Produto tipicamente brasileiro, exportado para 76 países, a cachaça tem como principal comprador os Estados Unidos. Só em 2023, o país norte-americano movimentou cerca de US$ 4,6 milhões (cerca de R$ 26 milhões) com a compra da bebida, segundo o Anuário da Cachaça 2024 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). No entanto, o Brasil pode ser afetado pela alta do dólar, cotado a R$ 5,72, e corre o risco de diminuir suas exportações para o país. 

Um dos principais fatores para isso, segundo José Lúcio Mendes, presidente da Expocachaça e da BrasilBier, é o custo de produção. “Muitos itens que usamos são importados, como as garrafas, o que acaba refletindo no preço do produto final”, analisa. 

Entretanto, ele pondera que os impactos não devem ser tão relevantes para o mercado brasileiro, uma vez que, boa parte da nossa produção, é para consumo interno. Segundo o Mapa, o Brasil produziu quase 226 milhões de litros da bebida em 2023 - exportando 8,6 milhões de litros, cerca de 3,8% do total. 

“Mesmo que haja algum impacto, será ínfimo, uma vez que nossas exportações são baixíssimas. Além disso, a maioria desse volume vem de grandes indústrias, que vendem uma pequena parte de sua produção, o que também ajuda a diminuir os danos. É algo que precisamos melhorar, não saímos desse baixo patamar de exportação há mais de 20 anos”.

Além de ser crítico ao baixo número de exportações, Mendes também afirma que nosso produto é vendido “barato” em comparação a outros países exportadores. Segundo dados do Mapa, a cachaça brasileira fechou 2023 sendo vendida a US$ 2,35 (cerca de R$ 13,44) o litro - uma valorização de 9,3% em relação a 2022, quando era vendida a US$ 2,15 (cerca de R$ 12,29) o litro. 

“Ainda assim, é um número muito baixo. Para fins comparativos, o México exporta 85% da sua produção, vendendo o litro a US$ 16 (cerca de R$ 91,52). Precisamos de um empenho maior do poder público junto à iniciativa privada para aumentar a exposição do produto internamente. Essa valorização dentro do país ajudaria nas exportações”, diz. 

Altos custos e baixa penetração internacional 

Os produtores também lamentam o fato de que boa parte das cachaças exportadas são industriais, as chamadas “cachaças de coluna”, que têm qualidade inferior às cachaças de alambique. De acordo com Thales de Paiva Martins, produtor da Destilaria Siriema, a má experiência com a cachaça “inferior” faz com que parte do mercado internacional não volte a comprar novamente. 

“Também temos custos muito altos para produzir uma cachaça de boa qualidade. Não consigo vender o litro por menos de R$ 50, o que dificulta a comercialização lá fora. Dos 200 mil litros que produzi em 2023, por exemplo, só consegui exportar cerca de 4 mil litros”, conta o empresário. 

Potencial para expansão não falta. Segundo dados do Mapa, Minas Gerais é o estado com maior número de cachaçarias registradas, com a marca de 504 estabelecimentos, o que corresponde a 41,4% das 1.217 cachaçarias registradas no Brasil. Mas, para crescer as vendas internacionais, Thales aponta que é preciso haver incentivo. 

“Temos visto o governo estadual se movimentar um pouco mais, estão começando a estimular o setor, como fizeram com o café e o queijo. É disso que precisamos, de apoio institucional e incentivo para que o pessoal lá fora, e mesmo no Brasil, entenda que o produto artesanal tem qualidade e vale pagar por ele”, aponta. 

Números da exportação:*

Exportação de cachaça em 2023, por valor:

Estados Unidos

US$ 4.653.002 

Itália US$ 2.433.371 
Portugal 

US$ 2.165.124 

Paraguai US$ 1.954.202 
Alemanha

US$ 1.761.551 

Exportação de cachaça em 2023, por volume:

Paraguai

1.556.475 litros

Alemanha 1.511.532 litros
Estados Unidos 1.078.374 litros
Portugal  931.354 litros
França 716.508 litros

*Anuário da Cachaça 2024 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)