Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicada nesta sexta-feira (31/1), revela que 95% das instituições de ensino superior de Belo Horizonte estão localizadas em locais de alta concentração de comércio de alimentos pouco saudáveis e nutritivos. O estudo avaliou 47 faculdades e coletou amostras em 81 campus. 

A pesquisa é fruto do trabalho de mestrado de Larissa Ananda da Silva, da UFMG, que foi orientada e coordenada por Larissa Loures Mendes, da Escola de Enfermagem da UFMG, e Thales Rodrigues da Silva, pesquisador do departamento de enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O levantamento ainda contou com a parceria da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

Lanchonetes, restaurantes, bares e ambulantes foram identificados nos chamados ‘pântanos alimentares’, que o estudo descreve como “vizinhanças marcadas por redes de fast food e lojas de conveniência, com predomínio de venda de produtos altamente calóricos, o que facilita o consumo de alimentos ultraprocessados.”

“Identificamos que a presença de estabelecimentos alimentícios era maior no entorno de instituições privadas. Dessas, a maioria estava localizada em áreas de público de maior renda,” explica o pesquisador Thales Rodrigues da Silva. 

Medidas 

“Cada vez mais temos evidências de que os ultraprocessados são ruins para a saúde. Então esse tipo de pesquisa oferece dados para fomentar políticas públicas que possam controlar o entorno dessas instituições onde jovens e adultos circulam. É uma população que tem autonomia para escolher e que, muitas vezes, leva alimentos para casa,” revela Thales. 

O pesquisador ainda sugere: “Quando a gente pensa nas instituições públicas, medidas adicionais como a ampliação dos restaurantes universitários e a promoção do acesso a refeições subsidiadas a toda a comunidade acadêmica são extremamente importantes. Outra coisa fundamental é o atendimento aos universitários, por meio de política de permanência estudantil, visando ações de segurança alimentar e nutricional,” finaliza. 

Impactos na saúde 

O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está diretamente ligado a problemas de saúde, como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. No fim do ano passado, um estudo da Sociedade Americana do Câncer, publicado na revista científica The Lancet Oncology, revelou um aumento preocupante nos casos de câncer colorretal em pessoas jovens. 

Conforme a pesquisa, a incidência do tumor está crescendo entre o público de 25 a 49 anos em 27 dos 50 países analisados. Destaque para a Nova Zelândia, o Chile e Porto Rico, que registraram os maiores índices de crescimento anual, entre 3,8% e 4%. Apesar de o Brasil não ter sido incluído na pesquisa, especialistas alertam que esse aumento é um fenômeno global. 

Segundo a oncologista Roberta Dayrell, um dos fatores que podem explicar essa alta do câncer de intestino em jovens é justamente a alimentação inadequada. “Eles estão aderindo cada vez mais a dietas ricas em alimentos ultraprocessados, carne vermelha, excesso de gorduras saturadas e pobre em fibras. O baixo consumo de fibras dificulta uma boa saúde intestinal e a baixa ingestão de frutas, de vegetais e de grãos também reduz a proteção contra essa doença.”