A pouco mais de 500 quilômetros de Belo Horizonte, Uberlândia - a segunda cidade mais populosa de Minas Gerais - tem se destacado na atração de novos empreendimentos residenciais e comerciais, se consolidado como um polo da construção civil. O município é o segundo do Estado com mais lançamentos no primeiro trimestre deste ano, ficando à frente, inclusive, da capital mineira e de Nova Lima.
O desempenho só não superou Contagem, na Grande BH, que lidera o ranking de novos canteiros de obras abertos entre janeiro e março. Balanço do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) mostrou que Uberlândia recebeu 1.009 projetos construtivos no período, contra 1.053 de Contagem. Belo Horizonte e Nova Lima, juntas, registraram 658 lançamentos.
O grande apelo em torno de Uberlândia se dá pela pujança econômica da cidade, mas também reflete a falta de espaço para novos empreendimentos na capital mineira. A economista-chefe do Sinduscon-MG, Iêda Vasconcelos, citou que no município do Triângulo Mineiro há uma grande demanda por residenciais da classe econômica, aliada a uma oferta de terrenos para erguer as edificações.
“Quando você lança um empreendimento de padrão econômico, são muitas unidades residenciais. Estamos falando de obras que podem ter 300 unidades. É o que acontece hoje com Uberlândia e Contagem, e em Belo Horizonte já é o contrário. O espaço é mais reduzido, temos pouca disponibilidade de terrenos”, sinalizou Iêda. O esgotamento territorial, segundo Vasconcelos, é acompanhado também por entraves legislativos na capital mineira e a vendas recordes em 2023 e 2024, quando BH somou mais de 14 mil lançamentos, de acordo com o Sinduscon.
“Em Belo Horizonte temos uma legislação urbana, um plano diretor totalmente restritivo. Além de pouco espaço disponível, não temos um adensamento e isso impede que o setor continue com um processo maior de incremento de lançamentos”, complementa. Em Uberlândia, por sua vez, a prefeitura citou que o plano diretor prevê o adensamento em áreas estruturadas da cidade para facilitar a atração de novos empreendimentos.
Atualmente, segundo o Executivo municipal, a construção civil é responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) de Uberlândia. De janeiro de 2024 a junho deste ano, o setor gerou quase 25 mil empregos na cidade. “Cada R$ 1 milhão investido no setor gera 24 empregos diretos e indiretos”, diz o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Fabiano Alves.
O secretário atribuiu o avanço construtivo na cidade à posição geográfica, na divisa com São Paulo, sendo um eixo logístico, com conexões rodoviárias, ferroviárias e aeroporto com vôos regionais e de carga. Fabiano Alves também diz que o crescimento populacional na cidade implica em mais construções. De acordo com o IBGE, a taxa de crescimento populacional na cidade é de 5,85%, acima da média nacional de 4,68%. “Com mais de 700 mil habitantes e taxa de crescimento acima da média nacional, a demanda por moradias, comércio e serviços é constante”, analisou.
Mercado investe milhões
O boom da construção civil em Uberlândia se materializa a partir de empreendimentos milionários. A Obramax, rede de atacarejo para materiais construtivos, está investindo cerca de R$ 140 milhões para construção de uma unidade no município, sob a expectativa de gerar 200 empregos diretos. A loja será a primeira da empresa em Minas, que já atua em outros endereços do Sudeste.
“Optamos por Uberlândia pela relevância econômica da cidade e de toda a região, conhecida como um dos maiores polos atacadistas e de distribuição de Minas Gerais. Acreditamos que esta nova unidade será um ponto estratégico de apoio para profissionais, empresas e consumidores finais e para começar a expansão da rede no estado”, disse o CEO da Obramax, Michael Reins.
Outra empresa com investimentos na cidade é a Perplan Incorporação, com a construção de residenciais de alto padrão. O gerente comercial da companhia, Gustavo Pereira, relatou que anualmente, nos próximos cinco anos, o grupo investirá R$ 250 milhões em Uberlândia. “Hoje existe um desejo aspiracional da população de ter um upgrade na moradia e estamos apostando nesses mercados”, contou ele, que vê mais vantagens de executar obras no município mineiro do que em cidades paulistas.
“Uberlândia tem se tornado uma cidade muito atrativa, ela tem um PIB per capita mais alto do que Ribeirão Preto, por exemplo, que é onde estamos sediados. É uma cidade com mais atrativos do que algumas cidades no interior de São Paulo, no que diz respeito à precificação do metro quadrado e ao desenvolvimento de novos projetos”, complementou.
Outras cidades também lucram
O avanço da construção civil não está restrito a Uberlândia. Outras cidades também têm demonstrado avanços no setor. João Monlevade, na região Central, receberá um aporte da Emcorp Incorporadora, que vai lançar o primeiro projeto residencial na cidade. Localizado no centro, o empreendimento oferece apartamentos de 1 ou 2 quartos com suíte, entre 31m² e 68m².
“Desenvolvemos espaços integrados, com soluções arquitetônicas que priorizam conforto e funcionalidade, atendendo tanto quem busca moradia própria quanto investidores”, explicou Pedro Ivo Vasconcelos, diretor da Emcorp.