As ações de bancos brasileiros tentam se reerguer no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) nesta quarta-feira (20) após registrarem fortes perdas na véspera, na esteira do novo desdobramento das tensões comerciais e políticas entre Brasil e Estados Unidos. Na terça-feira, o setor financeiro brasileiro acumulou perdas de R$ 41,3 bilhões em valor de mercado, com os principais papéis das instituições financeiras fechando em baixa. O rombo foi causado por uma sinalização do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que acenou para a possibilidade de punir instituições financeiras que aplicarem sanções contra Alexandre de Moraes, seu colega de corte.
A declaração foi dada em decisão sobre o rompimento da barragem de Mariana (MG), que, entre outras pontuações, considera que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se confirmadas pelo STF. A decisão respinga nas instituições financeiras por causa das ações do governo Donald Trump contra Moraes, alvo da Lei Magnitsky dos Estados Unidos que bloquei negócios de quem é considerado "inimigo" do Estado norte-americano.
Eduardo Gribler, gestor da MW, analisa que desde o início do dia de ontem (terça-feira, 29/8), o setor bancário registrava quedas expressivas. Isso, naturalmente, teve contágio para o resto do mercado, pela representatividade do setor no Ibovespa. "Esse movimento vem como resposta à decisão ministro Dino. Agora, a gente tem um cenário muito preocupante para os bancos, já que ou eles respeitam essa decisão ou arriscam retaliações como serem excluídos do Swift, a rede de pagamentos internacionais", explica.
O analista não acredita que os papéis dos bancos vão continuar sangrando nessa magnitude por mais tempo. "Quando a gente tem um evento relevante, como foi essa decisão do ministro Dino, o mercado precisa zerar diversas posições short. Então, isso causa algumas cascatas de liquidação que amplificam os movimentos. Isso não raro causa uma onda de liquidações no mercado". Em sua avaliação, pode ser uma oportunidade em comprar tais ações na baixa, mas há risco, como ocorre em operações no mercado de capitais.
"Dado que foi algo muito específico para um setor, ocorreu nesta terça (19), então sou obrigado a cobrir minha posição. Isso amplifica o efeito que já vinha ocorrendo. Diminuir esse movimento não quer dizer que os bancos irão bem daqui pra frente. O que aconteceu, de fato, é uma mudança bastante relevante para os diversos bancos que temos listados na Bolsa", completa o analista.
Sobre o Banco do Brasil, especificamente, esses eventos impactam mais, na avaliação de Gribler. O banco é mais sensível às ações do governo, seu principal acionista. De fato, as ações do Banco do Brasil não demonstram bons desempenhos há muito tempo. Em relatório enviado dia 20/08 para clientes que têm ações da instituição, o BB informou que a desvalorização dos papéis entre 31/07/204 e 31/07/2025 foi de 19,62%. No mês de julho, as perdas foram de 10,82%. Nos últimos três meses, a desvalorização foi mais acentuada:-30,76%. E, nos últimos seis meses, a queda foi de 26,18%.
João Sá, co-head de Investimentos da Arton Advisors, disse que o mercado vinha performando de forma positiva nas últimas semanas, ignorando alguns fatores externos relevantes, como questões envolvendo Estados Unidos, STF e sanções. O cenário tinha sido favorável para o Brasil, com o dólar próximo de R$ 5,40, o Ibovespa buscando os 140 mil pontos e a curva de juros bem comportada. "Além disso, os últimos resultados de grandes instituições financeiras — como BTG Pactual e Itaú — vieram acima das expectativas e sustentaram parte dessa boa performance, dado o peso que esses bancos têm dentro do índice", disse.
"De segunda (18) para quarta (20), no entanto, a escalada de tensões envolvendo o STF e as repercussões internacionais trouxeram bastante ruído. A decisão do ministro Flávio Dino, de que qualquer medida estrangeira precisaria passar pelo STF, gerou barulho adicional. Embora o Brasil não tenha de seguir leis americanas internamente, as empresas que operam lá fora — sobretudo os bancos — precisam se adequar também a esse ambiente jurídico, o que levanta riscos sobre operações internacionais e até mesmo licenças. Esse cenário explica por que o setor financeiro foi o mais pressionado na sessão da Bolsa na terça-feira (19)", explicou João Sá.