O Banco Central tem até 360 dias de prazo para analisar a compra de 58% do capital total do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), anunciada na noite de sexta-feira (28). O valor exato da operação não foi revelado, mas o mercado estima que o negócio gira em torno de R$ 2 bilhões - equivalente a 75% do patrimônio líquido consolidado do Master, de acordo com fato relevante enviado pelo banco público a seus acionistas. 

O fechamento da operação está sujeito a condicionantes para que o negócio seja concretizado - o que inclui a auditoria do BRB nos ativos e passivos do Master, além de obtenção das aprovações antitruste, como do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do próprio Banco Central.

O Banco Master pertence ao mineiro Daniel Vorcaro, 41, que é sócio em empresas de diversos ramos (como o Fasano do Itaim, em São Paulo, e o Will Bank) e dono de aproximadamente 26% da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Atlético Mineiro. Em 2023, ganhou destaque nacional ao gastar cerca de R$ 15 milhões na realização da festa de 15 anos da filha em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, com direito a show do DJ Alok. Na mesma época, ele teria comprado a mansão mais cara já negociada em Orlando, na Flórida, com um valor de US$ 37 milhões. 

Além de ser influente na Faria Lima, Vorcaro também busca proximidade com políticos e nomes importantes do sistema judiciário. No ano passado, o Banco Master foi um dos patrocinadores do 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, realizado em Londres com participações de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

“Complementariedade de negócios”

Por meio de nota, o BRB afirmou que a operação envolveu 49,0% das ações ordinárias, 100% das ações preferenciais e 58% do capital total do Banco Master (“Operação”). A Operação está sujeita à aprovação do Banco Central do Brasil, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e demais aprovações regulatórias.

O banco público diz estar interessado na “complementariedade de negócios”. No fato relevante, informa que as duas empresas vão atuar apartadas, mas dividindo governança e coordenação estratégica. Afirma que o Banco Master “agrega expertise em cartão de crédito consignado, câmbio, mercado de capitais e atacado, áreas nas quais tem apresentado crescimento significativo nos últimos anos. Essa especialização complementa a estrutura do BRB, ampliando o alcance e a diversificação dos serviços oferecidos”.

Um dos atrativos do Banco Master era a taxa de retorno oferecida na renda fixa: 140% do CDI em seus CDBs - o que é pode parecer vantajoso para o cliente, mas pode ser mais arriscado para a instituição financeira. Calcula-se que o Master tenha um estoque de cerca R$ 50 bilhões de CDBs emitidos, quase metade da disponibilidade do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que gira em torno de R$ 107 bilhões. 

O banco de Vorcaro informou ter, em 30 de junho de 2024, um lucro líquido do primeiro semestre daquele ano de R$ 501 milhões, com um ROE (indicador que mede a rentabilidade de bancos) de 32,2%, acima da média do setor. Já o Banco BRB teve um lucro líquido recorrente de R$ 92,2 milhões no mesmo período e um ROE de 10,2%.

Um dos questionamentos feitos no mercado sobre o negócio fechado na sexta-feira é o fato de o BRB ser um banco público e o Master não ter uma carteira de clientes tão grande para valer o investimento. Mas isso não é novidade nas transações dessa natureza no Brasil. Vale lembrar que, em 2009, o Panamericano foi adquirido pela Caixa Econômica Federal (e depois vendido ao BTG Pactual), enquanto parte do Votorantim foi comprado pelo Banco do Brasil.

Em nota publicada neste domingo (30), o Sindicato dos Bancários de Brasília manifestou "profunda preocupação" com a compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), banco estatal de Brasília, e disse que o negócio "levanta sérios questionamentos sobre a responsabilidade na gestão do BRB". "Em um passado próximo, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) apontou a concentração da carteira do Banco Master em precatórios, uma carteira sem liquidez, o que agrava as incertezas em torno da aquisição proposta pelo BRB", diz o sindicato.

A reportagem de O Tempo entrou em contato com o Banco Master e Daniel Vorcaro, mas ainda não obteve resposta. 

(Com Adriana Fernandes e Thaisa Oliveira / Folhapress)