Se historicamente os brechós remetiam a um tipo de comércio em que se vendiam coisas velhas e de pouca utilidade, uma pesquisa do Sebrae Minas mostra uma nova tendência do setor, que demonstra estar em crescimento. No levantamento, que ouviu cem donos de estabelecimentos entre outubro de 2023 e março de 2024, seis de cada dez já operam tanto em lojas físicas quanto online. Além disso, 52% já estão no ramo há mais de três anos.

“O brechó cresce como tendência porque tem o que o consumidor está procurando. Além disso, começar um brechó é bem simples, você pode fazer com o seu próprio acervo. Você não precisa de investir num lote de roupa, por exemplo. Pode começar vendendo para amigos e conhecidos, por meio das redes sociais, e ir transformando esse lucro em mais peças”, explica a analista do Sebrae Minas Karina Hanun.

De acordo com o Sebrae Minas, Belo Horizonte tem atualmente 529 dos 2.650 brechós existentes em Minas Gerais. O segmento ganhou relevância porque soube se adaptar às mudanças de comportamento nas tendências da moda, estimulada pelo surgimento de novos públicos, como apontam os donos dos negócios ouvidos pelo O TEMPO.

Os empreendedores afirmam que entrar no ramo mudou a realidade de vida deles: a ex-estudante de física Andrezza Maris, de 27 anos, a designer Juliana Ferreira, de 40, e Mike Moraes, de 31 anos, são exemplos de que o investimento pode valer a pena. Todos deixaram suas antigas atividades para abrir o próprio brechó.

“Foi o meio que eu encontrei para tirar o meu sustento e, para além disso, acaba sendo uma terapia misturada com autossatisfação mesmo, porque é algo que é prazeroso, que eu realmente amo fazer”, conta Andrezza, que aproveitou o período da pandemia para criar o Kubrick Brechó, em 2020.

Ela conta que a ideia de abrir o negócio surgiu com uma vontade de ter uma jardineira vintage, mas que ela estava com dificuldade de achar em lojas tradicionais. “Um amigo me apresentou um brechó, local mais possível de encontrar uma peça assim. E eu amei tanto que, quando vi, já estava visitando outros e consumindo mais. Logo acabei empreendendo”, lembra.

Dona do Chuchu Beleza, Juliana sempre foi uma amante da moda vintage e colecionava peças das tias da década de 1980. “Em 2021 resolvi expor em uma feira, pela primeira vez. Eu já tinha uma página no Instagram que estava parada; foi aí que resolvi expor e vender online. Em 2022, me juntei a mais duas sócias que também têm brechós e abrimos um espaço físico unindo os três no mesmo lugar”, revela.

Segundo Juliana, atualmente, ela chega a tirar até R$ 5.000 por mês: “Eu não estou fazendo isso como um hobby, o brechó é a minha vida. Esse é o meu trabalho”, comemora.

Foto: Flávio Tavares

Para Moraes, dono do Zicamemo, a história começou um pouco diferente. “Em 2015 eu trabalhava num lugar em que bem próximo tinha um brechó beneficente. Eu entrei e fiquei em choque, com o valor e com a qualidade das peças. Sempre que usava algo que tinha comprado lá, perguntavam onde eu tinha arrumado algo tão fashion. Até que uma amiga deu a ideia de começar o meu negócio”, lembra.

Como sempre ganhou um salário mínimo, por não ter completado o ensino médio, Moraes viu que ter o próprio brechó era a chance de melhorar sua renda. Hoje, ele chega a faturar R$ 10 mil por mês. “Desde muito cedo eu precisei trabalhar para ter meu próprio dinheiro. Eu não tive tempo de estudar, sabe? Se não fosse esse novo ramo, nem sei o que estaria fazendo. Eu fico muito feliz”, afirma.

Foto: Alex de Jesus

Proprietários estão otimistas com o futuro

É uma unanimidade: os donos de brechós entrevistados por O TEMPO acreditam que o nicho tem futuro e querem seguir no ramo. Mike Moraes, dono do brechó Zicamemo, justifica o otimismo com o fato de que, “hoje em dia, a produção de roupas aumentou muito, e, com as redes sociais, os brechós viraram uma tendência que foi abraçada pelo público”. “Além disso, roupa de segunda mão vai sempre existir, e isso faz com que quem consuma queira comprar sempre mais e mais”, conta

Para Andrezza Maris, a quebra do tabu de que roupa de brechó é “roupa de gente morta” ajudou o segmento a crescer. “Desde a pandemia, eu percebo que as pessoas têm um olhar menos preconceituoso e ao mesmo tempo mais sustentável, porque agora se questionam para onde a peça descartada está indo, se ela pode ser reutilizada”, afirma.

Juliana Ferreira concorda com Andrezza e acrescenta que o brechó é um mercado capaz de alimentar todas as áreas. “Quando uma pessoa compra uma peça usada, ela gera renda e emprego, ajuda o planeta e ainda ganha mais em estilo e em exclusividade. Isso tem muito futuro”, defende. 

Qual a diferença entre brechó e bazar?

A principal diferença entre brechós e  bazares é que, geralmente, o bazar é mais barato, porque os produtos – na maioria das vezes – não contam com curadoria. Ou seja, não é feito nenhum tipo de reparo prévio para “melhorar” a peça e, consequentemente, o valor da venda. Já o preço no brechó costuma levar em conta serviços como lavagem, recostura, tintura etc.