A exportação de soja brasileira para a China já dá sinais de crescimento para o segundo semestre, conforme esperado pelo mercado. De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o país asiático enxerga o Brasil como um fornecedor estável, diferente dos Estados Unidos, com quem vive uma relação comercial estremecida. “Esse movimento já vem direcionando maiores volumes da oleaginosa brasileira aos portos chineses e deve se intensificar nos próximos meses”, revela Jean Carlo Budziak, responsável pela área de inteligência de mercado da Anec.
Nesta quarta-feira (20/8), em nota enviada ao presidente Donald Trump, os produtores de soja dos EUA alegaram que a guerra tarifária inviabiliza as vendas à China e favorece a soja brasileira. “A safra dos Estados Unidos está prestes a ser colhida, e os produtores locais têm pressionado o governo”, comenta Budziak. “Embora os estoques chineses de grãos e farelo ainda estejam elevados, a ausência do fornecimento norte-americano tende a reduzi-los nas próximas semanas, abrindo espaço para maior demanda por soja brasileira e argentina”, afirma.
De acordo com o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Diego Bertuol, que está nos Estados Unidos para um programa da associação, as tarifas da China sobre a soja americana estão provocando uma estagnação de venda, segundo relatos dos próprios produtores. “Desde maio, a China não compra soja americana”, revela.
“Isso faz um alerta para eles, e, no Brasil, nós vemos que a China está comprando mais”, diz. O Mato Grosso é o maior estado exportador de soja no país. De acordo com Bertuol, só nos primeiros 20 dias de agosto, a exportação à China cresceu 15% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O Brasil já é um importante exportador de soja para a China. Tradicionalmente, por uma questão de safra, a China importa mais soja do Brasil no primeiro semestre do ano, e dos EUA no segundo. Conforme dados da Anec, só neste ano, a China respondeu por 77% das exportações brasileiras de soja acumuladas até julho - mês que registrou um crescimento de 27% nas exportações em relação ao mesmo período de 2024. Foram 9,6 milhões de toneladas da oleaginosa enviadas aos portos chineses em julho.
E esse aumento já acontece há algum tempo. Neste ano, de janeiro a julho de 2025, o Brasil exportou 77,2 milhões de toneladas da oleaginosa para o país asático - há cinco anos, o volume anual era de 35,3 milhões, segundo levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisado pelo Cepea.
Na análise de Diego Bertuol, para substituir a soja importada dos Estados Unidos, a China terá que negociar muito bem os valores com outros mercados. “Consequentemente a China vai ter que brigar com outros compradores, outros players, sejam internacionais ou mesmo o mercado nacional entre estados brasileiros, porque, se ela quiser, ela vai ter que pagar mais para conseguir levar essa soja que não vai sair dos EUA”, reflete, pontuando que a exportação dos EUA para a China passa de 25 milhões de toneladas anuais.
EUA x China
Estados Unidos e China vivem um abalo nas relações comerciais desde que Donald Trump anunciou aumento das taxas sobre os produtos chineses, e o país asiático respondeu com reciprocidade, iniciando uma guerra tarifária. A briga comercial chegou ao anúncio de aumentos de 145% para as tarifas dos EUA sobre produtos chineses e de 125% para as tarifas da China sobre produtos americanos, valores que ficaram suspensos por uma trégua, que deve se encerrar em novembro.
No início do mês, percebendo que a guerra afetaria as exportações de soja, em um post na rede Truth Social, Trump chegou a pedir à China que quadruplicasse as importações de soja americana - ao que o país asiático não respondeu.