O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou, na ata da sua última reunião, que o nível dos núcleos do IPCA tem se mantido acima do nível compatível com o atingimento da meta "há meses", reforçando a interpretação de que a inflação corrente tem sido pressionada pela demanda. "O cenário de inflação de curto prazo segue adverso", destacou o comitê, no documento que foi publicado nesta terça-feira. Na semana passada, o colegiado elevou a taxa básica de juros de 14,25% para 14,75%.
O Copom destacou que a inflação de serviços - cuja inércia é maior - continua acima do nível compatível com o cumprimento da meta de inflação, em um contexto no qual o hiato do produto é avaliado como positivo. Enquanto isso, a depreciação do câmbio pressionou preços e margens, o que já tem se refletido em aumento nos preços no atacado e, agora, no varejo. Já os preços de alimentos permanecem elevados e devem se propagar para outros itens no médio prazo, diante dos mecanismos inerciais da economia, destacou o Copom.
As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, tornando o cenário de inflação mais adverso, segundo a ata "A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida", enfatizou o documento. De acordo com a ata, foi ressaltado na reunião que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade. "O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos."
Na discussão sobre o tema das expectativas de inflação, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê, conforme o parágrafo 13 da ata, foi o de que, em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma "restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado".