Quem é fã de cerveja sabe o quanto é difícil reduzir o consumo da bebida por conta de dietas, doenças crônicas ou intolerância alimentar. De olho nessa fatia de público, cervejarias mineiras têm investido nos últimos anos em rótulos com baixo teor de carboidrato, redução de calorias e bebidas sem glúten. Assim como acontece em outros nichos, como as hamburguerias que oferecem lanches veganos, o mercado cervejeiro tem faturado milhões com rótulos que saem do tradicional e suprem novas formas de consumo.
Uma das pioneiras dessa tendência, a Cervejaria Brüder é dona de dois rótulos, “Alma Cevada” e “Baixa Gastronomia”, bebidas com 0% de açúcar e carboidratos. De acordo com Rildo Wagner, um dos sócios do Grupo Brüder, são vendidos 1 milhão e meio de litros da “BG” por mês e o rótulo é responsável por 85% do faturamento da empresa. “Faturamos R$ 10 milhões em 2022 e esperamos fechar 2025 com R$ 180 milhões”, prospecta.
Segundo ele, dois fatores foram essenciais para a popularização da BG no mercado nos últimos anos. O primeiro foi disponibilizar a cerveja em lata, e não apenas em garrafa, o que facilita o acesso ao consumo. O outro passo para o sucesso foi lançar o rótulo em conjunto com o jornalista gastronômico Daniel Neto, o Nenel - o que ajuda a aproximar o produto do público que frequenta os botecos.
“Já tínhamos uma parceria de divulgação e veio o convite de fazer uma cerveja, mas não sabia que era zero carboidrato. Só fiquei sabendo na hora de provar e foi uma grande surpresa. Era algo muito novo na época, mas a recepção foi surpreendente. Deu muito certo trazer esse produto, leve e gostoso, para o público botequeiro”, comemora Nenel.
Além de mirar no público formado por pessoas mais velhas, que têm dificuldade em emagrecer por conta da desaceleração do metabolismo ou lidam com doenças como a diabetes, a Brüder também foca em jovens que já têm questionado o papel nocivo das bebidas alcóolicas e buscam formas de reduzir danos.
“Tivemos essa percepção na pandemia, quando o mercado de gins estava começando a explodir em Minas e conquistando consumidores que queriam bebidas que ajudassem a consumir menos calorias. Percebemos que era essa nossa verdadeira concorrência na época, não eram as outras cervejarias. Foi a partir daí que começamos a pensar em uma bebida sem carboidratos para ser uma alternativa de consumo”, garante Wagner.
Com o sucesso das duas cervejas, o sócio revela que a Brüder já planeja o lançamento de um terceiro rótulo no segundo semestre deste ano. Batizada de “Vooe”, ela será sem glúten e sem carboidratos. “A proposta agora é atingir um público mais ‘fitness’ de fato, que é algo mais nichado. É uma outra proposta, diferente das outras duas cervejas que pegam um público mais fã de botecos”, compara o empresário.
Inspiração no exterior
Outra marca pioneira neste segmento, a Albanos lançou a sua “Life Liger”, low carb e zero açúcar, em meados de 2020. De acordo com Rodrigo Ferraz, sócio fundador da marca, o desenvolvimento do produto ocorreu inspirado na tendência norte-americana chamada “low to no" (“quase ou nada”, em tradução livre) - que designa produtos em que alguns tipos de ingredientes são reduzidos ou excluídos da receita.
“Observamos um vasto mercado de oportunidades para este tipo de produto, ao mesmo tempo em que houve crescimento exponencial de alguns esportes durante a pandemia, como bicicleta, beach tennis e corrida de rua”, aponta.
O empresário aponta que o consumo do rótulo vem crescendo 35% ao ano desde o seu lançamento e a aposta é que a tendência veio para ficar. “Com a consolidação da categoria, e o seu constante crescimento, já estamos desenvolvendo outros dois produtos nesta mesma linha”, revela.
Novidades do último ano
Relativamente nova no mercado, com apenas três anos de atuação, a cervejaria Breedom não demorou a aderir à tendência. Há um ano ela lançou sua cerveja low carb e já colhe bons resultados. De acordo com o gerente comercial Breno Louzada, o produto já é o segundo mais vendido pela empresa - com crescimento de 10% ao mês.
