovar o seu conhecimento e tornam o seu currículo mais atrativo. Aproveite para sempre inseri-las nas plataformas em que tem cadastro, principalmente o LinkedIn.

Aposte no networking internacional

No relatório da Husky, ficou claro que 25,7% dos entrevistados foram indicados para a vaga que ocupam. Ainda tem 21,9% que usam do networking para conquistarem a tão sonhada vaga em uma empresa do exterior. Isso significa que essa ação traz resultados.

Como fazer um networking internacional? O LinkedIn é uma boa ferramenta. Siga pessoas influentes, deixe comentários e, quem sabe, até uma mensagem. Acompanhe o perfil das empresas nas quais se interessa e tente entrar em contato com os colaboradores. Tudo isso ajudará a conhecer pessoas e manter relacionamentos.

Com todas essas informações, você percebeu que dá para conseguir uma vaga no exterior. Ser um global worker pode ser mais fácil do que parece. Basta ter a capacitação necessária para isso e se preparar.