A escalada do conflito dos EUA e de Israel contra o Irã coloca o planeta em alerta não apenas para os riscos militares da crise, mas para o impacto econômico do combate. A ameaça iraniana do fechamento do Estreito de Ormuz na região, por onde passa um quinto do petróleo do mundo, pode ter reflexos diretos no bolso dos brasileiros.
A ameaça mais imediata é sobre o preço do diesel. No Brasil, de 20% a 30% do combustível são importados, por isso o aumento do petróleo internacionalmente tem um efeito direto sobre o valor no país. Em um caso extremo, a alta pode chegar a R$ 1, estima o diretor comercial na Valêncio Consultoria, Murilo Barco. “Hoje, quando olho o cenário, o diesel tem espaço para alta de R$ 0,48 por litro”.
Ainda é cedo, porém, para cravar como será o comportamento do mercado, pesa o especialista. “Não dá pra saber o quanto [o combustível ficará mais caro]. Porque existia uma perspectiva de que o preço do barril explodisse hoje, pela notícia do possível fechamento do Estreito de Ormuz. O barril está subindo, mas não é algo tão significativo ainda. Então precisamos aguardar para ver o que acontecerá, porque o cenário ainda é de completa incerteza”, avalia.
Alguns analistas especulam que o fechamento do Estreito de Ormuz poderia elevar o patamar do preço do barril de petróleo para além dos US$ 100. Nesta segunda, o petróleo bruto Brent subiu 0,84% e chegou a US$ 77,70.
De acordo com o relatório diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem de preço do diesel no Brasil em comparação aos valores internacionais é de R$ 0,58. “A defasagem dos preços da Petrobras já está elevada”, pontua o presidente da entidade, Sérgio Araujo.
A da gasolina é menor do que a do diesel, de R$ 0,24. O efeito do aumento do barril sobre ela pode ser mais sutil, pois o Brasil depende menos de importações diretas do produto e, hoje, a paridade do preço de importação não é o único parâmetro utilizado pela Petrobras para reajustar os valores nas distribuidoras. “Ele era até 2023, então naquela época qualquer oscilação internacional faria o preço oscilar aqui também. Como a Petrobras é exportadora, o aumento do preço também beneficia o faturamento dela. Mas importamos refinados, então a alta impacta principalmente o diesel”, reforça a diretora técnica do Ineep, Ticiana Álvares. Nesse cenário, ganha o etanol, que pode se tornar uma opção mais viável no Brasil.
Reflexos da crise do Irã além dos postos no Brasil
Um aumento expressivo do preço do diesel tem um efeito em cascata na inflação. O economista da consultoria LCA 4intelligence Bruno Imaizumi analisa que se a defasagem do preço do diesel e da gasolina impactaria o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. “Eles estão mais baratos aqui do que lá fora. Se [as defasagens] fossem zeradas, isso teria um impacto direto de 0,2 pontos percentuais no IPCA”, aponta.
O aumento mais perceptível seria no setor de transportes, mas a repercussão alcançaria outros também. “Encareceria preços de alimentos mais à frente. São efeitos indiretos por conta de custos de transporte por conta do diesel”, conclui Imaizumi.