A Gerdau anunciou, nesta terça-feira (29/04), o cancelamento da possível instalação de uma nova fábrica de aços especiais no México. Os estudos de implantação da unidade no país latino-americano haviam sido anunciados em 2024 pela empresa, com um investimento estimado de US$ 600 milhões na região.

A mudança de rota ocorre em meio ao tumulto tributário global iniciado pelo governo de Donald Trump, especialmente aos seus reflexos no mercado automotivo, segundo o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck. “Entendemos que essa questão de tarifas globais trará mudanças estruturais ao mercado automotivo, que impactarão diretamente os negócios de produção de aços especiais no México. Tomamos essa decisão de cancelar os estudos no México”, reforçou o executivo durante a apresentação dos resultados trimestrais da empresa nesta manhã.

Ele ponderou que a decisão não tem cunho político, seja sobre o governo de Trump ou da mexicana de esquerda Claudia Sheinbaum. Werneck avaliou que as tarifas norte-americanas, que têm transformado o mercado global, pode reconfigurar de força profunda a cadeia automotiva, com mudança de fornecedores em todo o mundo. “Está muito cedo para entender como será. Se parte das autopeças fabricadas no México deixarão de ser fabricadas lá ou se serão nos EUA ou em outros países. Nossa decisão passa muito pela incerteza de como se reconfigurará a cadeia global automotiva após essas tarifas”, apresentou. Hoje, a Gerdau tem três usinas no México, mas esta seria a primeira no país a produzir aços especiais da empresa — ligas metálicas utilizadas no setor automotivo. 

A revisão do projeto mexicano não interfere na previsão total de investimentos da empresa em 2025, contudo. A empresa mantém o plano de um investimento, ou Capex, no jargão executivo, de R$ 6 bilhões. A perspectiva para os próximos anos, contudo, está em xeque, afirmou Werneck. “Imaginávamos R$ 6 bilhões de Capex para os próximos anos. É este futuro que estamos debatendo agora, se manteremos esses R$ 6 bilhões de Capex desembolsados anualmente ou não”, sublinhou.

Os investimentos previstos em Minas Gerais durante 2025 estão garantidos, de acordo com Werneck. “Minas é muito importante para a Gerdau e continuará sendo. Uma redução de investimentos no México ou nos EUA não impacta os investimentos em Minas nem para menos nem para mais”.

O cenário para os próximos anos no Brasil, entretanto, depende das decisões do governo federal sobre os mecanismos de defesa contra as importações de aço no país. Em maio, completa-se um ano das tarifas do Brasil para o aço importado, que funcionam em um esquema de cotas — isto é, com impostos mais altos somente sobre o que ultrapassa um limite estabelecido. “Está vencendo no final de maio o primeiro ano de implantação da cota-tarifa, que foi totalmente ineficaz”, pontuou o CEO.

A empresa aguarda novas medidas do governo federal para limitar a entrada de aço, especialmente chinês, no país. Muitas vezes com subsídios do governo chinês, o aço asiático é vendido mais barato do que o nacional no Brasil, o que empresas do setor, como a Gerdau, dizem ser uma concorrência desleal.

Werneck mencionou que a ampliação da produção da planta da empresa em Ouro Branco, na região Central de Minas, inaugurada em março, foi decidida há anos com uma perspectiva de demanda maior do que a atual. “É um exemplo prático de investimento que decidimos há quatro anos. Olhamos e pensamos: vamos vender para quem? Para quem eu deveria estar vendendo agora está comprando aço importado de forma desleal”, disse o CEO.

No primeiro trimestre de 2025, o lucro líquido ajustado da Gerdau caiu 39% em comparação ao mesmo período do ano anterior e chegou a R$ 758 milhões.