“É uma cerveja que tem bastante recompra e acredito que seja por conta do sabor, parecido com as demais cervejas de qualidade. Uma coisa que afasta o público é o gosto ‘aguado’ que muitas cervejas de baixa caloria têm. Tivemos cuidado para evitar esse erro”, aponta.
Segundo ele, o próximo passo é o lançamento de uma bebida zero álcool. “As novas gerações têm bebido menos e os mais velhos têm praticado mais atividades físicas. A população está mais consciente e o próprio mercado exige que as empresas de alimentação se adaptem”, garante.
A cervejaria Läut também lançou seu rótulo fitness no último ano e, de acordo com o CEO Henrique Miranda, as vendas da cerveja “De Leve”, que é low carb e sem glúten, já se tornaram tão importantes quanto as do tipo pilsen - carro chefe da marca. “Comercializamos cerca de 50 mil litros por mês e estamos satisfeitos com o resultado. Por enquanto, não projetamos nenhum outro lançamento nessa linha. Acho que ficaria redundante”, analisa.
Além das vendas em Minas Gerais, a marca também tem pontos de venda no interior de São Paulo, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Em terras cariocas, aliás, Miranda aponta que a cerveja faz ainda mais sucesso. “O produto teve uma aceitação especial em Búzios e na Região dos Lagos. O caráter refrescante combina com o clima praiano”, afirma.
Projeto de expansão
Para algumas cervejarias, o produto fitness tem sido um caminho para a expansão da marca em Belo Horizonte. É o caso da Fürst, com seu rótulo low carb “Lite”, que foi lançado em 2023 e é comercializado em apenas algumas lojas da rede Verdemar e Supermercados BH. Mas, no que depender da vontade do sócio fundador Paulo Furst, esse cenário tende a se transformar em breve.
“Até então, estávamos muito concentrados na região Centro-Oeste de Minas Gerais. Mas, agora, nossa produção vai ser transferida de São Paulo para Cláudio e isso vai nos ajudar a expandir na capital mineira. As vendas do nosso rótulo fitness têm crescido de 20% a 30% ao mês e já conseguimos expandir a produção de 80 mil para 250 mil litros ao mês”, diz.
Moderação ao consumir
Apesar de serem produtos mais saudáveis em relação às cervejas comuns, a coordenadora do curso de Nutrição da Estácio BH, Bruna Soares Faria, alerta que o consumo não é totalmente à vontade - uma vez que continuam sendo bebidas alcóolicas.
“O consumo excessivo de álcool está associado a diversas doenças, acidentes de trânsito e outras violências. Segundo diretrizes e evidências científicas atuais, não há uma quantidade segura de consumo de álcool. O ideal é o menor consumo possível, o equilíbrio e a moderação continuam sendo fundamentais”, aconselha.
Apesar disso, ela afirma que elas são uma alternativa para quem segue dietas especiais, está em processo de emagrecimento ou possui alguma intolerância alimentar. “Por exemplo, as cervejas ‘ricas em proteínas’ têm ganhado espaço entre o público fitness. No entanto, é importante lembrar que existem fontes proteicas mais adequadas e nutritivas do ponto de vista alimentar. Assim, é importante sempre consumir com moderação”, aponta.
Entenda a diferença entre as nomenclaturas:*
Low carb:
São aqueles alimentos com menor quantidade de carboidratos, ideal para quem segue dietas low carb ou busca reduzir o consumo desse nutriente. Embora não seja o foco principal, a redução de carboidratos também pode contribuir para a redução de calorias.
Zero açúcar:
Também conhecida como cerveja sem adição de açúcar, é aquela que não contém açúcares adicionados intencionalmente durante o processo de fabricação, podendo ser muito útil para perda de peso ou para quem tem alguma doença crônica e precisa reduzir esse nutriente, como é o caso da diabetes.
Baixa caloria:
Apresentam, como o nome indica, uma redução no valor calórico. Eles podem ser úteis para pessoas que buscam perder peso, mas sempre devem ser avaliados dentro do contexto da alimentação como um todo.
Sem glúten:
São isentos dessa proteína, presente em cereais como trigo, cevada e centeio. Essa informação é especialmente importante para pessoas com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten. É necessário que o consumidor se atente a essas informações, principalmente aqueles que têm alergias e intolerâncias alimentares.
*Fonte: Bruna Soares Faria, coordenadora do curso de Nutrição da Estácio BH