A Bolsa brasileira disparou 1,34% nesta quinta-feira (3) e encerrou o pregão a 140.927 pontos. Trata-se de um novo recorde para o Ibovespa, desbancando a última marca de 140.109 pontos atingida no fechamento de 20 de maio deste ano.
No fechamento preliminar, quando as últimas operações do dia ainda não haviam sido processadas, a marca havia sido de 141.105, outro recorde para o Ibovespa.
O índice, em disparada desde a manhã, surfou no bom humor global após dados de emprego mais fortes que o esperado nos Estados Unidos afastarem temores de desaceleração econômica. Em Wall Street, o clima foi o mesmo: os índices S&P500 e Nasdaq também fecharam em recordes, tendo subido 0,83% e 1,02%, respectivamente. Dow Jones avançou 0,77%.
No mercado de câmbio, os movimentos foram menos acentuados, mas também positivos para os ativos brasileiros. O dólar fechou em queda de 0,22%, cotado a R$ 5,404, o menor valor em mais de um ano. A última vez que a moeda esteve neste patamar foi em 24 de junho de 2024, quando marcou R$ 5,391.
A sessão também foi pautada por negociações dos EUA com demais parceiros comerciais, conforme o fim do prazo para acordos tarifários se aproxima, e pelo impasse no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Os Estados Unidos abriram 147 mil vagas de emprego no mês passado, informou o relatório "payroll" (folha de pagamento, em inglês) nesta manhã. O dado representa uma aceleração ante as 144 mil abertas em maio e superou as expectativas de economistas consultados pela Reuters, que previam a criação de 110 mil postos.
A taxa de desemprego também caiu de forma inesperada, a 4,1%, ante projeção de alta para 4,3%.
O relatório sugeriu que o mercado de trabalho está em relativa estabilidade. Ao mesmo tempo, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego - outro indicador de empregabilidade por lá - recuaram para o menor nível em seis semanas na semana passada, para 233 mil. A expectativa era de 240 mil pedidos.
Os dados recalibraram parte das apostas sobre a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Até semana passada, uma porcentagem dos operadores acreditava que a autarquia poderia reiniciar o ciclo de cortes de juros, hoje na faixa de 4,25% e 4,5%, na próxima reunião, no fim do mês. Com o payroll, o mercado consolidou expectativas de que o primeiro corte irá acontecer no encontro de setembro.
"Até o momento não se vê sinais de impacto das tarifas sobre a economia americana, mas ainda não se pode eliminar a hipótese de que esse impacto aparecerá nos próximos meses. E é essa incerteza que manterá o Fed paralisado na próxima reunião", diz André Valério, economista sênior do Inter.
"Os dados antecedentes do mercado de trabalho sugerem que haverá um impacto negativo tardio no emprego e esperamos que o cenário se torne mais claro a tempo da reunião de setembro."
A expectativa sobre o corte em setembro se mantém mesmo se as tarifas não impactarem os indicadores de emprego e inflação. Segundo Valério, é possível que o Fed adote uma postura de "corta e espera", pulando a reunião de novembro e voltando a cortar em setembro.
"O alívio no dado estimulou também a tomada de riscos globalmente, o que beneficiou o Ibovespa e o real neste pregão", diz Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
O payroll foi publicado um dia antes do normal devido ao feriado do Dia da Independência dos Estados Unidos, em 4 de julho. Os mercados norte-americanos estão fechados desde 14h (horário de Brasília) desta quinta.
Além da agenda de dados, as negociações tarifárias em andamento dos EUA com parceiros comerciais também estiveram em foco, já que o fim do prazo imposto pelo presidente Donald Trump se aproxima. Os países têm até a próxima quarta-feira, 9 de julho, para traçar acordos com os Estados Unidos, a fim de evitar a imposição de tarifas de importação mais altas. Passado o prazo, a princípio, volta a incidir o tarifaço de 2 de abril.
Trump indicou na terça que não deve estender o período. Ao mesmo tempo, os acordos firmados durante esses 90 dias de trégua ainda estão aquém das expectativas.
"Tivemos um memorando mais formal de entendimento com o Reino Unido, que é muito restrito a alguns setores específicos, e uma trégua temporária com a China, que segue em negociação. Não tivemos grandes avanços, o que pode forçar Trump a estender o prazo", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX. Outro acordo com o Vietnã foi anunciado na véspera.
Alguns dos principais funcionários de comércio do governo estão abaixando a régua para alcançar o máximo de acordos possível, segundo reportagem do Financial Times. Apesar do plano simbolizar um recuo da promessa da Casa Branca, que visava 90 acordos durante os 90 dias, ele também oferece a chance de alguns países fecharem entendimentos mais modestos e que podem ser melhor desenvolvidos no futuro.
A busca do governo Trump é por um "princípio de acordo" com alguns países que já estão com negociações adiantadas, disseram quatro pessoas familiarizadas com o assunto. Os que concordarem com essas tratativas serão poupados das tarifas mais severas, mas ficarão com a taxa existente de 10% enquanto as negociações sobre questões mais espinhosas continuam. Já na cena doméstica, o IOF seguiu no centro das discussões.
Apesar da resistência de uma ala do governo e do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu brigar na Justiça pela reativação do decreto, derrubado pelo Congresso Nacional na semana passada.
A AGU (Advocacia-Geral da União) protocolou uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) na terça-feira. A ideia é questionar a constitucionalidade da decisão do Congresso, com base na análise técnica e jurídica.
"A avaliação técnica dos nossos advogados, e que foi submetida ao senhor presidente da República, foi que a medida adotada pelo Congresso Nacional acabou por violar o princípio da separação de Poderes", disse Jorge Messias, advogado-geral da União.