Se tem quem vende, é porque tem quem compre. E economizar está na prateleira de cima entre as prioridades dos consumidores de brechós, como aponta a pesquisa do Sebrae Minas. Segundo o levantamento, 60% dos clientes são adultos, e, destes, três em cada quatro vão a esses estabelecimentos para economizar.
Mas, muito além do preço geralmente mais em conta, o ritual de ir a um brechó se torna prazeroso para quem quer produtos que reflitam melhor a sua identidade. Além disso, há compradores que levam em conta o fato de se fazer um consumo mais consciente, como a poeta e arqueóloga Lara de Paula Passos, de 29 anos.
Ela conta que tem quase todo seu armário e sua casa inteira montados com produtos de brechós. Natural de Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais, Lara começou a consumir peças de segunda mão quando se mudou para Belo Horizonte. “Eu tinha 17 anos e fiquei muito empolgada em poder montar minha casa com um armário que expressasse minha identidade”, conta. “A questão da reutilização torna tudo mais divertido e personalizado. Enquanto arqueóloga, eu amo encontrar coisas. A experiência do brechó é como uma caça ao tesouro para mim”, revela.
Consultora de imagem e estilo, Gah Antunes explica que, hoje em dia, as pessoas não querem só se vestir bem, mas também que a roupa represente a personalidade delas. “Eu, por exemplo, procuro brechós porque tem peças de alta qualidade e diferentes, com textura, cor, estampa”, afirma.
A comercial de eventos Dani Gregatti, de 46 anos, colocou toda a família no “estilo brechó”. Tanto ela quanto as duas filhas, de 6 e 10 anos, se vestem quase que exclusivamente com roupas compradas nesses estabelecimentos, que se tornaram a solução de um problema antigo. “Eu sempre fui consumista, tinha dois armários enormes lotados de roupa. Raramente saía de uma loja sem uma sacola”, lembra.
Isso mudou quando Dani engravidou da primeira filha. “Eu perdi roupa demais. E criança, já viu, né? Perde roupa muito rápido. Aí eu comecei a ir a brechós de roupa de bebê. Levava várias peças das minhas filhas para trocar e pagava uma diferença mínima em dinheiro. Isso me ajudou a evitar desperdício”, afirma.
Para Karina Hanun, analista do Sebrae Minas, muitos brechós atualmente também conseguem apresentar diferenciais a seus clientes, como produtos praticamente novos e originais, o que atrai os consumidores. “Além disso, a nova geração gosta de experienciar coisas, em vez de somente comprar. É muito mais legal ir a um local, encontrar uma jaqueta de 30 anos atrás, em perfeito estado, sabendo que a chance de existir outra igual é mínima”, destaca.
O caráter exclusivo é também um atrativo, confirma Lara Passos. “Eu só compro em uma loja comum se eu estiver com urgência ou se for algo muito específico, que não terei tempo de garimpar”, ressalta.
Mudança de mentalidade valorizou produtos usados
Para Karina Hanun, analista do Sebrae Minas, nos últimos anos as pessoas mudaram a mentalidade e entenderam que o que é bom não precisa necessariamente ser novo. “Antigamente, para a maioria das pessoas, o estilo vinha apenas das marcas caras, a peça que é nova sempre tinha mais valor. Hoje em dia já não é mais assim”, afirma.
Dani Gregatti, consumidora assídua de brechós, acrescenta que as pessoas entenderam que, por vezes, o brechó pode ser até mais “chique” do que as lojas tradicionais. “É um local com peças selecionadas, bem-cuidadas e, às vezes, já customizadas. Essa exclusividade tem um valor muito mais alto do que qualquer loja”.
Além disso, a especialista do Sebrae explica que o consumo tem se tornado mais sustentável, o que também ajudou a impulsionar os brechós. “Temos inúmeras roupas, que acumulam-se mais e mais todos os anos. As pessoas têm se perguntado: ‘para onde isso vai quando eu jogar fora?’ e optam pelo consumo consciente”, destaca.
Mais para a mulher?
De acordo com a analista do Sebrae, Karina Hanun, a maioria dos brechós tem peças femininas porque o homem tem um tipo de consumo diferente do que a mulher tem. “A moda para mulher muda mais rápido, toda semana tem uma nova tendência. Isso faz com que nós descartemos mais peças do que os homens”, explica. Além disso, ela aponta que o homem costuma usar as roupas até “acabarem”, ou seja, não chegam ao ponto de estar boas o suficiente para serem doadas ou revendidas.
Análise
Marcelo Souza e Silva, presidente da CDL/BH, entende que o nicho dos brechós movimenta a economia e ainda contribui para a geração de empregos. “O impacto é nítido. BH é uma cidade dinâmica, que vive de comércio e serviço. Já temos tantos setores que se consolidam com usados, como veículos, móveis, por que não peças de roupa? Hoje em dia, na verdade, já estão tão bem consolidados que temos brechós de tudo”, afirma.