O Copom (Comitê de Política Monetária) vê necessidade de juros mais altos por tempo ainda maior do que previa anteriormente diante de um cenário em que as expectativas de inflação seguem distantes da meta perseguida pelo Banco Central, mostrou ata divulgada nesta terça-feira (24).
No documento, mencionou cinco vezes o plano de manter a taxa de juros em um nível elevado durante um período "bastante prolongado". Na última quarta (18), o Copom decidiu, por unanimidade, elevar os juros em um ritmo menor, de 0,25 ponto percentual, subindo Selic a 15% ao ano.
Ao justificar a decisão, o colegiado avaliou que a atividade econômica ainda apresenta força, o que dificulta a convergência da inflação ao alvo e requer juros mais elevados.
A meta central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se ficar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto). O BC trabalha agora mirando a inflação do fim de 2026, conforme o sistema de avaliação contínua.
No boletim Focus divulgado às vésperas do encontro, na semana passada, os analistas projetavam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerraria 2025 acima da meta, em 5,25%, e ficaria no limite superior do intervalo de tolerância em 2026, em 4,5%. Para 2027, a estimativa mediana do mercado seguiu estacionada em 4%.
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,8% para 4,9%, ainda bastante acima do teto da meta. Para 2026, a estimativa se manteve em 3,6%.
Quanto à economia doméstica, disse ver sinais mistos com relação à desaceleração da atividade, mas observou "certa moderação" de crescimento. "O processo de moderação de crescimento segue ocorrendo, embora de forma bastante gradual", afirmou.
O comitê ponderou que o ciclo de alta até então executado foi "particularmente rápido e bastante firme", reforçando que grande parte do impacto dos juros sobre a economia ainda vai se materializar mais à frente dada a defasagem da política monetária.
O ciclo teve início em setembro do ano passado e até agora foram realizados sete aumentos consecutivos. A Selic acumulou elevação de 4,5 pontos percentuais nesse processo.
Assim como no comunicado, o colegiado do BC repetiu que prevê a interrupção do ciclo de alta da Selic no próximo encontro, em julho.
"A construção da confiança necessária para definir o patamar apropriado de restrição monetária ao longo do tempo passa por assegurar que os canais de política monetária estejam desobstruídos e sem elementos mitigadores para sua ação", disse.
Apesar de ter observado uma melhora no cenário internacional, como a reversão parcial das tarifas na guerra comercial aberta pelos Estados Unidos, disse que segue a visão preponderante de um cenário internacional ainda incerto e volátil.
De acordo com o colegiado, o conflito geopolítico no Oriente Médio e suas possíveis consequências sobre o mercado de petróleo também adicionam incerteza sobre o ambiente externo. Diante disso, o Copom falou em maior cautela na condução da política de juros.